|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
PESQUISA
Projeto que reúne profissionais da Unicamp refaz trajeto que alemão percorreu entre os anos de 1824 e 1829
Expedição redescobre Brasil de Langsdorff
DÉBORA MENEZES
free-lance para a Folha Campinas
Pesquisadores da Unicamp
(Universidade Estadual de Campinas) e de outras instituições do
país vão refazer, a partir de agosto,
os caminhos de Georg Heinrich
von Langsdorff (1774-1852), viajante responsável por uma expedição que percorreu 17 mil quilômetros pelo Brasil entre os anos de
1824 e 1829 documentando a flora,
a fauna e costumes culturais.
A expedição, batizada por
Langsdorff com seu nome, resultou em mais de 1.200 páginas de
diários.
Além de observações científicas,
o olhar aguçado do alemão naturalizado russo captou imagens do
cotidiano brasileiro -das fazendas de Minas Gerais às tribos indígenas do Mato Grosso e da Amazônia- em material preparado
para a realização de um estudo sociológico.
O projeto "Langsdorff de Volta"
faz parte das comemorações dos
500 anos do descobrimento do
Brasil.
Existem centenas de aquarelas e
croquis feitos pelos artistas Johann Moritz Rugendas, Aymé-Adrien Taunay e Hércules Florence,
contratados por Langsdorff para
fazer a documentação visual de toda a trajetória.
Durante a expedição, foi possível
coletar cerca de 100 mil espécies de
plantas, o que permitiu a identificação de pelo menos 15% da flora
brasileira.
Redescoberta
Depois do término da viagem,
que teve um desfecho dramático
-homens doentes e Langsdorff
com febre e perda de memória,
por exemplo-, os diários do
mentor da expedição permaneceram esquecidos em uma sala do
Jardim Botânico de São Petersburgo, na Rússia.
Cem anos depois, em 1930, surpreendendo intelectuais russos
por sua riqueza de conteúdo, o
material foi redescoberto.
Irreconhecível
Várias equipes diferentes devem
verificar as mudanças que ocorreram 150 anos depois do início da
expedição. A expectativa dos pesquisadores é encontrar pela frente
um país tão diversificado como difícil de reconhecer.
Nas palavras do próprio Langsdorff em seus diários, fica o alerta
e o desafio: "Quero, com ênfase e
insistência, alertar os futuros viajantes para as inúmeras dificuldades a que, inevitavelmente, terão
de se sujeitar no Brasil".
A Associação Internacional de
Estudos Langsdorff (AIEL) vai organizar as viagens, mas não deve
participar de toda a trajetória brasileira, que inclui aproximadamente 350 localidades, entre vilas,
povoados e fazendas.
O coordenador da AIEL, Danúzio Gil Bernardino da Silva, 36,
disse que quer envolver pesquisadores de cada região por onde a
nova expedição passar.
"A comunidade acadêmica de
cada região do país conhece melhor do que ninguém o seu espaço
e vai se responsabilizar pela coleta
de dados, além de desenvolver um
estudo comparativo da atualidade
com a época de Langsdorff. Eles
poderão até propor alternativas de
desenvolvimento para a comunidade", afirmou.
Custo
Cada etapa da expedição deve
custar, no mínimo, R$ 450 mil,
que devem ser utilizados para cobrir gastos com bolsas de pesquisa, hospedagem, alimentação e
condução das equipes.
Os grupos devem ser coordenados pela AIEL, na Unicamp. A associação já tem o apoio de empresas privadas que participaram do
projeto de lançamento dos diários
de Langsdorff, como a indústria
de cosméticos Clarity By Luma de
Oliveira, a JPX, a Siemens e a Engep. O projeto está solicitando
também o apoio do Ministério de
Ciências e Tecnologia e do Fundo
Nacional de Meio Ambiente.
Em Minas Gerais, a expedição
deve começar por Belo Horizonte
e envolver 30 pesquisadores locais.
Em seguida, passa por cidades
históricas como São João Del Rey,
Ouro Preto e Sabará. Só em Minas,
Langsdorff passou por diversos vilarejos e fazendas e conheceu a exploração do ouro feita no Estado.
Em seu diário, registrou que a
extração de ouro parecia arrasar
vales e morros tanto quanto se
uma "tromba d'água" tivesse passado por cima deles.
Pelo menos seis meses serão gastos com as viagens e no mínimo
um ano será consumido para organizar tudo o que foi registrado
pelos participantes do projeto.
A próxima etapa, no Estado de
São Paulo, está prevista para começar em 99. Em seguida, deverão
ser feitas as expedições para o Mato Grosso e a mais difícil da aventura planejada por Langsdorff, na
região amazônica.
Trabalho
Todo o material recolhido deve
render livros, CD-ROMs, exposições e outros produtos.
No futuro, a associação quer
reunir materiais sobre histórias
referentes a outros viajantes que
exploraram o Brasil e se transformar em um centro de referência
sobre o assunto.
"Os relatos estão ganhando cada vez mais importância dentro da
cultura do país", disse Danúzio da
Silva.
Segundo ele, "muitos textos
vêm carregados de vícios de uma
visão pejorativa sobre o país".
"Nossa intenção é também elaborar um material crítico sobre isso", afirmou o pesquisador da
Unicamp.
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|