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CANNES
Andersson, Gray e Kar-wai encerram competição
AMIR LABAKI
ENVIADO ESPECIAL A CANNES
T rês filmes encerram hoje a
mais equilibrada e interessante competição recente em
Cannes. São o sueco "Sanger Fran
Andra Vaningen" (Canções do
Segundo Andar), de Roy Andersson, o americano "The Yards" (As
Margens, em tradução não-literal), de James Gray, e o chinês de
Hong Kong "In the Mood for Love" (No Clima para Amar), de
Wong Kar-wai. Acontece também a projeção dos curtas concorrentes à Palma de Ouro, incluindo o brasileiro "Três Minutos", de Ana Luiza Azevedo, na
abertura da sessão.
Do trio final, apenas o filme de
Andersson já ganhou projeção
para a imprensa. É seu terceiro
longa em mais de 30 anos de carreira. Os dois primeiros, "A Swedish Love Story" (Uma História
de Amor Sueca, de 1970) e "Giliap" (1976), foram bem recebidos
como retratos sensíveis da sociedade nórdica, mas não traziam a
inovação dos curtas que o celebrizaram no final dos anos 80.
"Alguma Coisa Aconteceu"
(1987) e "Mundo de Glória"
(1991) provocaram culto e colecionaram prêmios nos principais
festivais de curtas do planeta. A
banalização da morte e a desumanização contemporânea são
cruelmente dissecadas por meio
de um estilo minimalista, em que
personagens cadavéricos habitam
um mundo congelado por uma
câmera estática.
Há cinco anos, Andersson, 56,
recolhia-se para rodar seu novo
longa. "Canções do Segundo Andar" ganhou humor, mas perdeu
a contundência dos curtas.
Os "tableaux-vivants" de Andersson estruturam-se desta vez
com uma linha narrativa mais tradicional. Numa metrópole anônima, um burguês cinquentão, Karl
(Lars Nordh), perde tudo e tenta
reconstruir a vida vendendo cruzes. Do ponto de vista dramático,
o mundo de Andersson é um misto de Beckett e Greenaway. Do
pictórico, parece o universo melancólico de Edward Hopper habitado por caricaturas de Georg
Grosz.
"Canções", infelizmente, perde
fôlego na metade do caminho.
Quadros, idéias e personagens se
repetem. O impacto inicial se reduz quanto mais o filme se estica,
embora só dure cem minutos.
Também o austríaco Michael
Hanecke ("Funny Games") trouxe para a disputa um título menor
em sua filmografia. "Code Inconnu" (Código Desconhecido) é
mais uma de suas fragmentárias
fábulas sobre o poder do destino e
a armadilha da incomunicabilidade. Três histórias principais cruzam-se em Paris: a de uma atriz
francesa (Juliette Binoche), a de
uma imigrante ilegal romena e a
de uma família africana.
Por fim, "Esther Kahn" encerrou a participação francesa com
um drama dickensiano rodado
em inglês por Arnaud Desplechin
("A Sentinela"). No melhor de
seus quatro filmes, o diretor
acompanha a educação de uma
jovem (Summer Phoenix) que
treina para tornar-se atriz de teatro na Londres do século 19. Não é
para prêmios, mas dá para ver.
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