São Paulo, Sábado, 20 de Fevereiro de 1999
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Os computadores tornaram mais fácil fazer filmes e até mesmo criar atores virtuais, iguais a seres humanos
Uma idéia, uma câmera e um... micro

ALEXANDRE MARON
da Reportagem Local

Seres digitais, cenários virtuais e filmes feitos na garagem de casa por jovens aspirantes a cineastas. Esse é o cenário que a tecnologia digital desenha para o século 21.
Com o uso de computadores e câmeras de vídeo, fazer filmes ficou mais fácil. O processo de revelar películas está se tornando desnecessário e obsoleto.
No lugar da revelação do celulóide entra a digitalização. Já hoje, uma pessoa com um computador, uma placa que digitaliza vídeo e uma câmera VHS comum (cerca de R$ 3 mil em equipamento) pode começar a criar seu material.
Basta gravar as cenas em vídeo e, por meio da placa colocada em seu computador, digitalizar as imagens e editá-las em programas que vêm de brinde com a placa digitalizadora. Com eles, é possível até fazer efeitos especiais fundindo as imagens de atores com cenários criados num computador.
Essa geração que produz seus próprios filmes numa garagem ou escritório cresceu sob influência dos episódios de "Guerra nas Estrelas", criados por George Lucas. A série estréia novo capítulo no Brasil em junho deste ano, "A Ameaça Fantasma - Episódio 1".
O filme estará recheado de criaturas digitais e cenários totalmente criados nos computadores da Industrial Light & Magic, a empresa de efeitos especiais de Lucas, e inspira os fãs a criarem seus filmes.
Veja o caso de Kevin Blades, 30. Ele decidiu fazer um filme baseado no universo de "Guerra nas Estrelas", que se chamará "O Legado", e está reunindo atores. A história se passa 60 anos após de "O Retorno de Jedi", o último filme da série lançado até o momento.
Blades gravará as imagens sobre a parede pintada de azul de sua garagem em Ontário, no Canadá.
Depois, adicionará cenários virtuais e pretende até modelar um pequeno alienígena em seu computador que irá interagir com os atores reais. Tudo isso por menos de US$ 3 mil.
Outra produção ligada a "Guerra nas Estrelas" foi criada pelo designer de home pages nova-iorquino Jason Wishnow, 25, um documentário que mostra os fãs na véspera da reestréia do primeiro episódio restaurado de "Guerra nas Estrelas", em 1997, nos EUA.
Wishnow usou a Internet para recrutar e treinar cinco equipes em cidades diferentes. Ele coordenou conferências online sobre quais câmeras de vídeo alugar, qual enquadramento e que perguntas fazer.
As equipes enviaram as fitas a Wishnow, que as digitalizou e editou em seu computador. O filme custou menos de US$ 2,5 mil.
Interessado nessa mudança na forma de produzir filmes, o designer decidiu montar um site dedicado a mostrar vídeos digitais (www.newvenue.com).
Para ele, essa é uma nova mídia que pode ser distribuída pela Internet sem intermediários.
No site, é possível achar uma espécie de manifesto estético citando parâmetros para produção de vídeos.
Segundo Wishnow, deve-se fazer filmes com poucos movimentos, som de pior qualidade e em preto-e-branco, porque isso diminui o tamanho dos arquivos e facilita a cópia via Internet.

Atores virtuais
Mas a criação de atores virtuais iguais aos seres humanos é o ramo de maior interesse para os próximos anos.
A idéia é criar tanto seres "inéditos" como personificações de artistas como Marilyn Monroe e Elvis Presley, por exemplo.
Esses seres já têm um nome estranho e intraduzível criado por um dos idealizadores dos monstros digitais de "Parque dos Dinossauros": synthespians.
Há uma empresa criada para comercializar a imagem desses artistas que ainda vão surgir, o criador é Mark Rosenblatt. Ele já foi agente de atores reais e enxergou na tecnologia uma oportunidade.
"Estamos apenas expandindo o repertório de criatividade. Afinal de contas, por que temos Mickey Mouse ou Pernalonga em vez de um ser humano usando uma fantasia?", afirma Rosenblatt.
O diretor James Cameron, que gastou US$ 220 milhões em "Titanic" e estava interessado em fazer um filme com atores virtuais, mas desistiu por achar caro demais, acha que eles estão sendo superestimados. "Os animadores de atores virtuais não são capazes de tomar as decisões artísticas que atores reais tomariam."


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