São Paulo, domingo, 20 de março de 2005

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"RIO VERMELHO"

Hawks centra faroeste em encontro de titãs

PEDRO BUTCHER
CRÍTICO DA FOLHA

A informação de que "Rio Vermelho" (1948) é o primeiro filme de Montgomery Clift já bastaria para torná-lo indispensável. Mas não é só isso: nele, Clift contracena com John Wayne, sob a direção de Howard Hawks. O espectador, portanto, tem o privilégio de testemunhar uma estréia memorável que se dá sob a forma de um embate com outro grande ator de escola radicalmente oposta, orquestrado por um dos grandes do cinema americano.
Esse encontro titânico é como um eco da própria história do filme, centrada no conflito psicológico entre pai (Wayne) e filho adotivo (Clift). Wayne é um homem com uma missão: levar um imenso rebanho de gado do Texas ao Missouri. Mas, no caminho, o filho, inconformado com a tirania do pai, desvia o rebanho, dando início a uma perseguição furiosa.
O material é perfeito para que cada um mostre o que tem de melhor: Wayne destilando uma presença direta de expressões mínimas; Clift em interpretação quente, treinada no teatro, mas dosada para a câmera e fortificada por uma beleza incomum.
A trajetória de "Rio" foi turbulenta: filmado em 1946, teve seu lançamento protelado por dois anos em razão de um processo movido por Howard Hughes, que viu na história um plágio de seu "O Proscrito". No meio tempo, Clift fez outros filmes, mas só virou uma estrela quando "Rio" chegou às telas.
Combinando o formato de um faroeste tradicional com o de uma aventura arrebatadora, Hawks faz uma travessia física pela paisagem do Velho Oeste, enquanto registra o duelo emocional de dois homens/atores de temperamentos e visões opostas.
O cineasta, como sempre, é majestoso na simplicidade de filmar. "O melhor a fazer é contar uma história como se ela estivesse passando diante dos olhos do público. Na maior parte do tempo, minha câmera permanece no nível dos olhos; de vez em quando, a movimento como se uma pessoa estivesse andando, olhando as coisas. Quando não se deseja realizar cortes, se pode aproximar e afastar, para conseguir ênfase. Mas, exceto por essas circunstâncias, só uso a câmera mais simples que existe", disse Hawks ao cineasta Peter Bogdanovich em entrevista no indispensável livro "Afinal, Quem Faz os Filmes".
Esse estilo, porém, não seria suficiente caso o material diante da câmera não fosse sólido. Mais do que uma boa história, a riqueza de "Rio" está na verdade dos personagens -característica essencial dos faroestes de Hawks, que o diferenciavam de outros do gênero.
Com o lançamento de "Rio Vermelho" em DVD (ainda que em uma cópia de qualidade duvidosa), ficam disponíveis no Brasil os quatro faroestes que Hawks dirigiu com John Wayne. Pelo menos um deles é também uma obra-prima ("Onde Começa o Inferno", de 1959, menos aventureiro e ainda mais centrado nos personagens), e os outros dois são quase isso ("El Dorado", de 1966, e "Rio Lobo", de 1970). Agora falta apenas "Hatari!", quinta colaboração Hawks-Wayne, em forma de uma grande aventura na África.


Rio Vermelho
    
Direção: Howard Hawks
Lançamento: Playarte; R$ 40, em média


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