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Geena pula, mata e estrangula em "Despertar..."
PAULO VIEIRA
especial para a Folha
Tivesse eu alguma informação
preliminar, teria ido assistir a
"Despertar de um Pesadelo" ("The
Long Kiss Goodnight"), que estréia hoje em São Paulo, com um
desses estatísticos do DataFolha
que tabulam passes, desarmes, cabeceios, etc. dos jogadores de futebol. Assim, talvez pudesse relatar
aqui, com precisão, quantos inimigos Geena Davis ("Thelma e
Louise") aniquila no filme e, melhor, de que maneira.
Estrangulamentos, se não me falha a memória, são três -o da rena incluído.
No filme, que estreou nos EUA
há quase dois anos, Davis interpreta a professorinha Samantha,
nova encarnação de uma super
agente de espionagem. Todos consideravam-na morta, mas Samantha, ou melhor, Charly Baltimore,
resistiu, sobrevindo apenas uma
amnésia parcial.
O incidente com a rena começa
a devolver Samantha a Charly, fato
que irá se realizar plenamente
quando a agente, de volta ao front,
susta uma tentativa de atentado
promovida por seus antigos superiores -a executiva da CIA- que
poderia tirar a vida de 4 mil pacatos cidadãos e demandaria o uso
de armas químicas.
Muito bem, a linha mestra do filme se estrutura na tomada gradativa de Samantha por Charly, mas
não há aí qualquer interesse psicanalítico. O roteirista Shane Black
(de "Máquina Mortífera"), que teria levado US$ 3 milhões pelo serviço, e o marido de Geena Davis e
também diretor do filme, Renny
Harlin, vão direto ao ponto: o que
interessa é mostrar a heroína a
matar alvos em helicópteros, carros, estáticos, etc., estando ela sobre patins, numa espécie de
pau-de-arara aquático ou sendo
içada por uma fiação elétrica.
Como filme de ação, e não há
qualquer possibilidade de analisá-lo sob outro escopo, o produto
é quase irretocável: além das situações relatadas no parágrafo anterior, há perseguições de várias espécies, multidões em perigo, proficiência em manuseio de facas e
revólveres, escapadas por entre janelas altas de vidro, mergulhos em
lagos gelados e uma fuga impossível de câmara frigorífica com auxílio de uma boneca de plástico.
Formalmente, Harlin ainda injetou toques de cinema "blackexplotation" (em voga com o novo
Tarantino) ao escalar o negro Samuel Jackson como Mitch -o detetive pé-de-chinelo parceiro de
Davis-, colocar clássicos da Motown na trilha e usar figurinos que
poderiam ter vestido Marvin Gaye
passeando em Detroit no inverno.
Claro que tais elementos se subordinam à saraivada de balas,
saltos espetaculares e uma ligeira
nudez da gostosona, mas o diretor
pode ter até imaginado que essas
informações alçariam seu filme a
um lugar próximo dos de violência estilizada de Tarantino e Stone.
É uma suposição. Para mim, a experiência de ver "Despertar" é como a de jogar paint-ball. Alguém
trouxe a águaraz?
Filme: Despertar de um Pesadelo
Direção: Renny Harlin
Produção: EUA (96)
Elenco: Geena Davis, Samuel Jackson,
Craig Bierko
Onde: cines Gazeta, Aricanduva 3, Marabá
e circuito
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