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LIVRO - LANÇAMENTOS
Obra documenta Portinari em 37 imagens
ANNA LEE
da Sucursal do Rio
A partir de 1960, o fotógrafo Flávio Damm passou a frequentar a
casa de Candido Portinari (1903-1962), onde também ficava o ateliê
do artista. A intenção, porém, não
era realizar o documentário de fotos sobre a "intimidade profissional" do pintor que será publicado
este ano no livro "37 Anos sem
Portinari, 37 Fotos com Portinari".
O pintor havia pedido ao amigo
Enrico Bianco que lhe indicasse
um fotógrafo para fazer fotos de
sua neta, Denise, que iria nascer.
Portinari usaria as fotos para pintar retratos dela, já que não conseguiria mantê-la quieta.
No entanto, Portinari impôs a
Bianco uma condição para contratar o profissional: ele não podia ser
chato nem fazer perguntas. Assim
Damm conheceu Portinari.
Com as frequentes idas ao apartamento do pintor, na avenida
Atlântica, 900, na praia do Leme
(zona sul do Rio), "sem fazer perguntas e procurando não ser chato", Damm, aos poucos, conquistou a confiança de Portinari.
"Eu permanecia muito tempo
em seu ateliê, assim, o que era inicialmente fotografar a neta se
transformou num dia-a-dia de intimidade e confiança. Como Portinari era uma pessoa muito solitária e passávamos muitas tardes
juntos, chegou um momento em
que ele começou a puxar conversa,
fazer comentários sobre pessoas.
Foi se criando uma simpatia mútua", conta Damm, hoje com 70
anos de idade e 53 de profissão.
"Em determinado momento falou mais alto meu espírito de repórter. Eu me dei conta de que estava dentro da intimidade de Portinari e que até então nenhum pintor brasileiro tinha merecido um
documentário fotográfico. Percebi
que não poderia deixar passar
aquela oportunidade."
Damm, então, começou a fotografar o pintor, a princípio sem
que ele soubesse. Até o dia em que
Portinari começou a chamá-lo para outros trabalhos, como fotografar uma socialite paulista da qual
ele iria fazer um retrato. Foi o sinal.
Damm percebeu que tinha ganho a
confiança de Portinari. Teve certeza de que seu pedido para fotografá-lo não seria recusado.
Obteve não só o consentimento
para fazer as fotografias, como
também a permissão para instalar
uma iluminação especial no teto
do ateliê do pintor, para facilitar
seu trabalho.
Assim, nos dois últimos anos da
vida de Portinari, Damm fez ao todo 600 negativos, dos quais escolheu 37 fotos, algumas delas inéditas, que serão publicadas no livro.
A seleção, diz Damm, foi "dolorosa". Como critério, resolveu
priorizar as fotos nas quais surpreendeu Portinari em momentos
insólitos, sobretudo com a neta,
que, segundo Damm, "deu uma
nova luz à vida do pintor e fez com
que ele deixasse a tristeza e a solidão de lado para ser avô".
Entre as fotos escolhidas, estão
também a de Portinari pintando a
balança na qual Denise foi pesada,
com os mesmos pincéis que usava
para pintar seus quadros, e a sua
última foto, feita por Damm em 24
de janeiro de 1962, 14 dias antes da
morte do artista.
Damm diz que demorou 37 anos
para publicar o documentário que
"hoje tem um valor incomensurável", porque "não quis ser como
uma viúva e usar a morte dele para
divulgar as fotos". Esperou dez
anos, tempo que considerou adequado, e em 1972 publicou "Um
Cândido Pintor Portinari", uma
espécie de ensaio, segundo Damm,
do que será mostrado na obra.
Livro: 37 Anos sem Portinari, 37 Fotos com
Portinari
Autor: Flávio Damm
Lançamento: editora a definir
Quanto: preço a definir (86 págs.)
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