São Paulo, sábado, 20 de maio de 2000


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CANNES

Andersson, Gray e Kar-wai encerram competição

AMIR LABAKI
ENVIADO ESPECIAL A CANNES

T rês filmes encerram hoje a mais equilibrada e interessante competição recente em Cannes. São o sueco "Sanger Fran Andra Vaningen" (Canções do Segundo Andar), de Roy Andersson, o americano "The Yards" (As Margens, em tradução não-literal), de James Gray, e o chinês de Hong Kong "In the Mood for Love" (No Clima para Amar), de Wong Kar-wai. Acontece também a projeção dos curtas concorrentes à Palma de Ouro, incluindo o brasileiro "Três Minutos", de Ana Luiza Azevedo, na abertura da sessão.
Do trio final, apenas o filme de Andersson já ganhou projeção para a imprensa. É seu terceiro longa em mais de 30 anos de carreira. Os dois primeiros, "A Swedish Love Story" (Uma História de Amor Sueca, de 1970) e "Giliap" (1976), foram bem recebidos como retratos sensíveis da sociedade nórdica, mas não traziam a inovação dos curtas que o celebrizaram no final dos anos 80.
"Alguma Coisa Aconteceu" (1987) e "Mundo de Glória" (1991) provocaram culto e colecionaram prêmios nos principais festivais de curtas do planeta. A banalização da morte e a desumanização contemporânea são cruelmente dissecadas por meio de um estilo minimalista, em que personagens cadavéricos habitam um mundo congelado por uma câmera estática.
Há cinco anos, Andersson, 56, recolhia-se para rodar seu novo longa. "Canções do Segundo Andar" ganhou humor, mas perdeu a contundência dos curtas.
Os "tableaux-vivants" de Andersson estruturam-se desta vez com uma linha narrativa mais tradicional. Numa metrópole anônima, um burguês cinquentão, Karl (Lars Nordh), perde tudo e tenta reconstruir a vida vendendo cruzes. Do ponto de vista dramático, o mundo de Andersson é um misto de Beckett e Greenaway. Do pictórico, parece o universo melancólico de Edward Hopper habitado por caricaturas de Georg Grosz.
"Canções", infelizmente, perde fôlego na metade do caminho. Quadros, idéias e personagens se repetem. O impacto inicial se reduz quanto mais o filme se estica, embora só dure cem minutos.
Também o austríaco Michael Hanecke ("Funny Games") trouxe para a disputa um título menor em sua filmografia. "Code Inconnu" (Código Desconhecido) é mais uma de suas fragmentárias fábulas sobre o poder do destino e a armadilha da incomunicabilidade. Três histórias principais cruzam-se em Paris: a de uma atriz francesa (Juliette Binoche), a de uma imigrante ilegal romena e a de uma família africana.
Por fim, "Esther Kahn" encerrou a participação francesa com um drama dickensiano rodado em inglês por Arnaud Desplechin ("A Sentinela"). No melhor de seus quatro filmes, o diretor acompanha a educação de uma jovem (Summer Phoenix) que treina para tornar-se atriz de teatro na Londres do século 19. Não é para prêmios, mas dá para ver.


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