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TEATRO
Nova peça da autora paulista estréia na Itália antes de chegar ao país
Leilah vai a Roma com "Intimidade Indecente"
VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Pela primeira vez, uma peça de
Leilah Assumpção estréia no exterior antes de chegar aos palcos
brasileiros. Trata-se de "Intimidade Indecente", seu texto mais
atual, de 2001, que no próximo
mês entra em cartaz no teatro Argot, em Roma, em montagem do
grupo italiano Scena Sensibile.
A peça deveria estrear no Brasil
ainda este ano, protagonizada pela atriz Irene Ravache, mas a produção não vingou por dificuldades na captação de recursos.
"É um sintoma de que fazer teatro por aqui continua sendo uma
via-crúcis", diz a autora paulista
Leilah, 56, com a experiência de
ter produzido suas duas últimas
peças em São Paulo, "Adorável
Desgraçada" e "O Momento de
Mariana Martins".
O intercâmbio com Roma surgiu no ano passado, quando a autora participou do sétimo Encontro de Teatro e Literatura Feminina, organizado pelo Scena Sensibile, na Embaixada do Brasil, ao
lado das colegas Maria Adelaide
Amaral ("Querida Mamãe") e
Cristina Mutarelli ("Pai").
Para o ciclo de leituras dramáticas com peças brasileiras, os organizadores pediram a Leilah o seu
texto mais conhecido, "Fala Baixo, Senão Eu Grito" (69). Ela, no
entanto, enviou-lhes uma segunda alternativa, "Intimidade Indecente", eleita para o encontro.
Apesar da perspectiva feminina
do encontro italiano, a nova peça
de Leilah é a que lança um olhar
mais afetivo para a figura masculina em toda a sua dramaturgia.
"Não é um olhar maternal, mas
amoroso em relação ao homem, o
bicho homem com o qual lidei
com mais revolta no início", afirma. Para se ter idéia, em "Fala
Baixo, Senão Eu Grito" o embate
de Mariazinha, a protagonista, se
dá com o Homem, personagem
sem nome.
O "machão" dos anos 60 e 70, na
concepção de Leilah, tende a se
humanizar mais em favor do
amadurecimento na união de homens e mulheres.
"Intimidade Indecente" apanha
um casal em crise de separação,
após 20 anos da troca de alianças.
Mariano é cinquentão, Roberta
passou dos 40. Ele, clássico, assume paixão pela melhor amiga da
filha, com menos de 20 anos. Ela,
mordaz, insinua que o marido está sublimando uma atração pela
própria filha. Não à toa, ambos
frequentam terapeutas.
Cada um para o seu lado, Roberta e Mariano seguem novas vidas. Ela, em particular, desabrocha sua sexualidade e descobre
seu corpo após experimentar um
relacionamento homossexual.
A peça se desenvolve a partir
das estações dos separados, década a década, até entrarem na casa
dos 80 anos, quando suas vidas
completam o ciclo do eterno retorno e, agora sim, desfrutam do
romantismo consagrado àqueles
que conseguem chegar lá. Para a
dramaturga, o mito da estética é
um vilão. "Cada idade tem a sua
beleza", afirma.
"Intimidade Indecente" crê na
capacidade de os amantes continuarem o sendo vida adentro.
Leilah critica o que define como
certa irresponsabilidade dos casais que, ao menor rumor, conclamam a separação como álibi para
uma felicidade presumida.
"Eu sou da geração dos anos 60,
da contracultura, a geração que
experimentou a liberdade sexual,
as novas formas de relacionamento, uma oposição ao "para
sempre" da minha mãe, por
exemplo", afirma a autora.
"Mas hoje passamos da responsabilidade à irresponsabilidade
total nos relacionamentos, sobretudo aqueles que têm filhos e não
conseguem encontrar um chão
mais sólido para continuar."
O subtexto da peça, como sugere o título, também está preservado. "A maravilha do amor é a intimidade. Pode-se até conseguir 20
anos de intimidade em uma transa, em detrimento daqueles que
estão juntos há 20 anos e nunca a
encontram, justamente por considerá-la indecente."
Alvo de teses em universidades
estrangeiras, sobretudo latino-americanas (ao lado de Consuelo
de Castro, oferece subsídios para
a situação da mulher durante os
regimes militares na região), Leilah Assumpção está buscando
uma editora para publicar, até o
próximo ano, em único volume,
dez das suas 20 peças escritas em
32 anos de carreira. Ela acredita
retratar a trajetória da mulher, e
não apenas brasileira, na segunda
metade do século passado.
Em ordem cronológica, são
elas: "Vejo Vulto na Janela, Me
Acudam que Sou Donzela" (64),
"Fala Baixo, Senão Eu Grito" (69),
"Jorginho, o Machão" (70), "Roda Cor de Rosa" (74), "Kuka - O
Segredo da Alma de Ouro" (81),
"Boca Molhada de Paixão Calada" (84), "Lua Nua" (88), "Adorável Desgraçada" (94), "O Momento de Mariana Martins" (99) e
"Intimidade Indecente" (2001).
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