São Paulo, sexta-feira, 20 de abril de 2001

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CINEMA/ESTRÉIA

"DOMÉSTICAS"

Faxina no grande circuito

Maior produtora de comerciais do país, a O2 faz sua estréia em longa com "Domésticas", baseado em peça

MARCELO RUBENS PAIVA
ESPECIAL PARA A FOLHA

A O2 Filmes, maior produtora de comerciais do Brasil, lança seu primeiro longa, "Domésticas, o Filme". "Quando perguntam a uma criança o que quer ser quando crescer, ninguém responde "doméstica", porque isso não é desejo, é uma sina", diz a personagem Roxane (Graziella Moretto) no encerramento do filme. Adaptado da peça homônima de Renata Melo, que atua no filme e assina, com outros, o roteiro, "Domésticas" será exibido em shoppings pela rede Cinemark, algo não muito comum no cinema brasileiro.
Comemorando dez anos, a produtora lança "Domésticas", orçado em R$ 1,2 milhão (dirigido por Meirelles, 45, e por Nando Olival, 37), e garante que finca o pé na indústria cinematográfica. Produz, ainda este ano, a comédia romântica "Viva-Voz" e "Cidade de Deus", baseado no romance de Paulo Lins, que começa a ser rodado em julho no Rio.
Meirelles já dirigiu, com Fabrizia Pinto, o longa "Menino Maluquinho 2 - A Aventura" (98). Olival dirigiu os premiados curtas "Um Dia Logo Depois um Outro" e "E no Meio Passa um Trem". Leia trechos da entrevista de Meirelles.

Folha - O cinema é uma realidade em sua produtora?
Fernando Meirelles -
Entramos pra valer no cinema. E ainda vamos fazer 20 programas sobre sexualidade para a TV Futura e lançamos agora dois curtas.

Folha - O cinema brasileiro é rentável?
Meirelles -
Ainda não é um negócio, mas está virando. "Cidade de Deus", por exemplo, tem só 20% do seu orçamento (R$ 6 milhões) captado no Brasil, pelas leis de incentivo. O resto vem de fora.

Folha - O que falta para o cinema brasileiro virar uma indústria de peso?
Meirelles -
Para o público voltar a acreditar no cinema brasileiro, bastam filmes bons. A curva de público que assiste a filmes brasileiros vem subindo nos últimos cinco anos. Os exibidores, que antes não tinham interesse, estão encampando o filme nacional. "Domésticas" vai ser exibido pela rede Cinemark, e não pelo circuito alternativo. Prova de que o cinema brasileiro está tendo retorno.

Folha - Vocês não estão segregando as personagens do filme ao exibirem em shoppings?
Meirelles -
Ao contrário. Escolhemos a Cinemark pois é a rede que tem mais cinemas em shoppings da periferia de São Paulo.

Folha - Alguém irá perguntar por que meninos ricos fizeram este filme. Qual a sua resposta?
Meirelles -
Porque são personagens ricos e pouco explorados. Metade do texto nem é nosso, é transcrito. Apenas criamos cenas para amarrar 800 páginas de depoimentos de domésticas. O forte do filme é o depoimento delas. Depois, para fazer um filme de piratas, não precisa ser pirata.

Folha - Sua empregada assistiu ao filme?
Meirelles -
Assistiu, mas ela é suspeita, porque tinha dado palpites. Fiz sessões para a imprensa em que havia domésticas. Em alguns momentos, o público ria, e elas não. Ao final, duas estavam sem sair do lugar, chorando.


Marcelo Rubens Paiva é escritor, autor de "Feliz Ano Velho", entre outros.


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