São Paulo, Sábado, 20 de Março de 1999
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CRISE
Mudanças na emissora incluem cortes em orçamentos de novelas e seriados e na cobertura de eventos, como a F-1
Rede Globo reduz custos de produções

da Sucursal do Rio

A TV Globo está passando por contenção de despesas, por meio do qual pretende, segundo a direção da emissora, "reduzir os custos das produções, sem contudo alterar a qualidade do produto final".
Esse processo, na prática, significou a demissão de 480 funcionários, 20% do quadro de executivos e 5% das equipes de produção, em novembro do ano passado. No jornalismo não foram feitos cortes. A Folha apurou que o departamento foi considerado enxuto e rentável pela diretora-geral da Globo, Marluce Dias da Silva. Na época das demissões foi feito um pedido a todos os setores da emissora para que reduzissem os custos operacionais e administrativos.
O diretor de núcleo Dênis Carvalho disse que precisou fazer pequenos cortes, como a redução do número de carros disponíveis (de cinco para três) para a produção da nova novela "Andando nas Nuvens", mas "nada que afete a qualidade do programa". Segundo o autor Gilberto Braga, foi pedido a ele que reescrevesse a minissérie "Labirinto", para reduzir as cenas de ação, cuja produção é cara.
O seriado "Mulher", produzido em 1998 em película, este ano está sendo realizado em vídeo digital. A transmissão do GP de Fórmula 1 da Austrália foi feita pelo locutor Galvão Bueno do Rio e não do local da corrida, como é de praxe nesse tipo de evento.
A TV Globo afirmou, em fax enviado à Folha, que o custo médio de cada capítulo de novela permanece "o mesmo: R$ 90 mil, sem distinção de horário". O que não significaria não estar "em busca de melhores formas de apurar os custos e de ganhos de produtividade, mas sem afetar (...) a qualidade final do produto".
As medidas de contenção de despesas foram determinadas por Marluce. Desde quando entrou na emissora, em meados de 91, e mais ainda a partir de 97, quando assumiu a responsabilidade pela área de criação, uma das principais funções de Marluce tem sido tornar mais rentável uma empresa que se acostumou a ganhar e a gastar muito dinheiro.
Embora a empresa venha sofrendo efeitos da retração do mercado publicitário no Brasil e aumento de custos operacionais e administrativos, a direção da TV Globo informa que a emissora atualmente não tem dívidas. Em relatório enviado a investidores estrangeiros com dados de seu balanço anual, trazendo números de dezembro de 98, as Organizações Globo disseram que a dívida da TV Globo era de US$ 10,3 milhões.
O mesmo relatório avalia que o mercado publicitário de TV no Brasil teve uma retração em 98 de 5,4%, caindo de US$ 4 bilhões em 97 para US$ 3,8 bilhões, em valores de 31 de dezembro do ano passado. Desse total, as Organizações Globo afirmam que a TV Globo e suas afiliadas detêm 74% do mercado.
O relatório ainda informa que os custos administrativos e operacionais da TV Globo tiveram aumentos, respectivamente, de 5,7% e 11,9% no ano passado em relação a 97. Pelo relatório, os custos administrativos eram de US$ 192,2 milhões em 97 e aumentaram para US$ 203,2 milhões. Os operacionais cresceram de US$ 681,4 milhões para US$ 762,8 milhões.
No fax enviado à Folha, a TV Globo disse também que "as gestões e as operações fiscais da emissora e as demais empresas das Organizações Globo são (...) independentes e desvinculadas". Isso referindo-se à reportagem publicada na Folha, em 7 de março, na qual a Globo Participações Ltda., a Globopar, aparece em quarto lugar entre as 50 grandes empresas brasileiras que mais têm dívidas em dólar, com um montante de US$ 3,348 bilhões.
A Globopar é a holding em torno da qual se reúnem os empreendimentos do grupo Globo, excetuando a TV e as outras empresas ligadas diretamente à comunicação de massa e à produção cultural.
De acordo com a legislação brasileira, empresas de comunicação têm de pertencer a uma pessoa física. Por isso a TV Globo não está entre as empresas do grupo Globo que compõem a Globopar.
Como prova de que "não tem dívidas nem está vivendo qualquer crise", a TV Globo cita seus últimos investimentos, como a construção de sua nova sede em São Paulo e a construção de um teatro no Projac no Rio.


Colaborou Cristina Grillo, da Sucursal do Rio


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