|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
"RIO VERMELHO"
Hawks centra faroeste em encontro de titãs
PEDRO BUTCHER
CRÍTICO DA FOLHA
A informação de que "Rio
Vermelho" (1948) é o primeiro filme de Montgomery Clift
já bastaria para torná-lo indispensável. Mas não é só isso: nele, Clift
contracena com John Wayne, sob
a direção de Howard Hawks. O
espectador, portanto, tem o privilégio de testemunhar uma estréia
memorável que se dá sob a forma
de um embate com outro grande
ator de escola radicalmente oposta, orquestrado por um dos grandes do cinema americano.
Esse encontro titânico é como
um eco da própria história do filme, centrada no conflito psicológico entre pai (Wayne) e filho
adotivo (Clift). Wayne é um homem com uma missão: levar um
imenso rebanho de gado do Texas
ao Missouri. Mas, no caminho, o
filho, inconformado com a tirania
do pai, desvia o rebanho, dando
início a uma perseguição furiosa.
O material é perfeito para que
cada um mostre o que tem de melhor: Wayne destilando uma presença direta de expressões mínimas; Clift em interpretação quente, treinada no teatro, mas dosada
para a câmera e fortificada por
uma beleza incomum.
A trajetória de "Rio" foi turbulenta: filmado em 1946, teve seu
lançamento protelado por dois
anos em razão de um processo
movido por Howard Hughes, que
viu na história um plágio de seu
"O Proscrito". No meio tempo,
Clift fez outros filmes, mas só virou uma estrela quando "Rio"
chegou às telas.
Combinando o formato de um
faroeste tradicional com o de uma
aventura arrebatadora, Hawks faz
uma travessia física pela paisagem
do Velho Oeste, enquanto registra
o duelo emocional de dois homens/atores de temperamentos e
visões opostas.
O cineasta, como sempre, é majestoso na simplicidade de filmar.
"O melhor a fazer é contar uma
história como se ela estivesse passando diante dos olhos do público. Na maior parte do tempo, minha câmera permanece no nível
dos olhos; de vez em quando, a
movimento como se uma pessoa
estivesse andando, olhando as
coisas. Quando não se deseja realizar cortes, se pode aproximar e
afastar, para conseguir ênfase.
Mas, exceto por essas circunstâncias, só uso a câmera mais simples
que existe", disse Hawks ao cineasta Peter Bogdanovich em entrevista no indispensável livro
"Afinal, Quem Faz os Filmes".
Esse estilo, porém, não seria suficiente caso o material diante da
câmera não fosse sólido. Mais do
que uma boa história, a riqueza de
"Rio" está na verdade dos personagens -característica essencial
dos faroestes de Hawks, que o diferenciavam de outros do gênero.
Com o lançamento de "Rio Vermelho" em DVD (ainda que em
uma cópia de qualidade duvidosa), ficam disponíveis no Brasil os
quatro faroestes que Hawks dirigiu com John Wayne. Pelo menos
um deles é também uma obra-prima ("Onde Começa o Inferno", de 1959, menos aventureiro e
ainda mais centrado nos personagens), e os outros dois são quase
isso ("El Dorado", de 1966, e "Rio
Lobo", de 1970). Agora falta apenas "Hatari!", quinta colaboração
Hawks-Wayne, em forma de uma
grande aventura na África.
Rio Vermelho
Direção: Howard Hawks
Lançamento: Playarte; R$ 40, em média
Texto Anterior: DVDs - Pacote: Coleção de cinema fantástico reúne três shows de horrores Próximo Texto: "A Era do Gelo": Brasileiro anima catástrofe ecológica Índice
|