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CINEMA/ESTRÉIA
"DOMÉSTICAS"
Faxina no grande circuito
Maior produtora de comerciais do país, a O2 faz sua estréia em longa com "Domésticas", baseado em peça
MARCELO RUBENS PAIVA
ESPECIAL PARA A FOLHA
A O2 Filmes, maior produtora
de comerciais do Brasil, lança seu
primeiro longa, "Domésticas, o
Filme". "Quando perguntam a
uma criança o que quer ser quando crescer, ninguém responde
"doméstica", porque isso não é desejo, é uma sina", diz a personagem Roxane (Graziella Moretto)
no encerramento do filme.
Adaptado da peça homônima
de Renata Melo, que atua no filme
e assina, com outros, o roteiro,
"Domésticas" será exibido em
shoppings pela rede Cinemark,
algo não muito comum no cinema brasileiro.
Comemorando dez anos, a produtora lança "Domésticas", orçado em R$ 1,2 milhão (dirigido por
Meirelles, 45, e por Nando Olival,
37), e garante que finca o pé na indústria cinematográfica. Produz,
ainda este ano, a comédia romântica "Viva-Voz" e "Cidade de
Deus", baseado no romance de
Paulo Lins, que começa a ser rodado em julho no Rio.
Meirelles já dirigiu, com Fabrizia Pinto, o longa "Menino Maluquinho 2 - A Aventura" (98). Olival dirigiu os premiados curtas
"Um Dia Logo Depois um Outro"
e "E no Meio Passa um Trem".
Leia trechos da entrevista de Meirelles.
Folha - O cinema é uma realidade
em sua produtora?
Fernando Meirelles - Entramos
pra valer no cinema. E ainda vamos fazer 20 programas sobre sexualidade para a TV Futura e lançamos agora dois curtas.
Folha - O cinema brasileiro é rentável?
Meirelles - Ainda não é um negócio, mas está virando. "Cidade
de Deus", por exemplo, tem só
20% do seu orçamento (R$ 6 milhões) captado no Brasil, pelas leis
de incentivo. O resto vem de fora.
Folha - O que falta para o cinema
brasileiro virar uma indústria de
peso?
Meirelles - Para o público voltar
a acreditar no cinema brasileiro,
bastam filmes bons. A curva de
público que assiste a filmes brasileiros vem subindo nos últimos
cinco anos. Os exibidores, que antes não tinham interesse, estão encampando o filme nacional. "Domésticas" vai ser exibido pela rede
Cinemark, e não pelo circuito alternativo. Prova de que o cinema
brasileiro está tendo retorno.
Folha - Vocês não estão segregando as personagens do filme ao
exibirem em shoppings?
Meirelles - Ao contrário. Escolhemos a Cinemark pois é a rede
que tem mais cinemas em shoppings da periferia de São Paulo.
Folha - Alguém irá perguntar por
que meninos ricos fizeram este filme. Qual a sua resposta?
Meirelles - Porque são personagens ricos e pouco explorados.
Metade do texto nem é nosso, é
transcrito. Apenas criamos cenas
para amarrar 800 páginas de depoimentos de domésticas. O forte
do filme é o depoimento delas.
Depois, para fazer um filme de piratas, não precisa ser pirata.
Folha - Sua empregada assistiu
ao filme?
Meirelles - Assistiu, mas ela é
suspeita, porque tinha dado palpites. Fiz sessões para a imprensa
em que havia domésticas. Em alguns momentos, o público ria, e
elas não. Ao final, duas estavam
sem sair do lugar, chorando.
Marcelo Rubens Paiva é escritor, autor de "Feliz Ano Velho",
entre outros.
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