São Paulo, sexta, 20 de fevereiro de 1998

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

TELEVISÃO
TV paga cresce e traz "febre" das séries

NELSON DE SÁ
da Reportagem Local

Um em cada dez brasileiros, das nove maiores cidades do país, já assiste ao que se convencionou chamar de TV paga (sistemas Net/Multicanal/Sky, TVA/DirecTV e independentes).
O dado é da mais recente pesquisa do Ibope sobre TV paga, em dezembro último, que anunciou uma penetração de 11% junto aos telespectadores da Grande São Paulo, Rio, Belo Horizonte, Brasília, Porto Alegre, Salvador, Recife, Curitiba e Fortaleza.
Outra pesquisa, da Pay-TV Survey, apontou no ano passado um "ranking nacional de canais" com destaque, entre aqueles com mais assinantes, para a Fox em primeiro lugar e a Sony em sétimo.
São os canais, ao lado do mais recente USA, que concentram a programação das séries norte-americanas, programas em geral com meia hora ("sitcoms", comédias de costumes, como "Seinfeld") ou uma hora (os dramas policiais, médicos, legais e de ficção científica, como "Lei e Ordem").
Na grande maioria, programas que não conquistaram espaço na TV aberta, mas que ganham atenção e audiência fiel, até obcecada, com o crescimento da TV paga.
São as séries cultuadas, "cult", que repetem o que aconteceu em outro momento de impacto do mesmo tipo de programação, na década de 60. Assim, para "Jornada nas Estrelas", de 66, há um sucedâneo em "Arquivo X", de 93.
Os anos 60 viram surgir, entre inúmeros outros, "A Feiticeira", "Batman", "Missão Impossível", "Dr. Kildare", "A Família Addams", "Agente 86", "Perdidos no Espaço", "Os Monkees", até "Monty Python's Flying Circus".
Os anos 90 respondem com "E.R." (Plantão Médico), "Ellen", "Mad about You", "3rd Rock from the Sun", "Seinfeld", "Murphy Brown", "Lei e Ordem", "Spin City", "Friends", "Baywatch" (SOS Malibu), "The Naked Truth", "The Nanny".
As séries são um fenômeno no país de origem, os EUA, em que contam audiência média superior a 20 milhões de telespectadores, com picos de 35 milhões em casos como o de "E.R." -criado por Michael Crichton, o mesmo de "Parque dos Dinossauros".
O fenômeno levou à televisão atores antes ligados à indústria do cinema, como John Lithgow, de "3rd Rock from the Sun", Michael J. Fox, de "Spin City", Sam Waterson, de "Lei e Ordem", e Helen Hunt, de "Mad about You".
Também criou as próprias estrelas, como Gillian Anderson e David Duchovny, os agentes Dana Scully e Fox Mulder de "Arquivo X", George Clooney, médico de "E.R.", e Ellen DeGeneres, a protagonista lésbica de "Ellen".
Mais: passou a contar com estrelas de Hollywood e personalidades como coadjuvantes, casos de Nathan Lane e Yoko Ono, que estiveram em "Mad about You", Jean-Claude Van Damme e Julia Roberts, em "Friends". Quentin Tarantino dirigiu para "E.R.", Stephen King e William Gibson escreveram para "Arquivo X".
Em Marte, foi a trilha sonora de "Mad about You" que carregou o comando para o robô Sojouner, da Nasa, sair pelo planeta.
No Brasil, em parte por conta de sua apresentação inicial em TV aberta, na Rede Record, a série de maior culto é "Arquivo X".
As peripécias de Mulder e Sculley com extraterrestres, parapsicólogos e teorias de conspiração criaram fãs-clubes -e reações iradas contra a censura da Igreja Universal (dos episódios de cunho religioso), a "morte" de Mulder (no fim do quarto ano do programa) e o próprio fim (possível) da série.
No campo exclusivo da TV paga, causaram reações a gravidez de Helen Hunt em "Mad about You" e a morte anunciada de "Seinfeld". São "polêmicas" que ecoam aquelas provocadas nos Estados Unidos, sendo que as séries, no Brasil, chegam com grande atraso, de um mês para mais.
Só no mês que vem os brasileiros verão -talvez- a ressurreição de Mulder. O capítulo final de "Seinfeld" nem tem data. Boa parte das férias foi perdida, nos casos de "Mad about You" e "Friends", com reprises -quando as séries iniciaram a nova temporada, nos Estados Unidos, em setembro.
São dadas várias justificativas, como as constantes mudanças na programação e na transmissão, mas o problema maior foi mesmo a greve dos dubladores, de meses. A "indústria" da TV paga ainda engatinha, em organização.



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.