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Recarga elétrica
Das principais bandas do novo cenário rock, The Vines abandona adolescência em álbum
LÚCIO RIBEIRO
COLUNISTA DA FOLHA
Não é preciso ficar com medo
e correr para baixar o volume na hora de pôr para tocar o
novo disco da explosiva banda
australiana The Vines, que chega
às lojas no mês que vem.
"Winning Days", o segundo CD
do grupo do "difícil" guitarrista e
vocalista Craig Nicholls, está longe da eletricidade adolescente que
emanava do primeiro álbum,
"Highly Evolved".
"É que o novo disco está mais
psicodélico, mais bem trabalhado", justificou o baixista do grupo, Patrick Matthews, em entrevista à Folha, por telefone, de Nova York.
"A maioria das músicas do disco novo são daquelas de ouvir
com os olhos fechados, imaginando figuras coloridas", disse Matthews, o sujeito incumbido de segurar a barra das intempéries de
Nicholls.
São famosas as crises temperamentais do vocalista. Um exemplo: certa vez, durante uma entrevista ao semanário britânico
"New Musical Express", levantou-se da cadeira, correu a um banheiro e lá ficou por cerca de três
horas; e são raros os shows em
que sua guitarra sai intacta.
O CD de estréia do Vines,
"Highly Evolved", chegou na música pop como um furacão, em
2002. A banda e seu disco début
entraram pela porta do novo
rock, aberta no ano anterior pelo
levante norte-americano The
Strokes e White Stripes.
O grito e a guitarra estridente de
Craig Nicholls fez-se ouvir da
Austrália, sinal da globalização
deste novo rock, totalmente avalizado pela geração internet, a geração Napster, Audiogalaxy e Soulseek, dois dos programas mais
bem-sucedidos de trocas de arquivos em MP3.
O cheiro de espírito adolescente
de Nicholls levou o Vines à categoria rotular de "novo Nirvana".
Seu look loirinho despenteado à
la Kurt Cobain, seu comportamento autodestrutivo e as músicas ora calmas ora inaudíveis logo
invadiram a MTV.
De lá para a exaustiva turnê
mundial de ano e meio, para a capa da revista britânica "The Face"
(em que foi retratado como o "Jesus" do rock, por seu caráter de
"mártir adolescente") até destruição do cenário do entrevistador
de TV norte-americano americano David Letterman foi um pulo.
O caminho do Vines foi mesmo
a destruição. A banda desapareceu no começo do ano passado,
depois que Nicholls e o baixista
Matthews rolaram em uma briga
em pleno palco, durante um show
em Boston.
Depois de quase um ano de reclusão, o Vines volta agora ao noticiário pop com o segundo álbum, este manso "Winning
Days", que será lançado no final
de março nos EUA e no Brasil, puxado pelo single "Ride". Curiosamente, ao contrário da toada do
disco, esta é a música mais raivosa
do CD.
"Ride", cujo videoclipe estreou
nesta semana nas MTVs européia
e americana, é inferior em qualidade, ritmo e inspiração aos sucessos do primeiro disco, as explosivas "Get Free" e "Highly
Evolved". Mas, feita para ser hit, já
atingiu seu principal objetivo: está
tocando muito nas rádios.
E agora?
A questão, depois que o disco
sair às ruas e a banda à estrada para mais shows, é quanto tempo
vai levar para Craig Nicholls liberar sua verve cobainiana. Só ele
para botar o disco novo na tomada e devolver o gás juvenil que encantava no Vines.
O baixista Patrick Matthews,
que constantemente (e literalmente) sofre golpes de kung fu
dados por Nicholls durante as famosas apresentações da banda,
diz na entrevista ao lado que o
companheiro está mais calmo.
"Os remédios estão dando certo",
ele brinca.
O melhor talvez fosse maneirar
essa medicação de Nicholls. Não
iria sobrar um instrumento inteiro aos finais dos shows da banda,
como na turnê anterior. Mas pelo
menos o Vines não iria malograr
tão feio logo no segundo disco.
Winning Days
Artista: The Vines
Lançamento: EMI (previsto para o final
de março)
Quanto: R$ 35, em média
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