|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Venda de DVDs musicais cresceu 1.340% nos últimos cinco anos, segundo estimativas; por outro lado, comercialização de CDs caiu 43%
Discos voadores
LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO
Quem quis, em dezembro passado, comprar o disco-de-fim-de-ano de Roberto Carlos teve de levar para casa também o DVD e
pagar entre R$ 60 e R$ 70 pelo kit.
A estratégia da Sony Music para o
Rei foi a prova mais clara de quem
é o novo soberano do mercado fonográfico: o DVD.
Se os números realmente não
mentem, a coroação se justifica.
Nas lojas brasileiras desde 1997, o
disquinho que une som e imagem
cresceu, nos últimos cinco anos,
1.340%: de 500 mil unidades vendidas em 2000 para cerca de 7,2
milhões em 2004, segundo estimativa do mercado -os números do ano passado ainda não foram divulgados pela Associação
Brasileira de Produtores de Discos. Já os CDs caíram 43% no
mesmo período: 93 milhões para
cerca de 53 milhões. Uma queda
decisiva para que o mercado nacional de discos encolhesse 25%
nesta década. O Brasil era o sétimo no ranking mundial em 2000
e hoje, segundo informações extra-oficiais, estaria em 15º.
No entanto, quando o assunto é
só DVD, o país, nono em 2003, já
disputa o quarto lugar com o Reino Unido -atrás de Japão, EUA e
Alemanha. Há dois anos os DVDs
respondiam por 15% do faturamento das grandes gravadoras;
Hoje, já cobrem 27%.
"O Brasil teve, no ano passado,
uma taxa de crescimento de 100%
[em vendas de DVDs], uma das
maiores do mundo. O consumidor está mostrando que quer, cada vez mais, a imagem ligada à
música", acredita Alexandre
Schiavo, principal executivo da
agora Sony BMG, a empresa surgida da fusão das multinacionais.
Há números que impressionam: com 350 mil cópias, o DVD
de Ivete Sangalo é o mais vendido
pela Universal, a maior das multinacionais, em todo o mundo; o
"Ao Vivo" do Fundo de Quintal já
vendeu mais DVDs do que CDs
(80 mil a 70 mil). Este fato raríssimo explica-se: entre os artistas
populares, muitos dos CDs comprados são piratas, murchando as
estatísticas oficiais.
Ao menos por enquanto, é bem
mais difícil piratear DVDs do que
CDs. E a pirataria é o inimigo número 1 das gravadoras -cerca de
um terço dos CDs produzidos no
mundo seria pirata, segundo a IFPI (Federação Internacional da
Indústria Fonográfica).
"Existem os DVDs 5 e 9. O primeiro é só o show e é o que os piratas conseguem copiar. O segundo vem com extras, making of. Os
consumidores de DVD buscam
qualidade e querem o produto
completo", diz José Antonio Eboli, presidente da Universal Music.
O lançamento simultâneo de
CD e DVD, como se deu com Roberto Carlos e acontece com os
bem-sucedidos "Acústico MTV"
e "Ao Vivo MTV", é uma tendência que vai se confirmando. E um
dos motivos é a pirataria.
"É melhor lançar os dois porque, senão, o pirata pega o áudio
do DVD e fica com a matriz, já
que não teremos um produto para competir", explica Eboli.
Além da simultaneidade, já se
busca a superposição. O mais recente disco do U2, "How to Dismantle an Atomic Bomb", foi lançado de duas formas pela Universal: só o CD e o CD mais um DVD
com 40 minutos de extras. Segundo Eboli, o kit já vendeu o dobro
(100 mil cópias) do CD isolado.
Já a Warner põe nas lojas em
abril 21 caixinhas contendo um
CD e um DVD de artistas como
Daniel e Barão Vermelho. "Queremos popularizar o formato, para atingir mais a classe B e C. O
preço vai ficar muito mais em
conta", afirma Marcelo Maia, diretor de marketing da empresa.
Todos os executivos negam que
haja um processo de substituição
do CD pelo DVD. Eles garantem
que há espaço para os dois e lembram que a venda de CDs, que vinha caindo vertiginosamente, teve um pequeno crescimento em
2004 (em torno de 1%). Mas, na
prática, os investimentos em
DVDs se tornaram prioridade.
"O CD está desacreditado. Desde 1999, este é o primeiro ano em
que não tenho nenhuma reedição
agendada", diz Charles Gavin, baterista dos Titãs e responsável pela transformação em CD de cerca
de 350 LPs. Os Titãs devem gravar
um DVD em 2005 na série "Ao
Vivo MTV".
João Marcelo Bôscoli, da independente Trama, tem uma visão
bem diferente da de seus colegas.
"O mercado está olhando o
DVD como substituto do CD sim,
o que é um erro. O Super Áudio
CD e o DVD Áudio poderão até
substituir o CD, mas o DVD é
substituto do VHS. Não podemos
perder uma mídia que é exclusiva
da música. Eu quero recuperar o
prestígio do CD, porque tenho
responsabilidade sobre a sustentação do negócio. Os diretores de
multinacionais querem só mostrar bons números para as matrizes", critica Bôscoli.
Ele prevê uma saturação do formato se as produções continuarem no rumo que estão. Há uma
enxurrada de DVDs que resultam
de shows em que os artistas cantam seus sucessos. Como soa repetitivo lançar um DVD atrás do
outro com o "melhor da carreira",
seria bom pensar em alternativas.
Texto Anterior: Programação de TV Próximo Texto: Fãs exaltam formato do DVD de música Índice
|