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MULTA PESADA
Emissora diz que pesquisou a legislação, mas não criou o programa para promover a educação no trânsito
Rede Globo e caminhoneiros defendem Pedro e Bino
DA REPORTAGEM LOCAL
O caminhoneiro sabe distinguir
realidade de ficção e "Carga Pesada" não foi desenvolvido com o
objetivo de fazer educação de
trânsito. Essas são as duas premissas básicas da Globo para explicar porque há tantas infrações
em seu "road show", segundo a
Central Globo de Comunicação.
"Os adultos, em especial caminhoneiros, compõem a maior
parte de público, que sabem da
realidade das estradas e têm clareza de que "Carga Pesada" é uma
obra de ficção, para entretenimento do público, e não um documentário. Os caminhoneiros sabem do perigo real que enfrentam no seu cotidiano e não se deixam seduzir pela fantasia de uma ficção", afirma o texto da CGC.
"É uma decisão louvável e rica um programa de televisão se destinar a educação de trânsito mas Carga Pesada não foi criada nem
desenvolvida com esse objetivo."
Segundo a Central Globo de Comunicação, a produção de "Carga
Pesada" pesquisou a legislação
para que os personagens "tivessem o comportamento adequado
ao dirigir". A emissora diz não ter
encontrado "qualquer definição
mais objetiva no Código Nacional
de Trânsito que regulamente essa
atitude [falar no rádio ao dirigir]."
A infração, entretanto, está prevista no artigo 252, que diz ser
proibido dirigir o veículo "com
apenas uma das mãos".
A Globo também afirma que o
terceiro passageiro sempre está
com cinto abdominal: "usou-se o
plano fechado nos atores e portanto não foi possível ver o cinto."
Mas há passagens que claramente
revelam o contrário, como a que o
filho de Bino está na boléia, no segundo episódio.
Caminhoneiros agradecem
Para o Movimento União Brasil
Caminhoneiro, as infrações não
apagam o brilho de "Carga Pesada". "Na nossa opinião, o programa é extremamente valioso", afirma Nelson Botelho, presidente da
entidade. Segundo ele, o movimento congrega 1,8 milhão de
profissionais da categoria.
"Apoiamos o programa porque
ele é muito útil para nós, ao divulgar a classe e a atividade do caminhoneiro. Eu diria que esses erros
são involuntários. Os diretores
não têm muita noção", diz Botelho, que coloca a culpa de algumas das multas no Código de Trânsito Brasileiro.
"Há uma diferença muito grande entre um empresário fechar
um negócio pelo celular, ou um
garotão falando com a namorada,
e um caminhoneiro se comunicando pelo rádio. É infração, sim,
mas não dá para cumprir o código 100%. Deveria haver um código específico para o motorista profissional", sugere ele.
Botelho contou de outras falhas
do programa, que jamais aconteceriam na vida real: "Caminhão
não atravessa a ponte Rio-Niterói
de dia, como foi mostrado. E não
existe pedágio no local em que Pedro e Bino pagaram, na Bahia."
Outro que notou os erros foi o
jornalista Antonio Carlos Macedo, que listou várias infrações em
sua coluna no "Diário Gaúcho" e
classificou como "lamentável" o
desrespeito às leis do trânsito.
Para Roberto Scaringella, o fundador da CET que aplicou as multas em Pedro, Bino e Rosa, a luta é antiga. "Há 15 anos, quando eu
presidia o Conselho Nacional de
Trânsito, pedimos às emissoras
que colocassem cinto de segurança nas novelas. Disseram que só
topariam se nós pagássemos como se fosse merchandising."
Para impedir possíveis infrações na reestréia do programa,
Scaringella coloca seu site à disposição dos produtores do programa para responder a dúvidas de
trânsito (www.scaringella-transito.com.br). "É gratuito", avisa ele.
(IVAN FINOTTI)
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