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CINEMA/ESTRÉIAS
"A MEXICANA"
Ator é responsável por escolha do roteiro de seu novo filme, que já arrecadou 65 milhões de dólares nos EUA
Brad Pitt arrisca-se como galã simpático
MILLY LACOMBE
FREE-LANCE PARA A FOLHA
"A Mexicana" deve sua vida a
Brad Pitt. Essa relíquia em forma
de pistola do século 19 -que dá
nome ao filme- ganhou cores
fortes somente depois que Pitt
manifestou interesse pelo roteiro,
que circulava há uma década por
Hollywood sem que houvesse
comprador.
A curiosidade de Pitt deu imediato status ao projeto, despertando a simpatia da DreamWorks,
de Julia Roberts e James Gandolfini -o mafioso da série televisiva
"Família Sopranos" que é considerado símbolo sexual da mulher
inteligente e, com esse filme, o
provável novo ícone gay.
"Não entendo por que um
script tão original e inusitado ficou por tanto tempo à deriva",
disse Pitt à Folha em Los Angeles.
"A trama é bem elaborada, e os
gêneros cinematográficos são intercalados de forma soberba. É
uma irreverente comédia romântica com aspectos negros e dramáticos", disse.
Mas o caráter semi-independente do filme, que custou 35 milhões de dólares, menos da metade da soma dos salários de suas
duas estrelas, foi o que definitivamente conquistou Pitt, um ator
que escolhe seus papéis pela intelectualidade incomum do roteiro.
"Não penso mais em dinheiro,
penso apenas na originalidade do
script e no diretor que terá seu nome associado ao projeto", completou ele, cujos últimos quatro
filmes arrecadaram US$ 135 milhões em bilheteria enquanto os
de Tom Hanks, por exemplo, somaram quase US$ 700 milhões.
"Escolher um filme é como jogar. Quanto maior o risco, maior
o lucro, e eu adoro arriscar alto",
disse. Assim, "A Mexicana" parecia ser a aposta certa: além do roteiro original, Julia Roberts, para
Pitt, justificaria o salário reduzido. "Não poderia deixar de contracenar com ela."
Mas o grande risco aqui foi
aventurar-se por um papel quase
convencional, o de galã simpático
e facilmente identificável, longe
de seus usuais personagens descaracterizados.
Dividindo o espaço com Roberts na tela por menos de meia
hora, Pitt passou grande parte
desse tempo encenando intermináveis discussões calorosas com a
atriz. "Essas cenas podem parecer
improvisadas, mas não são", disse. "Procuramos ser fiéis ao roteiro para não arruinar sua cadência,
que era muito específica. Além
disso, Julia consegue falar freneticamente e sem pausas, e eu certamente perderia uma discussão
improvisada com ela", brincou.
O ator afirma ainda que filmar
por quase dois meses em uma minúscula vila no interior do México
acabou sendo uma experiência
impagável. "Não tínhamos trailers, não tínhamos luxo, comíamos a comida local e muitas vezes
era eu que carregava coisas no set.
O filme consegue passar toda essa
autenticidade."
Para o diretor Gore Verbinski,
contar com Roberts, Pitt e Gandolfini o deixou livre para ousar.
"Não fiz o storyboard de nada.
Procurei ser menos intelectual e
mais intuitivo e não cair na tentação de estilizar o filme", disse.
Por outro lado, ter um elenco
estelar pode significar pressão
sem igual. "Se o filme for um sucesso, foi por causa do elenco. Se
der errado, a culpa é do diretor",
brincou Verbinski. Ele então pode respirar aliviado: "A Mexicana" arrecadou, somente em território americano, US$ 65 milhões.
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