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POLÍTICA CULTURAL
Proposta revoga Lei Mendonça e estende patrocínio a "trabalhos comunitários de caráter exemplar"
Projeto modifica lei de renúncia fiscal
SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL
De 1996 a 2001, R$ 81,8 milhões
devidos em ISS e IPTU na cidade
de São Paulo foram destinados ao
patrocínio de projetos culturais
por meio da Lei Mendonça. O valor é pequeno, se comparado ao
total da dotação orçamentária
aprovado para renúncia fiscal no
período: R$ 219,4 milhões.
Os seis anos correspondem a
mais metade do tempo de funcionamento da lei proposta pelo
atual secretário de Cultura do Estado de São Paulo, Marcos Mendonça, que foi sancionada em dezembro de 90 e está em funcionamento desde 91.
Autor de projeto que revoga a
Lei Mendonça e propõe novo texto com modificações na essência
do uso da renúncia fiscal, o vereador Nabil Bonduki (PT) acha que
na década em vigor o mecanismo
"não democratizou o acesso dos
pequenos empreendedores nem
contemplou o florescimento cultural na periferia de São Paulo".
São, portanto, dois os eixos do
projeto de lei de Bonduki: estender a abrangência da lei para projetos de "cidadania cultural e valores educativos, numa perspectiva mais ampla do que se tem considerado produção cultural" e facilitar o acesso aos recursos para
empreendedores independentes.
O segundo objetivo seria atingido através de um fundo suprido
com a taxação dos valores captados por projetos de maior envergadura (19% nas captações acima
de R$ 150 mil) e de 50% de toda a
verba utilizada por instituições
culturais que renunciam impostos em benefício próprio.
"Bonduki está bem-intencionado, mas é equivocado o seu projeto", diz Mendonça (PSDB). O secretário afirma que a proposta do
vereador petista "busca uma fórmula de financiamento para
quem eventualmente não consegue patrocínio" e erra ao "penalizar o produtor cultural, que deverá abrir mão do que captou para
financiar outros projetos".
O presidente da Associação dos
Museus do Estado de São Paulo,
Michel Etlin, também discorda
das mudanças sugeridas. "O patrocinador vai desistir de usar a
Lei Mendonça. A definição é
completamente vaga. Diz que o
dinheiro pode ser usado para projeto inovador de cidadania, com
efeito multiplicador. Se eu tenho
um projeto de renda mínima, por
exemplo, então posso usar a lei? É
um projeto meramente político
com a aparência de ajudar os pequenos empreendedores", diz.
O secretário municipal da Cultura, Marco Aurélio Garcia, afirmou na última sexta, durante seminário que debateu o projeto de
lei, na Câmara dos Vereadores,
que a idéia é "meritória", mas sugeriu sua apresentação das propostas separadas em dois projetos
de lei -um específico para a renúncia fiscal e outro para o fundo
de financiamento de projetos.
Garcia citou a Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) como uma espécie "modelar" de fundo, baseado em "critérios meritocráticos".
O produtor independente
Eduardo Kishimoto, que teve autorização para captar R$ 55 mil
pela Lei Mendonça para fazer um
documentário sobre o fotógrafo
Mário Carneiro, mas não conseguiu levantar o patrocínio, diz:
"O que acho complicado nesse
sistema é que você precisa estar
muito afinado com as empresas
investidoras. Ingenuamente, pensei que um projeto mais barato teria mais facilidade de captar. Talvez seja o contrário. É provável
que exista uma facilidade maior
para projetos mais bem amparados, com pessoas conhecidas".
Publicamente, Bonduki e Garcia agem de modo a afastar a hipótese de uma situação de conflito no tratamento da questão. No
debate de sexta, o vereador disse:
"Não queria deixar de fazer referência ao fato de que a nova gestão tem instituído outras formas
de gerir a lei" e ressaltou que as
avaliações negativas que faz do
uso do benefício "se relacionam
muito mais ao período Maluf e
Pitta que à atual administração".
Garcia tornou a afirmar que,
quando assumiu, foi "confrontado com casos aberrantes de utilização de dinheiro público para
projetos que não tinham nenhuma consistência cultural e eram
muito caros", mas não citou nenhum especificamente.
No ano passado, o secretário
anunciou que faria uma auditoria
nos dez anos de uso da lei. A auditoria não foi realizada. "Criamos
um observatório da lei, para
quantificar seu impacto", disse.
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