São Paulo, sexta, 20 de março de 1998

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CINEMA ESTRÉIAS
"Mrs. Brown" mostra intimidade da rainha Vitória

JOSÉ GERALDO COUTO
da Equipe de Articulistas

Os ingleses, como se sabe, são loucos por um escândalo na família real. Dá até a impressão de que é para isso mesmo que existe a monarquia: um escândalo republicano nunca chegaria aos pés de um escândalo real.
É esse apetite da plebe por bisbilhotar o que se passa atrás dos muros de Buckingham que explica a produção de um filme como "Sua Majestade, Mrs. Brown", de John Madden.
No mais típico estilo britânico -muita pompa e pouca polpa-, conta-se a amizade (amor platônico? romance ilícito?) entre ninguém menos que a veneranda rainha Vitória (Judi Dench, indicada ao Oscar) e um reles cavalariço, a mostrar que os séculos passam, mas os hábitos permanecem.
Em 1864, depois de três anos de luto fechado pela morte de seu marido, o príncipe Albert, a rainha chama a seu retiro, no castelo de Balmoral (Escócia), um velho amigo do falecido, John Brown (Billy Connolly), para aprontar o cavalo que ela montará em seus passeios.
Em pouco tempo, o plebeu ganha a confiança e a amizade da rainha, que prefere a sua companhia à do bando de puxa-sacos que a cercam, incluindo seu filho, o príncipe de Gales.
O rude Brown, pelo menos segundo o filme, acaba por tornar-se o principal conselheiro da coroa britânica, ou melhor, da velha rainha.
Desperta, assim, o ciúme dos membros da corte, a apreensão do Parlamento e o instinto fofoqueiro da população.
Todos os olhos da Grã-Bretanha se voltam para os passeios da rainha e seu amigo dileto. Como ainda não existiam os "paparazzi", e os diários pessoais de Brown desapareceram, ninguém sabe se os dois chegaram aos finalmentes ou ficaram só na troca de olhares e suspiros que aparece no filme.
Ambiguidade
Ao optar por não forçar a barra, mantendo uma certa ambiguidade, o filme se arrisca a frustrar o espectador contemporâneo, de paladar mais afeito aos temperos picantes.
Fica a impressão de muito barulho por nada, de muita fumaça para pouco fogo. Embora, claro, não seja bem assim.
Afinal, a rainha Vitória se ausentou por mais de dez anos da vida pública, e isso é suficiente para abalar qualquer governo, mesmo o do mais poderoso império do planeta.
O problema é que tudo parece ficar no meio do caminho em "Mrs. Brown": nem bem entendemos o que se passa entre a rainha e o cavalariço, nem bem acompanhamos a crise política que sacode o Parlamento e o governo.
O que se sobressai, talvez pela bela interpretação de Judi Dench, é um estudo do conflito interno da rainha, dividida entre a auto-repressão puritana e o desejo de prazer.
Como costuma acontecer nas produções de época inglesas, tenta-se compensar a falta de vigor cinematográfico com as belas paisagens e os bons atores.
Aqui, além de Judi Dench e Billy Connolly, num duelo de sutilezas, merece destaque também o ator Antony Sher, que interpreta um melífluo e venenoso lorde Disraeli, líder dos conservadores no Parlamento.

Filme: Sua Majestade, Mrs. Brown Produção: Reino Unido, 1997 Direção: John Madden Elenco: Judi Dench, Billy Connolly, Antony Sher, Geoffrey Palmer Onde: nos cines Estação Vitrine e Cinearte


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