São Paulo, sexta-feira, 20 de fevereiro de 2004

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ERIKA PALOMINO

CARNAVAL, ESCAPISMO E O PLANETA FASHION

É tempo de esquentar os tamborins. No Brasil, diversão é coisa séria, e a hora é de tirar a roupa. No país do Carnaval, a fantasia ocupa, agora, o lugar da moda. Como nenhum outro povo do planeta, mostramos nossos corpos bronzeados, seguros, autoconfiantes. Somos sexy, sim, mesmo sem tentar. Começa agora a verdadeira temporada de alto verão. Quem será a mais glamourosa rainha da bateria/supermodel? Quem será a modelo revelação da avenida? Qual o topless mais absurdo -e tanto faz ter ou não silicone. O país pega fogo e nada mais importa. Que importa se na distante Londres a grega Sophia Kokosalaki se entrega a uma silhueta futurista, como uma armadura contemporânea, aplaudida por seu padrinho, Alexander McQueen -que, aliás, jogou um belo thank you very much para um possível convite para o lugar de Tom Ford. São os desfiles de inverno 2004/ 2005, recheio da estação, que volta a mobilizar as atenções do povo da moda a partir de segunda-feira, em Milão. Mas no país do baticum, quem se importa? O furacão dionisíaco toma conta de tudo, pernas de fora. Enquanto isso, na Europa da moda, a contagem regressiva é para o fim do inverno -e para o desfile da Saint Laurent, claro, dia 7 de março, quando se encerram os trabalhos desta conturbada e (até aqui) entediante temporada. Na era do escapismo, dentro e fora da moda, o Carnaval continua o melhor desfile de todos.

MODA PARA QUEM PRECISA
Moda é mudança. Por isso é tão importante perceber seus sinais, estar atento ao novo, à passagem dos tempos, às pistas emitidas aqui e ali no mundo das imagens, na vida real, no dia a dia. Qual a relevância hoje da moda vinda das passarelas? Certamente muito menor do que há cinqüenta anos. O grande sistema da moda, com seu constante vaivém, encontra-se em ansiosa mutação. E vai perder o bonde da história quem deixar passar seu momento. A Comme des Garçons abre em Berlim uma loja kamikaze, feita para durar apenas um ano. Concebida dentro do conceito de guerrilla, a nova loja de Rei Kawakubo comeu apenas US$ 2,5 mil na reforma. Não tem placa na porta. Para divulgar, 600 lambe-lambes espalhados pela cidade. É uma maneira de tentar novas experiências para o varejo, um dos (poucos) caminhos restantes ao consumo. Em Londres, o desinteresse pelas passarelas é tamanho que muitos designers foram mostrar em outras cidades, como Milão ou mesmo Los Angeles, em sua emergente fashion week. Em Nova York, Miguel Adrover confortavelmente prepara uma coleção por ano. Desfile não é tudo -o que não é o que prega a incipiente cultura de moda brasileira. A moda tomou conta de todas as mídias -da TV, da internet, dos jornais. Está em toda parte, sentenciou Cathy Horyn, do "New York Times". O risco, segundo ela, é a banalização do nosso olhar. Como diferenciar o incrível do apenas belo? De repente, os looks da sensacional Beyoncé são mais relevantes do que qualquer noticiário, de desfile ou hardnews. Qual a relevância, afinal, da moda? De quantas modas falamos? A moda não vem apenas das passarelas. Está no brocado sobre a pele negra da passista, na assepsia cara do luxo da Prada.

EM QUE PÉ ESTÁ A TEMPORADA
O que você precisa saber, então: que do caldão de NY, a imprensa americana continua bajulando Ralph Lauren, mas chochou os novos darlings da Proenza Schouler, dupla de estilistas protegidos da "Vogue" América (viu, eles também protegem). Torcemos um pouco o nariz para Marc Jacobs, que todo mundo achou meio Prada. O brasileiro Francisco Costa, na Calvin Klein, mandou as modelos para as camas de bronzeamento artificial e deu ao mundo a imagem de Natalia e Carmen Kass, exclusivas da marca, com vestes de cetim marrom. É a tentativa do estilista de criar um estilo mais sensual, ainda que dentro dos padrões de Calvin Klein. Outro brasileiro, Carlos Miele, continua bem avaliado pela mídia global, elogiado por Suzy Menkes por sua coleção latina. Zuuum: falando de novo em Londres, Clements Ribeiro, do brasileiro Inacio Ribeiro, fez um descompromissado vintage à mineira, e a ilustradora new-dirty Julie Verhoeven caminha dentro da Gibo, mas quem arrasou mesmo foi a Boudicca. Eles dizem que foi o mais emocionante e conceitual desfile na London Fashion Week desde a saída de McQueen da cidade. Será? Que comece Milão com datas apertadas e os desfiles importantes no início da semana para não bater com o Oscar. Não falei que a moda está mudando?

@ - palomino@uol.com.br

na noite ilustrada...
É Carnaval e os clubes preparam noites especiais. O famoso Carnaval do Basfond rola de hoje a terça na r. Lisboa, 509, com o tema Hollywood. Nos mesmos dias também tem Carnaval na Level. Sábado tem carnaval eletrônico no Lov.e com Doctor, Tech Jun e live act de Phillip Braunstein; a festinha Colors rola no Supper Club com Mauricio Lopes; Anderson Noise toca no animado Sirena; no Susi in Transe tem noite de tecno com Roger Rabbit e DJ França; no domingo o top Patife toca no Sirena; quem gosta rock se joga na Hype my Ass, no Black Box, com o Tiago Carandina ou então vá à 2Bits, no Atari, que tem os DJs Kid Vinil, Click mais show do Blue Afternoon. No domingo a tarde rola o Gonna Summer, no Inconfidência (r.Minas Gerais, 181). Na segunda tem Smartbiz Party no Ampgalaxy com Pil Marques e Gil Barbara; enquanto o Sirena recebe o top Renato Cohen

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