São Paulo, domingo, 20 de março de 2005

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TV

Emissora estréia em abril "Senta que Lá Vem Comédia"; episódios, exibidos aos sábados, são gravados em teatros de SP, com platéia

Cultura revive teleteatro em nova roupagem

JANAINA FIDALGO
DA REDAÇÃO

A retomada pela TV Cultura de programas consagrados nos anos 50, 60 e 70 confirmam a máxima do "nada se perde, tudo se transforma". Iniciativas recentes da emissora têm o pé no passado: a mais nova delas é a filmagem dos célebres teleteatros.
Produto de vanguarda nos anos 50/60 na Tupi e nos 70 na Cultura, os teleteatros voltam em abril à grade da emissora pública paulista, aos sábados, às 22h. Ainda não há data definida para a estréia.
"Não temos nenhum problema de voltar com programas antigos que possam ser colocados no ar com uma roupagem nova, adaptados para a circunstância atual", diz o presidente da Fundação Padre Anchieta, Marcos Mendonça.
O nome deste primeiro projeto do núcleo de dramaturgia da emissora, "Senta que Lá Vem Comédia", entrega o gênero dos textos adotados à encenação e dá a impressão de também ter sido "reciclado" (quem não se lembra daquele quadro infantil da rede, o "Senta que Lá Vem História"?).
"A opção pela comédia é porque ela tem uma linguagem mais fácil. Na televisão você nunca tem a mesma concentração que tem no teatro. Em casa toca o telefone, o carro passa na rua, o filho chama. A comédia não é um texto que, se você perder uma palavrinha, perde o que ele quer dizer", justifica Analy Alvarez, coordenadora do núcleo de dramaturgia.
Entre os textos encenados, comédias de costumes do século 19 ("O Primo da Califórnia", de Joaquim Manoel de Macedo) dividem espaço com textos mais contemporâneos ("Um Edifício Chamado 200", de Paulo Pontes).
"São comédias excelentes, relegadas ao segundo plano pela intelectualidade brasileira. Eu quero resgatá-las", diz Alvarez.

Teatro + televisão
Com valores de produção estimados entre R$ 80 mil e R$ 100 mil por programa, os episódios são gravados nos teatros Franco Zampari e Maria Della Costa, em São Paulo. A intenção da emissora é produzir e finalizar até o fim de agosto 26 episódios. Não à toa, o ritmo é acelerado. O elenco de cada peça tem, em média, três semanas para discutir o texto, acertar o figurino, decorar as falas, ensaiar e se apresentar diante da platéia que acompanha as gravações.
"A gente brinca que é um coito interrompido. Fica lá com aquele processo todo, quando vai chegar ao orgasmo, acabou", brinca o ator Fabio Azevedo, 26, sobre a apresentação única.
O público que assiste às encenações é um elemento-chave. Como em qualquer peça, em especial nas comédias, é a platéia quem baliza o tom de cada gesto. "Às vezes a gente ensaia prevendo uma reação, e acontece outra", conta Luiz Serra, 67, que pretende aproveitar a preparação de "Toda Donzela Tem um Pai que É Uma Fera" e levá-la ao cartaz.
Aliás, a reação da platéia não só serve de termômetro mas também é incentivada, como comprovou a Folha na última terça na gravação de "O Primo...".
"Aplaudam e riam bastante!", recomendava Alvarez após apresentar o elenco. É que as imagens e sons da platéia são captados e intercalados às cenas da peça.

No palco
O elenco de "Senta que Lá Vem Comédia" mescla iniciantes e grandes diretores e atores de teatro, caso de José Renato Pécora, que dirige "Um Edifício Chamado 200", e dos atores Francarlos Reis, Serafim Gonzalez, Luiz Serra e Paulo Hesse. Caras conhecidas da TV brasileira de hoje não ficam de fora. Tuca Andrada é o protagonista de "Um Edifício..."; Bárbara Paz atua em "Toda Donzela..." e Paula Picarelli participará de "Onde Canta o Sabiá".
"É claro que neste começo eu preciso de alguns atores conhecidos, até para ganhar credibilidade do telespectador que está acostumado com essas caras na televisão", admite Alvarez. "A gente precisa ter muito cuidado quando fala disso, porque não quero passar a idéia de que estamos chamando atores conhecidos da Globo. Estamos chamando bons atores", reforça.
Embora não seja uma emissora comercial, a aceitação do público pesará na decisão de dar continuidade ao projeto. "Se você não tem retorno de público, não tem parceiro. Sem parceria, a emissora não vai conseguir fazer tudo o que quer", diz Alvarez.
Mais que isso, a TV Cultura pretende fazer pesquisa de qualidade junto ao público para avaliar a necessidade de ajustes no programa.

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