São Paulo, terça-feira, 20 de abril de 2004

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DOCUMENTÁRIO

Leone revê a América com olhos homéricos

DA REDAÇÃO

Que todo artista -sobretudo os grandes- tem segredos todo mundo sabe. Alguns desses mistérios são guardados sob sete chaves por que deles depende a beleza de certas obras. Outros, porém, quando trazidos à luz, ajudam a ver o complexo onde aparentemente reina o simples.
Este princípio justifica o interesse do perfil do diretor italiano Sergio Leone (1929-1989) que o Eurochannel apresenta amanhã. De sua biografia, que o documentário trata com intimidade, emerge uma dedicação ao cinema como se fosse uma predestinação.
Filho de Vincenzo Leone, um dos pioneiros do cinema italiano, Sergio freqüentava estúdios desde garoto e participava tanto com aparições na tela quanto atuando como assistente. Ainda muito jovem, ele inclui em seu currículo o fundador "Ladrões de Bicicleta", de Vittorio De Sica.
Na Cinecittá dos anos 50, Leone amplia seu repertório de cinema hollywoodiano dirigindo segundas unidades de grandes produções filmadas nos estúdios romanos. Entre elas, a histórica corrida de bigas de "Ben Hur".
O Leone que se lança à direção no "peplum" "O Colosso de Rodes" (1961) não se perde em inexperiências, ao contrário. Ali ele já testa sua habilidade de reinterpretar gêneros supercodificados, como, neste caso, o filme mitológico de ação. Depois, com os western-spaghetti, Leone conduzirá essa subversão ao paroxismo no faroeste-ópera (e obra-prima) "Era uma Vez no Oeste".
Com uma fórmula aparentemente simples, Leone desvenda a matriz dessa reinvenção. Ele confessa ter partido da idéia de que o western é um espaço do mito. Será, portanto, com a retomada de mitos em sua forma clássica -diretamente em Homero, onde o par civilização e conflito começa a andar de mãos dadas- que seus sonhos ganham a força para ultrapassar o "sonho americano".
Movidos por essas forças, não é à toa que os filmes de Leone alcançaram o status de míticos.


SERGIO LEONE - Quando: amanhã, às 21h, no Eurochannel.


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