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ANÁLISE
Edição se mantém como vitrine de lançamentos americanos
LEON CAKOFF
EM BERLIM
Como sempre, foi um excelente festival, variado e para
todas as platéias. Berlim continua
fiel à sua vocação de vitrine dos
grandes lançamentos americanos
da temporada, que acabam coincidindo com as esperadas indicações para o Oscar, provocando a
presença de suas grandes estrelas
e fazendo a festa das novas mídias
que veneram mais a imagem do
que o conteúdo.
O festival, em sua 51ª edição,
também é fiel à ditadura do mercado alemão, que garante ao cinema americano 80% dos lançamentos anuais nos cinemas, restando 12,5% para a produção local e apenas 7,5% para os filmes
do resto do mundo.
Fritz Lang completo foi o tema
da retrospectiva que teve o seu
momento máximo com a exibição de "Metrópolis", de 1925, com
uma nova partitura de Bernd
Schultheis. Kirk Douglas, presente para ser homenageado, louvou
indiretamente o grande Stanley
Kubrick, que o dirigiu em "Glória
Feita de Sangue", de 1957, e "Spartacus", de 1960. Kubrick foi celebrado no documentário de seu
cunhado Jan Harlan "Stanley Kubrick: A Life in Pictures" e encerrou o festival com uma nova cópia
em 70 mm de "2001 - Uma Odisséia no Espaço".
O grande destaque foi o canadense "Maelström", um segundo
filme de Denis Villeneuve, bem
referendado pelo prêmio Fipresci,
da crítica internacional, que teve
como um de seus nove jurados o
articulista da Folha Amir Labaki.
"Maelström" é uma narrativa
fantástica do ponto de vista de um
grande peixe ártico que agoniza
na tábua de corte de uma peixaria.
Sua personagem (Marie-Josée
Croze) é uma fabulosa herdeira
de uma marca de confecções que
tem sua vida à deriva. A fatalidade, os peixes, pescadores, peixaria, nada a ver com o seu mundo
moderno e fútil, serão os elementos que vão servir para resgatá-la
da depressão suicida.
Judeus e homossexuais dividiram este ano com uma oportuna e
nova corrente que permite ao cinema documentar as metamorfoses de Berlim, da sua arquitetura à
cabeça de seus habitantes. Dois
filmes se destacaram nessa Panorama: o documentário "Berlin
Babylon", de Hubertus Siegert,
que foca o imenso canteiro de
obras em que a cidade se transformou com a unificação; e a comédia "Berlim Fica na Alemanha",
de Hannes Stöhr, de um sentenciado da ex-República Democrática Alemã que volta à liberdade
depois de 11 anos de prisão.
Na seleção paralela do Fórum,
um tema fértil e inesgotável como
com judeus e homossexuais encontrou no documentário americano "Trembling Before G-d", de
Sandi Simcha DuBowski, a sua
síntese mais do que perfeita. Nele
são judeus ortodoxos que saem
do armário, gays e lésbicas diante
do dilema de conciliar suas devoções ao fundamentalismo religioso com a cólera bíblica ao homossexualismo.
A competição teve Hector Babenco como jurado de destaque e
uma seleção melhor que a de anos
anteriores. Os melhores foram o
chinês "Beijing Bicycles" (Bicicletas de Pequim), de Wang Xiao-shuai, e o anglo-italiano "Intimacy" (Intimidade), de Patrice
Chéreau. "Beijing Bicycles" é o
primeiro de seis filmes sobre a juventude em quatro capitais asiáticas em mutação -Pequim, Taiwan, Xangai e Hong Kong.
O segundo, "Betelnut Beauty",
de Ling Chin-sen (Taiwan), também na competição, cativou pela
atuação da bela Angelica Lee.
Muitos outros bons momentos
da competição foram oferecidos
pelo argentino "La Ciénaga" (co-produção com a Riofilme), da estreante Lucrecia Martel, que trata
da decadência moral e da crise
econômica ao invadir com delicadeza a intimidade de uma família
no norte da Argentina.
A abertura de "Enemy at the
Gates", de Jean-Jacques Annaud,
ao custo de US$ 90 milhões, ficará
indelével na memória, com a carnificina das batalhas de Stalingrado na Segunda Guerra Mundial.
O francês "A Ma Soeur", da sexualmente explícita Catherine
Breillat, pela sedução de suas duas
atrizes adolescentes Anaïs Reboux e Roxane Mesquida.
Belíssimo ainda o espanhol
"Una Historia de Entonces", de
José Luis Garci. Corajoso e original o crítico e corrosivo "Bamboozled", de Spike Lee.
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