São Paulo, sexta, 20 de março de 1998

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O homem que descobriu os Gallagher

Dono do principal selo independente inglês e conselheiro cultural do governo Tony Blair, Alan McGee fala em entrevista à Folha sobre o fenômeno Oasis, a banda que toca hoje no Rio e amanhã em SP

LÚCIO RIBEIRO
Editor-adjunto interino da Ilustrada

A história da música pop inglesa contemporânea passa necessariamente pelas mãos de "mister" Alan McGee.
Dono da principal gravadora independente do Reino Unido, a Creation Records, McGee é o responsável direto pela explosão do maior fenômeno do rock pós-Nirvana, a banda Oasis, que faz hoje no Rio de Janeiro sua primeira apresentação em terras brasileiras.
Em entrevista exclusiva à Folha, por telefone, de Londres, Alan McGee conta a história do Oasis: como "achou" a banda em 93 e o quanto os irmãos Gallagher foram importantes para salvar a Creation da falência. McGee fala ainda sobre seu trabalho de consultor cultural do governo Tony Blair e o novo disco do Jesus & Mary Chain.

Folha - Você foi o homem que revelou o Oasis ao pop, em 1993. De lá para cá, como você analisa a importância da banda para a história da música inglesa? Gostaria que você falasse menos como seu apelido de "padrinho do britpop", o primeiro a assinar com grupos como Primal Scream, Jesus & Mary Chain e My Bloody Valentine.
Alan McGee -
O Jesus & Mary Chain foi o começo da revolução alternativa da música. Se eles não tivessem existido, talvez não teríamos tido bandas como My Bloody Valentine, Primal Scream, Stone Roses. E, sem os Roses, provavelmente talvez o Oasis também não existiria hoje. Acho que o Oasis é um desses fenômenos que aparecem a cada 20 anos. Basicamente o que eu fiz foi telefonar para os Gallagher e lançar o disco deles.
Folha - Como foi a "descoberta" do Oasis?
McGee -
Foi em Glasgow, Escócia, maio de 1993. Em um bar chamado King Tut's Wah Wah Hut. Cheguei cedo lá. Eu já estava bêbado, inclusive. No bar tinha uns 15 scallies (gíria para garoto operário desempregado). Todos pulando, quebrando tudo ao ver o Oasis. A banda não estava nem anunciada e abriu para três outras atrações daquela noite. O Oasis tocou quatro músicas, achei brilhante. Fui atrás e fechamos o contrato.
Folha - Dizem que no dia seguinte do tal show da Escócia você ligou para o editor do semanário "New Musical Express", Steve Sutherland, para comunicá-lo de que você tinha encontrado "A Banda". Qual é a história?
McGee -
Foi verdade. Falei para ele: "Lembra a última vez que eu liguei para você, nos anos 80, para falar sobre o Jesus & Mary Chain, que eles talvez seriam a melhor banda do mundo. Estou ligando de novo agora para dizer que acabei de achar a melhor banda de rock'n'roll do mundo".
Folha - É verdade que o Oasis salvou a Creation da falência?
McGee -
Foi. Estivemos perto da falência durante uns 10 anos. Como todas as independentes. Aí achamos o ouro e lançamos "Definitely Maybe". Pagamos todas as dívidas que havíamos acumulados durante os 10 anos. Depois veio "Morning Glory", que vendeu até agora 14 milhões de cópias. É, o Oasis tem sido bom para nós.
Folha - O que você achou do último CD da banda, "Be Here Now"?
McGee -
Comercialmente não é tão bom quanto "Morning Glory", talvez porque eles quiseram assim. Mas tem grandes canções.
Folha - Como você define Noel Gallagher?
McGee -
Ele é um cara bastante sério. Muito leal e honesto. E também é um dos melhores compositores que este país já produziu.
Folha - E o Liam?
McGee -
Ele é o melhor cantor de rock do mundo. Ele é melhor que o Elvis. Os cinco melhores de todos os tempos são: Elvis Presley, Rod Stewart, Johnny Rotten, Liam e John Lennon. Liam é o melhor deles. Ele tem a atitude de Johnny Rotten e canta mais que o Lennon. Não dá para ser melhor.
Folha - Para você, qual é a diferença entre o Oasis e as outras bandas de britpop?
McGee -
Não acho que Oasis seja britpop. Oasis é e sempre foram uma banda de rock"n"roll. Na mesma tradição de Stooges, Beatles, Velvet Underground, Sex Pistols. Eles têm atitude para fazer música.
Folha - A Creation assinou com alguma banda nova interessante? Há uma "nova sensação" à vista?
McGee -
Sensação... Não sei. Há algumas boas bandas, Arnold, 3 Colours Red, Hurricane nş 1...
Folha - O Jesus & Mary Chain voltou para a Creation e vai lançar o novo disco, "Munki", em junho. Você já ouviu as novas canções?
McGee -
Claro que já. É muito bom. É o Jesus & Mary Chain sendo Jesus & Mary Chain.
Folha - Você tinha uma banda, a Biff Bang Pow!, nome de certa importância no pop inglês do fim dos anos 90. O Alan McGee músico não pensa em ressuscitar a banda?
McGee -
Não. Estou velho para o rock. Já tenho 27 (risos).
Folha - Para você, quais os discos mais importantes da história da Creation Records?
McGee
- "Loveless" (1991), do My Bloody Valentine, porque é rock de arte. "Screamadelica" (1991), do Primal Scream, porque é fantástico. "(What"s the Story) Morning Glory?" (1995), do Oasis, porque é um pedaço de história do pop. E, claro, o catálogo inteiro do Biff Bang Pow! Brincadeira (risos).
Folha - Você trabalha no governo Tony Blair. Qual é sua função?
McGee -
Sou conselheiro cultural numa chamada "força organizada criativa" do governo.
Folha - É verdade que você botou dinheiro de sua gravadora na campanha do partido trabalhista?
McGee -
Sim. 50 mil libras (perto de R$ 95 mil). Dei o dinheiro para os trabalhistas da Escócia, para chutar os conservadores de lá.
Folha - Na sua opinião, o mandato de Blair está satisfazendo o povo inglês em geral, porque parece que a indústria da música, que apoiava o Primeiro Ministro, ultimamente anda contra?
McGee -
O que importa é que os conservadores estão fora. Agora dá para começarmos a fazer alguma coisa. Opiniões contrárias sempre vão existir.
Folha - Voltando ao Oasis. Como manager da banda, você teme o fim de seu principal grupo, talvez por causa das famosas brigas...
McGee -
Se o Oasis acabar, não vai ser por briga entre eles. Noel e Liam sempre brigaram, mas são os melhores amigos um do outro.



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