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CINEMA ESTRÉIAS
"Mrs. Brown" mostra intimidade da rainha Vitória
JOSÉ GERALDO COUTO
da Equipe de Articulistas
Os ingleses, como se sabe, são
loucos por um escândalo na família real. Dá até a impressão de que
é para isso mesmo que existe a
monarquia: um escândalo republicano nunca chegaria aos pés de
um escândalo real.
É esse apetite da plebe por bisbilhotar o que se passa atrás dos muros de Buckingham que explica a
produção de um filme como "Sua
Majestade, Mrs. Brown", de John
Madden.
No mais típico estilo britânico
-muita pompa e pouca polpa-,
conta-se a amizade (amor platônico? romance ilícito?) entre ninguém menos que a veneranda rainha Vitória
(Judi Dench,
indicada ao
Oscar) e um
reles cavalariço, a mostrar
que os séculos
passam, mas
os hábitos permanecem.
Em 1864, depois de três
anos de luto fechado pela
morte de seu
marido, o príncipe Albert, a rainha chama a seu retiro, no castelo
de Balmoral (Escócia), um velho
amigo do falecido, John Brown
(Billy Connolly), para aprontar o
cavalo que ela montará em seus
passeios.
Em pouco tempo, o plebeu ganha a confiança e a amizade da rainha, que prefere a sua companhia
à do bando de puxa-sacos que a
cercam, incluindo seu filho, o
príncipe de Gales.
O rude Brown, pelo menos segundo o filme, acaba por tornar-se
o principal conselheiro da coroa
britânica, ou melhor, da velha rainha.
Desperta, assim, o ciúme dos
membros da corte, a apreensão do
Parlamento e o instinto fofoqueiro
da população.
Todos os olhos da Grã-Bretanha
se voltam para os passeios da rainha e seu amigo dileto. Como ainda não existiam os "paparazzi", e
os diários pessoais de Brown desapareceram, ninguém sabe se os
dois chegaram aos finalmentes ou
ficaram só na troca de olhares e
suspiros que aparece no filme.
Ambiguidade
Ao optar por não forçar a barra,
mantendo uma certa ambiguidade, o filme se arrisca a frustrar o
espectador contemporâneo, de
paladar mais afeito aos temperos
picantes.
Fica a impressão de muito barulho por nada, de muita fumaça para pouco fogo. Embora, claro, não
seja bem assim.
Afinal, a rainha Vitória se ausentou por mais de dez anos da vida
pública, e isso é suficiente para
abalar qualquer governo, mesmo
o do mais poderoso império do planeta.
O problema é
que tudo parece ficar no
meio do caminho em "Mrs.
Brown": nem
bem entendemos o que se
passa entre a
rainha e o cavalariço, nem
bem acompanhamos a crise política que sacode
o Parlamento e o governo.
O que se sobressai, talvez pela
bela interpretação de Judi Dench,
é um estudo do conflito interno da
rainha, dividida entre a auto-repressão puritana e o desejo de prazer.
Como costuma acontecer nas
produções de época inglesas, tenta-se compensar a falta de vigor cinematográfico com as belas paisagens e os bons atores.
Aqui, além de Judi Dench e Billy
Connolly, num duelo de sutilezas,
merece destaque também o ator
Antony Sher, que interpreta um
melífluo e venenoso lorde Disraeli, líder dos conservadores no Parlamento.
Filme: Sua Majestade, Mrs. Brown
Produção: Reino Unido, 1997
Direção: John Madden
Elenco: Judi Dench, Billy Connolly, Antony
Sher, Geoffrey Palmer
Onde: nos cines Estação Vitrine e Cinearte
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