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Cinema/estréias
"Chega de verdade pela metade", diz Ratton
Diretor de "Batismo de Sangue" vê "pacto de silêncio" sobre a tortura no Brasil
Estréia hoje em seis capitais brasileiras o longa baseado em livro homônimo de Frei Betto, que deu a Helvécio Ratton o troféu Candango
SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL
O longa "Batismo de Sangue", de Helvécio Ratton, que
estréia hoje em seis capitais
brasileiras, é baseado no livro
homônimo de Frei Betto.
Portanto, "tem a tortura como um personagem central",
observa o diretor, já que o filme
narra o apoio de frades dominicanos a grupos de esquerda que
lutavam contra a ditadura militar brasileira dos 60 e, sobretudo, os efeitos da prisão e tortura
em Frei Tito (Caio Blat), que se
suicidou na França, em 1974,
aos 29 anos, sofrendo de visões
persecutórias.
Quando "Batismo de Sangue" deu a Ratton o troféu Candango de melhor diretor, no
Festival de Brasília, no ano passado, Frei Betto referendou o
filme e a iniciativa de abordar
os anos de chumbo no cinema.
"Não queremos vingança,
mas esquecer seria injusto",
afirmou o religioso. Ratton, que
viveu exilado no Chile durante
a ditadura militar, diz que "o revanchismo" tampouco é sua
meta com o filme, mas acredita
que "se estabeleceu no Brasil
um pacto de silêncio em relação à tortura".
O diretor pretendeu romper
esse pacto, filmando com intenso realismo as cenas de tortura que terminaram por arrancar dos frades a informação
que levou ao assassinato, em
1969, do líder guerrilheiro Carlos Marighella (Marku Ribas)
pelo delegado Fleury (Cassio
Gabus Mendes) e sua equipe.
"Tito foi quebrado pela tortura. Mostrar isso com meias-verdades seria de um cinismo
enorme, em nome não sei de
quê, a não ser esse pacto do silêncio. Chega de meias-verdades. Vamos às verdades inteiras", afirma o diretor.
Tortura
A representação da tortura
por Ratton em "Batismo de
Sangue" tem sido um aspecto
questionado pela crítica -a da
Folha inclusive-
que enxerga nela certa intenção sádica do cineasta.
Ratton diz se espantar com o
fato de que a mesma atenção da
crítica brasileira não se volte
para "[O blockbuster norte-americano] "300" [de Zack
Snyder], em que a violência é
muito mais explícita e brutal".
"300", em cartaz no Brasil,
trata da batalha de Termópilas,
em que soldados espartanos
enfrentam o exército persa.
Para o diretor, no entanto, há
uma explicação para o incômodo que a abordagem da tortura
em seu filme provoca. "Acho
que o que dói em "Batismo de
Sangue" é que aquilo aconteceu
realmente e há muito pouco
tempo. Foi ontem, em relação
ao tempo histórico. Os personagens dessa história ainda estão vivos", afirma.
Mas não é só a barbárie que
"Batismo de Sangue" encena.
Numa reconstituída carceragem do DOPs que existiu em
São Paulo, os frades presos rezam uma missa em que o vinho
é substituído por Q-Suco de uva
e a hóstia, por bolachas Maria.
"Acho que essa cena passa a
idéia da resistência, não a física,
mas aquela que possibilita
emergir de um momento de desespero", avalia o diretor, que
prepara novo longa com "um
pouco de leveza, para compensar a densidade".
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