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CINEMA/ESTREIAS
Sean Penn revive ativista gay
"Milk", de Gus Van Sant, indicado a oito Oscars, conta história de militante eleito e assassinado nos EUA
Cineasta diz que "questão financeira" levou à escolha de elenco hetero para papéis gays e que história de Milk o influenciou a "sair do armário"
SILVANA ARANTES
ENVIADA ESPECIAL A LOS ANGELES
Em "Milk - A Voz da Igualdade", de Gus van Sant, que estreia hoje no Brasil, o ator Sean
Penn faz o papel de Harvey
Milk (1930-1978), o primeiro
militante gay a ser eleito para
um cargo político nos EUA.
Assim como Penn, os intérpretes dos principais amores
nos últimos oito anos da vida de
Milk -período abordado pelo
filme- são heterossexuais: James Franco ("Homem-Aranha"), que vive Scott Smith, e
Diego Luna ("E sua Mãe Também"), no papel de Jack Lira.
"Certamente poderíamos ter
escalado exclusivamente gays
para todos os papéis, o que seria
uma escolha política e de estilo,
mas havia uma questão financeira. Nem todos os atores gays
na idade adequada para os papéis conseguem atrair o dinheiro que era necessário para fazer
esse filme", afirma Van Sant.
"Milk - A Voz da Igualdade"
foi produzido com aproximadamente US$ 15 milhões (R$
35 milhões) e recebeu oito indicações ao Oscar, incluindo as
de melhor ator (Penn), diretor
(Van Sant) e roteiro (Dustin
Lance Black).
Esta foi a segunda vez que
Van Sant, 56, tentou levar ao cinema a vida do homem que o
influenciou a assumir sua própria homossexualidade.
Na época em que Milk foi
eleito, em San Francisco, o cineasta, que vivia em Los Angeles, "não tinha saído do armário
ainda, não fazia parte da comunidade gay", como recorda, e
nem se deu conta da notícia.
Pouco depois, quando Milk
foi assassinado pelo político
conservador Dan White (Josh
Brolin, indicado ao Oscar pelo
papel), o cineasta prestou atenção à notícia.
"Acho que Harvey
e toda a sua história ajudaram
minha eventual saída do armário, que foi quando eu estava na
casa dos 30 anos", afirma.
A primeira tentativa de Van
Sant de fazer uma cinebiografia
de Harvey Milk fracassou porque ele ficou insatisfeito com o
roteiro e abandonou o projeto.
"O debate se deu em torno de
que parte da história contar e
como. É uma história enorme,
que envolve diversos personagens, além de todos os distritos
e cidades que rechaçaram as
leis em prol dos gays. Contar
toda a história da vida de Harvey era coisa demais. [No projeto abortado] Nunca tivemos
um roteiro que descobrisse como fazer isso sem ficar chato."
Dez anos mais tarde, quando
o roteiro de "Milk - A Voz da
Igualdade" lhe caiu nas mãos,
Van Sant "continuava interessado em contar essa história" e
achou acertada a decisão do roteirista Dustin Lance Black de
"limitar o foco na atuação política de Harvey, não contando
muito sobre sua infância ou os
anos de estudante ou os anos
que viveu em Nova York, embora houvesse a contar ao menos dez anos de boas histórias
entre 1950 e 1970. Harvey foi,
por exemplo, coordenador de
palco do espetáculo "Hair" em
Nova York", diz Van Sant.
Ao se concentrar nas quatro
campanhas e na eleição de
Milk, o filme terminou por suavizar as cenas de sexo e o retrato do comportamento da turma
de Milk na região de Castro, reduto gay de San Francisco.
Nas palavras de Van Sant,
"por causa de sua opção por
contar a vida política de Harvey, o filme limitou partes da
história que poderia ter sido
ótimo mostrar, mas poderia ter
sido mais arriscado, como as
casas de sauna que Harvey costumava frequentar ou os bares
a que ia".
O diretor diz que filmou mais
cenas de sexo do que as que estão no filme e descartou-as não
por uma questão de autocensura. "Poderíamos ter feito essas
cenas tão extremas quanto quiséssemos, mas, depois de filmar a primeira cena de sexo,
nós nos demos conta de que, na
realidade, não precisávamos ir
tão longe. Então, as cenas de sexo se tornaram mais alusivas
do que literais".
Lance Black conta que "decidir o que não contar foi a parte
mais difícil" de seu trabalho,
mas optou pelo recorte da vida
política de Milk porque acha
que esse foi o seu ápice.
"Acho que a grande questão
para Harvey era encontrar um
sentido, um propósito para sua
vida. Ele se perguntava o tempo
todo o que estava fazendo e por
quê? E descobriu esse propósito em San Francisco -era a política", afirma o roteirista.
A jornalista SILVANA ARANTES viajou a convite da distribuidora Paramount.
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