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TELEVISÃO
Para acadêmicos, grande número de personagens nordestinos, negros e homossexuais é estratégia comercial
"Excluídos" invadem o horário nobre
ISABELLE MOREIRA LIMA
DA REPORTAGEM LOCAL
Para bom observador, meia novela basta: 2005 é o ano da ação
afirmativa na televisão brasileira.
Na faixa de maior audiência da
Globo, a "Senhora do Destino" é
uma nordestina. Uma hora mais
tarde, com o "Big Brother Brasil
5", os telespectadores podem
acompanhar o confinamento de
um grupo de 12 pessoas, entre eles
três negros e cinco nordestinos,
sendo um homossexual. Em outros canais, o cenário não é diferente. Ao mudar de canal, ainda
durante a noite, encontra-se desde o drama colonial "A Escrava
Isaura" (Record) até a melodramática "Esmeralda" (SBT), ambas com negros no elenco.
Para estudiosos ouvidos pela
Folha, a maior presença na TV de
grupos da sociedade considerados excluídos é óbvia e tem explicação, principalmente comercial.
"Uma segmentação de mercado,
que acontece com viés democrático", como explica o antropólogo e
professor da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo Edmilson Felipe. A imagem dos grupos hoje é menos caricatural do
que a mostrada há uma década,
mas ainda tem estereótipos.
"Não há representação positiva
do negro na TV em papéis como
advogado, médico, empresário. A
televisão ainda peca por isso",
afirma a doutora em antropologia
social pela Universidade de São
Paulo Eliana Oliveira. Para ela, há
uma mudança, mas ainda não é
suficiente pelo contingente da população negra. "Os papéis dos negros são sempre inferiores, de
submissão. Há grandes talentos, é
preciso observar a diversidade."
Para o antropólogo da Universidade de Brasília José Jorge Carvalho, autor da proposta de cotas da
instituição, o tipo de inclusão racial feito nas novelas é conservador e não-revolucionário porque
isola um núcleo negro do resto
dos personagens das tramas. "Na
TV, [a inclusão] é a conta-gotas e,
se continuar assim, pode acontecer um efeito perverso. A TV fica
mais racista", diz. Ele cita o caso
de Taís Araújo em "Da Cor do Pecado". "É uma negra no papel
principal, mas é a negra no papel
sensual, não é uma cirurgiã."
Quando o "excluído" em questão é homossexual, as críticas não
são diferentes. A doutora em comunicação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro Cida de
Sousa acredita que apenas os personagens estereotipados são bem
aceitos. "Todas as novelas que trataram do tema de forma estereotipada não causaram problemas.
Quando o homossexual é normal,
aí é complicado", diz. "As garotas
[casal de lésbicas de "Senhora']
não estão incomodando porque o
foco não recai sobre elas", diz.
Sousa também aponta problemas na construção da imagem do
nordestino causada pela falta de
pesquisa. Para a professora, o
contexto da TV pede a inserção de
todos os grupos. "Mas ela faz isso
da maneira menos inteligente,
dentro da cultura do estereótipo",
afirma, lembrando "Tropicaliente" (1994), em que os atores cearenses "falavam de uma forma
que ninguém fala no Ceará".
Maria do Carmo e Lula
O antropólogo Edmilson Felipe,
no entanto, vê um lado bom no
"boom" da nordestinidade na
TV, liderado por Maria do Carmo, personagem de Suzana Vieira em "Senhora do Destino".
"A figura do nordestino que
venceu pode ser uma coisa positiva. Há a idéia da força, de continuar batalhando, de não desistir
das coisas. É jogar um pouco isso,
que também é a trajetória do Lula,
um predestinado, que sofreu a vida inteira, um analfabeto, mas
que hoje é o presidente. É um
alento para as pessoas."
Mas Felipe faz uma ressalva:
"Óbvio que nós sabemos que
[vencer] é uma coisa muito difícil
porque há preconceitos e problemas, mas acredito que a personagem passa uma mensagem muito importante da figura ética".
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