São Paulo, domingo, 20 de março de 2005

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PACOTE

"Sangue de Pantera", "Monstros" e "Zaroff" ganham relançamento

Coleção de cinema fantástico reúne três shows de horrores

MARCELO COELHO
COLUNISTA DA FOLHA

Um show de horrores repulsivo, um clássico da sutileza e da insinuação, um divertido amontoado de clichês: não poderiam ser mais diferentes os três filmes que a distribuidora Magnus Opus juntou no mesmo pacote, anunciado como o primeiro volume de uma série dedicada ao "cinema fantástico".
Filmado em 1942, "Sangue de Pantera" ("Cat People"), de Jacques Tourneur, é uma obra-prima de sugestão psicológica, que parece roçar como veludo na nuca do espectador, produzindo excitações a meio caminho entre o suspense e o desejo.
Simone Simon faz o papel de Irena Dubrovna, uma encantadora imigrante balcânica que conhece o jovem e dinâmico americano Oliver Reed (Kent Smith). A paixão é rápida, mas o casamento não se realiza sexualmente: Irena se vê perturbada por pressentimentos e pesadelos que evocam uma tradição sinistra de sua Sérvia natal.
Haveria nas montanhas um povo pagão, meio-humano, meio-felino, ao qual ela julga pertencer. Sua crença se fortalece quando uma bela e estranha mulher com cara de gato -a modelo Elizabeth Russell, numa hipnótica e curtíssima aparição- dirige-lhe algumas palavras em sérvio e, talvez, no código universal do lesbianismo: "Moja sestra, moja sestra" (minha irmã, minha irmã).
Todo o filme (o primeiro da cultuada série de terror produzida por Val Lewton para a RKO) gira em torno da ameaça de Irena se transformar de fato em pantera, caso a tentem seduzir. Duas cenas memoráveis de suspense envolvem uma mulher "normal" sendo perseguida por uma "mulher-pantera". Som e silêncio, luz e sombra, ambigüidade sexual e perigo físico, poesia e sobrenatural se combinam nesses momentos com um charme ainda hoje impressionante.
De terror, no sentido usual do termo, "Sangue de Pantera" não tem praticamente nada -exceto o fascínio, a sensação de iminência e de estranheza que precede o medo ou algum tipo de prazer proibido. Uma lição de elegância cinematográfica, que o remake dirigido por Paul Schrader, com Nastassia Kinski, em 1982, não conseguiu imitar.
Já as velhas "leis da natureza" (a sobrevivência dos mais aptos, um dia é da caça, e outro é do caçador etc.) nos absorvem em "Zaroff, o Caçador de Vidas" ("The Most Dangerous Game"), dirigido por Irving Pichel e Ernest Schoedsack em 1932, aproveitando os cenários e a atriz (Fay Wray) de "King Kong", que Schoedsack havia feito no mesmo ano em parceria com Merian Cooper.
Salvo de um naufrágio, o caçador Bob Rainford (Joel McCrea) vai parar numa ilha tropical, onde encontra um castelo parecidíssimo com o de Drácula. Desta vez, quem o habita é outro conde, o russo Zaroff (Leslie Banks, impagável de barbicha e botinhas pretas), que entre uma e outra récita ao piano se dedica a promover caçadas humanas.
Crocodilos, pântanos e mujiques sinistros, além de uma esfarrapada Fay Wray sempre à beira do desmaio e do abismo, aguardam nosso herói. Tudo é precário: o roteiro, os atores, o vilão e, principalmente, o diálogo, do qual vale resgatar esta pérola: "Zaroff está brincando de gato e rato", diz o mocinho. "O que você quer dizer?", pergunta a mocinha.
Sobra pouco espaço para falar de "Monstros" ("Freaks", 1932), de Tod Browning (o diretor de "Drácula"). Nesse grand-guignol bizarro, cujo humor nem sequer tem a desculpa de ser involuntário, aberrações de circo planejam vingança contra uma trapezista perversa, enquanto o espectador presencia coisas como o parto da mulher barbada ou a aparição de uma mulher-galinha. Para quem se encantou com a mulher-pantera, eis um tremendo anticlímax.


Monstros
 
Direção: Tod Browning

Sangue de Pantera
    
Direção: Jacques Tourneur

Zaroff, o Caçador de Vidas
  
Direção: Irving Pichel e Ernest Schoedsack
Lançamento: Magnus Opus; R$ 40 (cada DVD) ou R$ 120 (a trilogia)


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