São Paulo, sexta-feira, 20 de fevereiro de 2004

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Recarga elétrica

Das principais bandas do novo cenário rock, The Vines abandona adolescência em álbum

LÚCIO RIBEIRO
COLUNISTA DA FOLHA

Não é preciso ficar com medo e correr para baixar o volume na hora de pôr para tocar o novo disco da explosiva banda australiana The Vines, que chega às lojas no mês que vem.
"Winning Days", o segundo CD do grupo do "difícil" guitarrista e vocalista Craig Nicholls, está longe da eletricidade adolescente que emanava do primeiro álbum, "Highly Evolved".
"É que o novo disco está mais psicodélico, mais bem trabalhado", justificou o baixista do grupo, Patrick Matthews, em entrevista à Folha, por telefone, de Nova York.
"A maioria das músicas do disco novo são daquelas de ouvir com os olhos fechados, imaginando figuras coloridas", disse Matthews, o sujeito incumbido de segurar a barra das intempéries de Nicholls.
São famosas as crises temperamentais do vocalista. Um exemplo: certa vez, durante uma entrevista ao semanário britânico "New Musical Express", levantou-se da cadeira, correu a um banheiro e lá ficou por cerca de três horas; e são raros os shows em que sua guitarra sai intacta.
O CD de estréia do Vines, "Highly Evolved", chegou na música pop como um furacão, em 2002. A banda e seu disco début entraram pela porta do novo rock, aberta no ano anterior pelo levante norte-americano The Strokes e White Stripes.
O grito e a guitarra estridente de Craig Nicholls fez-se ouvir da Austrália, sinal da globalização deste novo rock, totalmente avalizado pela geração internet, a geração Napster, Audiogalaxy e Soulseek, dois dos programas mais bem-sucedidos de trocas de arquivos em MP3.
O cheiro de espírito adolescente de Nicholls levou o Vines à categoria rotular de "novo Nirvana". Seu look loirinho despenteado à la Kurt Cobain, seu comportamento autodestrutivo e as músicas ora calmas ora inaudíveis logo invadiram a MTV.
De lá para a exaustiva turnê mundial de ano e meio, para a capa da revista britânica "The Face" (em que foi retratado como o "Jesus" do rock, por seu caráter de "mártir adolescente") até destruição do cenário do entrevistador de TV norte-americano americano David Letterman foi um pulo.
O caminho do Vines foi mesmo a destruição. A banda desapareceu no começo do ano passado, depois que Nicholls e o baixista Matthews rolaram em uma briga em pleno palco, durante um show em Boston.
Depois de quase um ano de reclusão, o Vines volta agora ao noticiário pop com o segundo álbum, este manso "Winning Days", que será lançado no final de março nos EUA e no Brasil, puxado pelo single "Ride". Curiosamente, ao contrário da toada do disco, esta é a música mais raivosa do CD.
"Ride", cujo videoclipe estreou nesta semana nas MTVs européia e americana, é inferior em qualidade, ritmo e inspiração aos sucessos do primeiro disco, as explosivas "Get Free" e "Highly Evolved". Mas, feita para ser hit, já atingiu seu principal objetivo: está tocando muito nas rádios.

E agora?
A questão, depois que o disco sair às ruas e a banda à estrada para mais shows, é quanto tempo vai levar para Craig Nicholls liberar sua verve cobainiana. Só ele para botar o disco novo na tomada e devolver o gás juvenil que encantava no Vines.
O baixista Patrick Matthews, que constantemente (e literalmente) sofre golpes de kung fu dados por Nicholls durante as famosas apresentações da banda, diz na entrevista ao lado que o companheiro está mais calmo. "Os remédios estão dando certo", ele brinca.
O melhor talvez fosse maneirar essa medicação de Nicholls. Não iria sobrar um instrumento inteiro aos finais dos shows da banda, como na turnê anterior. Mas pelo menos o Vines não iria malograr tão feio logo no segundo disco.


Winning Days
  
Artista: The Vines
Lançamento: EMI (previsto para o final de março)
Quanto: R$ 35, em média



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