São Paulo, Sábado, 20 de Março de 1999
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LIVRO - LANÇAMENTOS
Obra documenta Portinari em 37 imagens

ANNA LEE
da Sucursal do Rio

A partir de 1960, o fotógrafo Flávio Damm passou a frequentar a casa de Candido Portinari (1903-1962), onde também ficava o ateliê do artista. A intenção, porém, não era realizar o documentário de fotos sobre a "intimidade profissional" do pintor que será publicado este ano no livro "37 Anos sem Portinari, 37 Fotos com Portinari".
O pintor havia pedido ao amigo Enrico Bianco que lhe indicasse um fotógrafo para fazer fotos de sua neta, Denise, que iria nascer. Portinari usaria as fotos para pintar retratos dela, já que não conseguiria mantê-la quieta.
No entanto, Portinari impôs a Bianco uma condição para contratar o profissional: ele não podia ser chato nem fazer perguntas. Assim Damm conheceu Portinari.
Com as frequentes idas ao apartamento do pintor, na avenida Atlântica, 900, na praia do Leme (zona sul do Rio), "sem fazer perguntas e procurando não ser chato", Damm, aos poucos, conquistou a confiança de Portinari.
"Eu permanecia muito tempo em seu ateliê, assim, o que era inicialmente fotografar a neta se transformou num dia-a-dia de intimidade e confiança. Como Portinari era uma pessoa muito solitária e passávamos muitas tardes juntos, chegou um momento em que ele começou a puxar conversa, fazer comentários sobre pessoas. Foi se criando uma simpatia mútua", conta Damm, hoje com 70 anos de idade e 53 de profissão.
"Em determinado momento falou mais alto meu espírito de repórter. Eu me dei conta de que estava dentro da intimidade de Portinari e que até então nenhum pintor brasileiro tinha merecido um documentário fotográfico. Percebi que não poderia deixar passar aquela oportunidade."
Damm, então, começou a fotografar o pintor, a princípio sem que ele soubesse. Até o dia em que Portinari começou a chamá-lo para outros trabalhos, como fotografar uma socialite paulista da qual ele iria fazer um retrato. Foi o sinal. Damm percebeu que tinha ganho a confiança de Portinari. Teve certeza de que seu pedido para fotografá-lo não seria recusado.
Obteve não só o consentimento para fazer as fotografias, como também a permissão para instalar uma iluminação especial no teto do ateliê do pintor, para facilitar seu trabalho.
Assim, nos dois últimos anos da vida de Portinari, Damm fez ao todo 600 negativos, dos quais escolheu 37 fotos, algumas delas inéditas, que serão publicadas no livro.
A seleção, diz Damm, foi "dolorosa". Como critério, resolveu priorizar as fotos nas quais surpreendeu Portinari em momentos insólitos, sobretudo com a neta, que, segundo Damm, "deu uma nova luz à vida do pintor e fez com que ele deixasse a tristeza e a solidão de lado para ser avô".
Entre as fotos escolhidas, estão também a de Portinari pintando a balança na qual Denise foi pesada, com os mesmos pincéis que usava para pintar seus quadros, e a sua última foto, feita por Damm em 24 de janeiro de 1962, 14 dias antes da morte do artista.
Damm diz que demorou 37 anos para publicar o documentário que "hoje tem um valor incomensurável", porque "não quis ser como uma viúva e usar a morte dele para divulgar as fotos". Esperou dez anos, tempo que considerou adequado, e em 1972 publicou "Um Cândido Pintor Portinari", uma espécie de ensaio, segundo Damm, do que será mostrado na obra.

Livro: 37 Anos sem Portinari, 37 Fotos com Portinari
Autor: Flávio Damm
Lançamento: editora a definir
Quanto: preço a definir (86 págs.)



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