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São Paulo, terça-feira, 20 de maio de 2003

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O arquiteto do movimento

Divulgação
O americano William Forsythe, que virá ao Brasil em junho



O coreógrafo William Forsythe exalta importância que têm as descontinuidades em sua obra


INÊS BOGÉA
CRÍTICA DA FOLHA

O Frankfurt Ballett, por consenso uma das companhias mais importantes da dança contemporânea, vem ao Brasil em junho. Principal responsável pela identidade do grupo, o coreógrafo William Forsythe (1949) falou à Folha, por telefone, sobre seu trabalho, sua visão da dança hoje e seus planos a partir de 2004, quando deixará o Frankfurt Ballett -extinto pela municipalidade, que sofre pressão no orçamento.
O americano Forsythe impôs-se nas décadas de 80 e 90 como "o coreógrafo do ano 2000". Cultiva a ambiguidade coreográfica neoclássica, explorando ao mesmo tempo os códigos da dança moderna. Fascinado pela aceleração, pelo estresse, pelo ritmo picado do clip, conserva a técnica clássica, mas desestruturada pela velocidade e pelo desequilíbrio.
Muito ativo e animado, Forsythe -que estreou uma coreografia nova, "Decreation", em abril- pretende criar outras peças para o Frankfurt Ballett, neste último ano à frente da companhia.
 

Folha - Acabando a companhia, o que acontecerá com seus balés?
William Forsythe -
Infelizmente nem todas as coreografias feitas para o Frankfurt Ballett podem ser dançadas por outros grupos, porque são de montagem complicada. Mas acredito que algumas peças possam ser absorvidas por grandes companhias.

Folha - Você tem alguma preocupação com a memória da dança?
Forsythe -
Praticamente não há registros em vídeo dos meus trabalhos. Meu interesse em fazer parte da história da dança estaria ligado a um conceito mais radical -como o de história para Michel Foucault ["inscrições" no corpo individual, aversão às "grandes narrativas" lineares].

Folha - Seu trabalho pode ser relacionado a teorias da arquitetura desconstrutivista?
Forsythe -
Trabalhei com [o arquiteto] Daniel Libeskind na França. Meu trabalho está, em alguma medida, relacionado a suas idéias desconstrutivistas. Libeskind foca o momento do desequilíbrio, a instabilidade. Descontinuidades são parte do meu trabalho. Procuro, através da dança, perceber as formas residuais dos deslocamentos e as operações dos movimentos no espaço.

Folha - O quanto a luz toma parte nisso?
Forsythe -
Todos os elementos em cena são primordiais para sua composição. A luz teve um papel predominante em meus trabalhos dos primeiros anos da década de 90. Agora trabalho com luzes mais simples. Continuo trabalhando com a luz branca e suas diferentes temperaturas.

Folha - E a relação entre dança e música?
Forsythe -
Eu ouço a música. Mas não acredito na relação de submissão da dança à música. Uso recursos de composição na dança que são empregados na música também, como "tema e variações" ou a improvisação, que pode ter papel determinante.

Folha - Como será o laboratório que você dará no Brasil a convite de Richard Cragun (no Rio)?
Forsythe -
Não sei. Estarei feliz com o que estiver me esperando. E estou contente de ir ao Brasil.


FRANKFURT BALLETT. Quando: São Paulo, dias 6 e 7 de junho, às 21h, e, no Rio, dias 12 e 13 de junho, às 20h30. Onde: Teatro Municipal, em SP (pça. Ramos de Azevedo, s/nš), ingressos pelo 0/xx/11/ 5571-4027; no Rio (pça. Floriano, s/nš), ingressos pelo 0300-7886486. Quanto: em SP, de R$ 20 a R$ 150 e, no Rio, de R$ 30 a R$ 150. Patrocínio: Nokia e Embratel.


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