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"SWEETIE"
Longa de Jane Campion revela o absurdo da condição humana
FLÁVIA CESARINO COSTA
ESPECIAL PARA A FOLHA
"Sweetie" é o primeiro longa da neozelandesa Jane
Campion, lançado em 89, mas
que chega só agora ao Brasil. Aluna da Escola Nacional de Cinema
da Austrália, Campion ganhou o
Leão de Prata em Veneza, com
"Um Anjo em Minha Mesa" (90),
e o Leão de Ouro e o Oscar de melhor roteiro por "O Piano" (93).
"Sweetie" tem força de primeiro
filme e discute as loucuras de uma
família desajustada de classe média sem querer suavizar tensões e
ganhar rapidamente o público. Os
ambientes são fotografados de
modo a criar uma sensação delirante de hiper-realidade encravada em situações cotidianas que se
esperaria banais.
Dizem os psiquiatras que um
membro mais fraco da família
concentra as patologias dispersas
no ambiente, cedendo às pressões
de fazer o papel de louco, enquanto o resto procura fazer o teatro da
improvável normalidade. É o caso
de Sweetie, que com 20 e poucos
anos não consegue romper esse
círculo em que todos escondem
suas melancolias.
A história é contada por Kay, irmã de Sweetie que, ao contrário, é
muito pressionada a atuar normalmente, mas sofre todo o tempo as assombrações de infância e
impedimentos que lhe tiram a capacidade de se expressar.
Uma vidente revela a Kay que
ela se apaixonará por um homem
com um ponto de interrogação
no rosto. Ela vê no noivo de uma
amiga uma mecha de cabelo em
curva que parece confirmar a premonição e resolve casar com ele.
Mas Kay tem terror infantil a árvores, e, quando o marido resolve
plantar uma no quintal, tudo se
complica. Além disso, um dia a
egoísta e perturbada Sweetie aparece na casa da irmã, acompanhada de um namorado que se diz
seu produtor, agravando a crise.
Aos poucos percebe-se que o retorno de Sweetie é um lembrete
incômodo do desarranjo familiar.
Mas nós nos afeiçoamos aos personagens porque eles são um
pouco como todos nós.
Há momentos muito engraçados e ao mesmo tempo tocantes,
quando cada um tenta sobreviver
com estratégias absurdas. A mãe
resolve abandonar o pai, que mima a filha, e vai trabalhar de cozinheira num posto de beira de estrada. Kay arranca a árvore plantada pelo marido e começa a perder seu desejo sexual. O pai não
sabe como organizar os pratos envoltos em papel filme, designados
para cada dia da semana, que a
mulher deixou no congelador antes de partir.
Nesse imbróglio, a aparição e as
loucuras de Sweetie nem parecem
tão absurdas. Absurda, como diz
o filme, é a condição humana.
Flávia Cesarino Costa é professora da
FAAP e autora de "O Primeiro Cinema"
(Scritta, 1995)
Sweetie
Sweetie
Direção: Jane Campion
Produção: Austrália, 1989
Quando: a partir de hoje no Top Cine 2
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