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"... E O VENTO LEVOU" Cheio de documentários, lançamento reúne 5 horas de extras
Edição consagra bastidores do clássico "filme de produtor"
PEDRO BUTCHER
CRÍTICO DA FOLHA
1939 foi um ano mítico em
Hollywood, o que se refletiu na
histórica cerimônia do Oscar de
1940, que teve indicados "No
Tempo das Diligências", de John
Ford, "O Morro dos Ventos Uivantes", de William Wyler, "A
Mulher Faz o Homem", de Frank
Capra, "Ninotchka", de Ernst Lubitsch, "O Mágico de Oz", de Victor Fleming, e o grande vencedor,
com oito Oscar e dois prêmios
técnicos especiais, "... E o Vento
Levou", também de Fleming.
É um naipe de filmes de arregalar os olhos sob qualquer ponto
de vista. Esteticamente, "... E o
Vento Levou" perdia para todos,
mas não segundo os critérios que
interessavam (e ainda interessam) a Hollywood. Foi o melhor
filme do ano por tudo o que representou para o cinema americano como indústria, e seu autor,
pela lógica, não foi o diretor, mas
o produtor David O. Selznick.
"... E o Vento Levou" é o exemplo máximo do "filme de produtor", em oposição à categoria do
"filme de autor", consagrada pela
leitura revolucionária do cinema
americano feita pelos franceses
no fim dos anos 50. Tanto que três
diretores diferentes passaram pelo set deste épico: George Cukor
(que se desentendeu com o astro
Clark Gable e com Selznick), depois Victor Fleming (que teve um
colapso antes do fim das filmagens) e, enfim, Sam Wood.
Selznick foi a figura-chave. Gênio da propaganda, criou o mito
"... E o Vento Levou". Soube fazer
de sua criatura um fenômeno de
marketing desde o berço. As lendas que cercam a produção se
acumularam a ponto de o "em
torno" ter se tornado mais interessante e importante que o filme.
Ganharam igual importância os
memorandos emitidos por Selznick entre maio de 1936 e outubro
de 1941, que serviram de fonte para o documentário "O Making Of
de uma Lenda", uma das principais atrações desta nova edição.
Assistir a "O Aviador", de Martin Scorsese, e em seguida ver os
documentários de "... E o Vento
Levou" talvez seja a melhor forma
de compreender a Hollywood da
época, movida pelo risco e pelo
desejo de produtores-generais.
Cada uma a seu modo, essas duas
obras lançam luz sobre os tempos
de hoje, ao mostrar que a cultura
do marketing e da celebridade
não é criatura do século 21.
A caixa traz dois discos com
mais de cinco horas de extras. O
primeiro concentra os documentários em torno da realização do
filme, com destaque para making
of realizado em 1989. Há, ainda,
um documentário sobre o delicado processo de restauração, um
cinejornal sobre a pré-estréia na
cidade de Atlanta, cenas dubladas
em várias línguas e um curta chamado "The Old South", dirigido
por Fred Zinnemann, feito para
passar nos Estados que não estavam familiarizados com a cultura
sulista e, assim, "preparar" o público para o longa em si.
O outro disco concentra-se no
elenco, com documentários sobre
Gable e Leigh, um com depoimento de Olivia de Havilland e
outro que junta a história dos atores coadjuvantes.
... E o Vento Levou (edição de
colecionador)
Direção: Victor Fleming Lançamento: Warner; R$ 100
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