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Hipermagreza domina passarelas da SPFW
Modelos muito esquálidas levam grifes
FERNANDA MENA
DA REPORTAGEM LOCAL
NINA LEMOS
COLUNISTA DA FOLHA
"Gente, o que é isso, essa menina está doente?" A frase, de
um fashionista sentado na primeira fila de um desfile da
SPFW, ilustra um espanto recorrente na atual edição do
evento: as modelos estão mais
magras do que nunca. Prova
disso é que estilistas estão tendo dificuldades em montar
seus "castings", fazem ajustes
de última hora e escolhem peças estratégicas que escondam
os ossos saltados das modelos.
Na SPFW da magreza radical brilham modelos na faixa dos
18 anos, que têm índice de massa corporal, calculado pela Folha, igual ao de crianças de 9 anos. No mundo dos adultos, a
Organização Mundial da Saúde chama esse índice de "magreza
severa".
A explicação vem da top Aline Weber, 21, que mora em Nova York e participou do filme
"Direito de Amar", de Tom Ford. "Três coleções atrás, no auge do pânico antianorexia, as pessoas pesavam as modelos no backstage para ver se elas
estavam saudáveis. Agora, a poeira baixou. Se você engorda
um pouco, todo mundo está ali
pra te julgar. Se você emagrece, falam que você está linda." Aline diz conhecer muitas meninas bulímicas e anoréxicas fora
do Brasil. "As russas são as piores", conta.
O stylist David Pollak identifica o padrão supermagro europeu como uma das causas da
onda que atinge a atual edição
da SPFW. "Muitas meninas estão trabalhando fora e por isso
estão supermagras. Estão dentro do padrão de Paris, que é esquelético."
A magreza radical fez com
que ele tivesse dificuldades na
hora de montar o "casting" da
Cavalera. "A marca tem uma
imagem mais adolescente, saudável. Por isso, peguei meninas
que não são badaladas [leia-se,
as que ainda não têm carreira
internacional]. Outros stylists
tiveram de fazer o improvável:
dispensar meninas de suas seleções porque elas estavam magras demais.
A onda tem feito eles inverterem uma antiga lógica da moda:
ao invés de avaliarem roupas
ideais para esconder, por
exemplo, um quadril mais largo, têm de descobrir os looks
que vão ocultar um corpo esquálido. "As meninas muito
magras causam problemas.
Seus ossos apontam num vestido de seda mais fluido. Ou seus
corpos, muito estreitos, deixam
a proporção toda estranha",
avalia o stylist Maurício Ianês.
Muito café
O estilista Reinaldo Lourenço não só percebe a hipermagreza das modelos desta temporada como também conta
que teve que fazer hora extra
por conta do fenômeno. "Tive
que fazer vários ajustes de última hora em roupas que ficaram
largas nas meninas, o que me
deu o maior trabalho", diz. Segundo ele, isso acontece porque
a atual safra de modelos é "muito jovem".
Nos camarins, longe da mesa
de salgadinhos e quitutes -relegada aos jornalistas-, modelos desfilam com copos de café.
"Identifico as mais magras como a turma do cafezinho, já que
elas passam o dia todo tomando café para não comer e ficarem ligadas", diz Pollak. Em entrevistas, elas escondem o peso
e as medidas. "Não sei quanto
peso. Nunca subo na balança",
disfarça uma delas.
Cristina Theiss, 18, jovem
aposta da Ford Models, teoriza:
"Para fazer passarela de inverno, precisa ser mais magrinha
mesmo, porque as roupas são
volumosas, enchem demais".
Para agências de modelos, o assunto ainda é tabu. Ou foi deixado de lado. "Magreza? Anorexia? Mas que assunto antigo, datado!", diz um agente, interrompendo a entrevista da Folha com uma modelo. Basta olhar para as passarelas para ver que não é.
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