São Paulo, segunda-feira, 20 de fevereiro de 2006

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Copacabana enfrenta ressaca após o show

DA SUCURSAL DO RIO

Os catastrofistas perderam, mas os otimistas devem comemorar com moderação. O show dos Rolling Stones, que levou à praia de Copacabana mais de 1 milhão de pessoas -1,2 milhão segundo a Polícia Militar; 1,3 milhão para o Corpo de Bombeiros- anteontem, não teve mortes ou grandes tumultos, mas também esteve longe de ser uma ode à harmonia.
O cenário era devastador: lixo em abundância, cheiro de urina, pessoas caídas no chão -incluindo crianças- e ônibus superlotados. A Prefeitura do Rio e os promotores não conseguiram resolveram uma questão fundamental: como fazer com que as ambulâncias deixassem Copacabana com rapidez. Elas ficavam paradas no engarrafamento da avenida Nossa Senhora de Copacabana, a única saída do bairro, já que as duas pistas da orla estavam lotadas. Se houvesse gente em estado grave, poderiam ter morrido.
"Alguém pode ter gostado [do show], mas para nós foi um inferno", afirmou o chefe do Estado Maior do Corpo de Bombeiros, coronel Marcos Silva. "Não havia uma via expressa para sairmos, tínhamos dificuldade de chegar até as vítimas", disse.
Os bombeiros fizeram 600 atendimentos, a maioria por excesso de bebida. Três homens foram esfaqueados, mas estão fora de perigo. Nos quatro postos montados pela secretaria municipal de Saúde, houve 478 atendimentos, incluindo um traumatismo craniano, um infarto e um edema pulmonar. Um barco virou, e quatro pessoas foram resgatadas. Ainda houve 230 ocorrências registradas nas delegacias.
Para a promotora Denise Tarin, do Ministério Público, o esquema da Prefeitura fracassou, especialmente a CET-Rio (Companhia de Engenharia de Tráfego), por não ter criado "vias de fuga". "Vamos pedir relatórios de todas as empresas públicas envolvidas. E avaliar se é o caso de outro show na praia em março", disse ela, referindo-se a uma possível comemoração do aniversário da cidade.
"A avaliação que faço é boa. Tudo correu em paz, tanto na questão do trânsito quanto na de segurança", afirmou Marcos Paes, presidente da CET-Rio. O prefeito Cesar Maia ressaltou as diferenças entre o show dos Stones e o Réveillon para aprovar o show, no qual a prefeitura investiu US$ 750 mil (mais de R$ 1,5 milhão). "No Réveillon, as pessoas chegam quase em cima do evento. No de ontem, começaram a chegar 24 horas antes. No Réveillon, as pessoas saem aos poucos. No de ontem, saíram ao mesmo tempo. Levando isso em conta, eu diria que foi um evento perfeito. Recebeu mais de cinco vezes o público do Woodstock e o dobro do Papa", disse ele.
Em meio ao tumulto, muitas pessoas tiveram carteiras roubadas e documentos perdidos. Na cabine da Polícia Militar, ao lado do Copacabana Palace, estavam cerca de 200 documentos de identidade, CPF, cartões de crédito etc. Na manhã de ontem, a 12ª Delegacia Policial, em Copacabana, ficou lotada. Pessoas procuravam seus documentos e deram queixas de roubo.
(LUIZ FERNANDO VIANNA, TALITA FIGUEIREDO E MICHELLE STRZODA)

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