São Paulo, terça-feira, 20 de fevereiro de 2001

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ANÁLISE

Edição se mantém como vitrine de lançamentos americanos

LEON CAKOFF
EM BERLIM

Como sempre, foi um excelente festival, variado e para todas as platéias. Berlim continua fiel à sua vocação de vitrine dos grandes lançamentos americanos da temporada, que acabam coincidindo com as esperadas indicações para o Oscar, provocando a presença de suas grandes estrelas e fazendo a festa das novas mídias que veneram mais a imagem do que o conteúdo.
O festival, em sua 51ª edição, também é fiel à ditadura do mercado alemão, que garante ao cinema americano 80% dos lançamentos anuais nos cinemas, restando 12,5% para a produção local e apenas 7,5% para os filmes do resto do mundo.
Fritz Lang completo foi o tema da retrospectiva que teve o seu momento máximo com a exibição de "Metrópolis", de 1925, com uma nova partitura de Bernd Schultheis. Kirk Douglas, presente para ser homenageado, louvou indiretamente o grande Stanley Kubrick, que o dirigiu em "Glória Feita de Sangue", de 1957, e "Spartacus", de 1960. Kubrick foi celebrado no documentário de seu cunhado Jan Harlan "Stanley Kubrick: A Life in Pictures" e encerrou o festival com uma nova cópia em 70 mm de "2001 - Uma Odisséia no Espaço".
O grande destaque foi o canadense "Maelström", um segundo filme de Denis Villeneuve, bem referendado pelo prêmio Fipresci, da crítica internacional, que teve como um de seus nove jurados o articulista da Folha Amir Labaki.
"Maelström" é uma narrativa fantástica do ponto de vista de um grande peixe ártico que agoniza na tábua de corte de uma peixaria. Sua personagem (Marie-Josée Croze) é uma fabulosa herdeira de uma marca de confecções que tem sua vida à deriva. A fatalidade, os peixes, pescadores, peixaria, nada a ver com o seu mundo moderno e fútil, serão os elementos que vão servir para resgatá-la da depressão suicida.
Judeus e homossexuais dividiram este ano com uma oportuna e nova corrente que permite ao cinema documentar as metamorfoses de Berlim, da sua arquitetura à cabeça de seus habitantes. Dois filmes se destacaram nessa Panorama: o documentário "Berlin Babylon", de Hubertus Siegert, que foca o imenso canteiro de obras em que a cidade se transformou com a unificação; e a comédia "Berlim Fica na Alemanha", de Hannes Stöhr, de um sentenciado da ex-República Democrática Alemã que volta à liberdade depois de 11 anos de prisão.
Na seleção paralela do Fórum, um tema fértil e inesgotável como com judeus e homossexuais encontrou no documentário americano "Trembling Before G-d", de Sandi Simcha DuBowski, a sua síntese mais do que perfeita. Nele são judeus ortodoxos que saem do armário, gays e lésbicas diante do dilema de conciliar suas devoções ao fundamentalismo religioso com a cólera bíblica ao homossexualismo.
A competição teve Hector Babenco como jurado de destaque e uma seleção melhor que a de anos anteriores. Os melhores foram o chinês "Beijing Bicycles" (Bicicletas de Pequim), de Wang Xiao-shuai, e o anglo-italiano "Intimacy" (Intimidade), de Patrice Chéreau. "Beijing Bicycles" é o primeiro de seis filmes sobre a juventude em quatro capitais asiáticas em mutação -Pequim, Taiwan, Xangai e Hong Kong.
O segundo, "Betelnut Beauty", de Ling Chin-sen (Taiwan), também na competição, cativou pela atuação da bela Angelica Lee.
Muitos outros bons momentos da competição foram oferecidos pelo argentino "La Ciénaga" (co-produção com a Riofilme), da estreante Lucrecia Martel, que trata da decadência moral e da crise econômica ao invadir com delicadeza a intimidade de uma família no norte da Argentina.
A abertura de "Enemy at the Gates", de Jean-Jacques Annaud, ao custo de US$ 90 milhões, ficará indelével na memória, com a carnificina das batalhas de Stalingrado na Segunda Guerra Mundial. O francês "A Ma Soeur", da sexualmente explícita Catherine Breillat, pela sedução de suas duas atrizes adolescentes Anaïs Reboux e Roxane Mesquida.
Belíssimo ainda o espanhol "Una Historia de Entonces", de José Luis Garci. Corajoso e original o crítico e corrosivo "Bamboozled", de Spike Lee.



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