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PACOTE
"Sangue de Pantera", "Monstros" e "Zaroff" ganham relançamento
Coleção de cinema fantástico reúne três shows de horrores
MARCELO COELHO
COLUNISTA DA FOLHA
Um show de horrores repulsivo, um clássico da sutileza e
da insinuação, um divertido
amontoado de clichês: não poderiam ser mais diferentes os três filmes que a distribuidora Magnus
Opus juntou no mesmo pacote,
anunciado como o primeiro volume de uma série dedicada ao "cinema fantástico".
Filmado em 1942, "Sangue de
Pantera" ("Cat People"), de Jacques Tourneur, é uma obra-prima de sugestão psicológica, que
parece roçar como veludo na nuca do espectador, produzindo excitações a meio caminho entre o
suspense e o desejo.
Simone Simon faz o papel de
Irena Dubrovna, uma encantadora imigrante balcânica que conhece o jovem e dinâmico americano
Oliver Reed (Kent Smith). A paixão é rápida, mas o casamento
não se realiza sexualmente: Irena
se vê perturbada por pressentimentos e pesadelos que evocam
uma tradição sinistra de sua Sérvia natal.
Haveria nas montanhas um povo pagão, meio-humano, meio-felino, ao qual ela julga pertencer.
Sua crença se fortalece quando
uma bela e estranha mulher com
cara de gato -a modelo Elizabeth Russell, numa hipnótica e
curtíssima aparição- dirige-lhe
algumas palavras em sérvio e, talvez, no código universal do lesbianismo: "Moja sestra, moja sestra"
(minha irmã, minha irmã).
Todo o filme (o primeiro da cultuada série de terror produzida
por Val Lewton para a RKO) gira
em torno da ameaça de Irena se
transformar de fato em pantera,
caso a tentem seduzir. Duas cenas
memoráveis de suspense envolvem uma mulher "normal" sendo
perseguida por uma "mulher-pantera". Som e silêncio, luz e
sombra, ambigüidade sexual e
perigo físico, poesia e sobrenatural se combinam nesses momentos com um charme ainda hoje
impressionante.
De terror, no sentido usual do
termo, "Sangue de Pantera" não
tem praticamente nada -exceto
o fascínio, a sensação de iminência e de estranheza que precede o
medo ou algum tipo de prazer
proibido. Uma lição de elegância
cinematográfica, que o remake
dirigido por Paul Schrader, com
Nastassia Kinski, em 1982, não
conseguiu imitar.
Já as velhas "leis da natureza" (a
sobrevivência dos mais aptos, um
dia é da caça, e outro é do caçador
etc.) nos absorvem em "Zaroff, o
Caçador de Vidas" ("The Most
Dangerous Game"), dirigido por
Irving Pichel e Ernest Schoedsack
em 1932, aproveitando os cenários e a atriz (Fay Wray) de "King
Kong", que Schoedsack havia feito no mesmo ano em parceria
com Merian Cooper.
Salvo de um naufrágio, o caçador Bob Rainford (Joel McCrea)
vai parar numa ilha tropical, onde
encontra um castelo parecidíssimo com o de Drácula. Desta vez,
quem o habita é outro conde, o
russo Zaroff (Leslie Banks, impagável de barbicha e botinhas pretas), que entre uma e outra récita
ao piano se dedica a promover caçadas humanas.
Crocodilos, pântanos e mujiques sinistros, além de uma esfarrapada Fay Wray sempre à beira
do desmaio e do abismo, aguardam nosso herói. Tudo é precário:
o roteiro, os atores, o vilão e, principalmente, o diálogo, do qual vale resgatar esta pérola: "Zaroff está
brincando de gato e rato", diz o
mocinho. "O que você quer dizer?", pergunta a mocinha.
Sobra pouco espaço para falar
de "Monstros" ("Freaks", 1932),
de Tod Browning (o diretor de
"Drácula"). Nesse grand-guignol
bizarro, cujo humor nem sequer
tem a desculpa de ser involuntário, aberrações de circo planejam
vingança contra uma trapezista
perversa, enquanto o espectador
presencia coisas como o parto da
mulher barbada ou a aparição de
uma mulher-galinha. Para quem
se encantou com a mulher-pantera, eis um tremendo anticlímax.
Monstros
Direção: Tod Browning
Sangue de Pantera
Direção: Jacques Tourneur
Zaroff, o Caçador de Vidas
Direção: Irving Pichel e Ernest Schoedsack
Lançamento: Magnus Opus; R$ 40
(cada DVD) ou R$ 120 (a trilogia)
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