São Paulo, sexta-feira, 20 de abril de 2001

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CINEMA/ESTRÉIAS

"A MEXICANA"

Ator é responsável por escolha do roteiro de seu novo filme, que já arrecadou 65 milhões de dólares nos EUA

Brad Pitt arrisca-se como galã simpático

MILLY LACOMBE
FREE-LANCE PARA A FOLHA

"A Mexicana" deve sua vida a Brad Pitt. Essa relíquia em forma de pistola do século 19 -que dá nome ao filme- ganhou cores fortes somente depois que Pitt manifestou interesse pelo roteiro, que circulava há uma década por Hollywood sem que houvesse comprador.
A curiosidade de Pitt deu imediato status ao projeto, despertando a simpatia da DreamWorks, de Julia Roberts e James Gandolfini -o mafioso da série televisiva "Família Sopranos" que é considerado símbolo sexual da mulher inteligente e, com esse filme, o provável novo ícone gay.
"Não entendo por que um script tão original e inusitado ficou por tanto tempo à deriva", disse Pitt à Folha em Los Angeles. "A trama é bem elaborada, e os gêneros cinematográficos são intercalados de forma soberba. É uma irreverente comédia romântica com aspectos negros e dramáticos", disse.
Mas o caráter semi-independente do filme, que custou 35 milhões de dólares, menos da metade da soma dos salários de suas duas estrelas, foi o que definitivamente conquistou Pitt, um ator que escolhe seus papéis pela intelectualidade incomum do roteiro.
"Não penso mais em dinheiro, penso apenas na originalidade do script e no diretor que terá seu nome associado ao projeto", completou ele, cujos últimos quatro filmes arrecadaram US$ 135 milhões em bilheteria enquanto os de Tom Hanks, por exemplo, somaram quase US$ 700 milhões.
"Escolher um filme é como jogar. Quanto maior o risco, maior o lucro, e eu adoro arriscar alto", disse. Assim, "A Mexicana" parecia ser a aposta certa: além do roteiro original, Julia Roberts, para Pitt, justificaria o salário reduzido. "Não poderia deixar de contracenar com ela."
Mas o grande risco aqui foi aventurar-se por um papel quase convencional, o de galã simpático e facilmente identificável, longe de seus usuais personagens descaracterizados.
Dividindo o espaço com Roberts na tela por menos de meia hora, Pitt passou grande parte desse tempo encenando intermináveis discussões calorosas com a atriz. "Essas cenas podem parecer improvisadas, mas não são", disse. "Procuramos ser fiéis ao roteiro para não arruinar sua cadência, que era muito específica. Além disso, Julia consegue falar freneticamente e sem pausas, e eu certamente perderia uma discussão improvisada com ela", brincou.
O ator afirma ainda que filmar por quase dois meses em uma minúscula vila no interior do México acabou sendo uma experiência impagável. "Não tínhamos trailers, não tínhamos luxo, comíamos a comida local e muitas vezes era eu que carregava coisas no set. O filme consegue passar toda essa autenticidade."
Para o diretor Gore Verbinski, contar com Roberts, Pitt e Gandolfini o deixou livre para ousar. "Não fiz o storyboard de nada. Procurei ser menos intelectual e mais intuitivo e não cair na tentação de estilizar o filme", disse.
Por outro lado, ter um elenco estelar pode significar pressão sem igual. "Se o filme for um sucesso, foi por causa do elenco. Se der errado, a culpa é do diretor", brincou Verbinski. Ele então pode respirar aliviado: "A Mexicana" arrecadou, somente em território americano, US$ 65 milhões.


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