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Bairro de Botafogo ganha crônica cinematográfica
DA REPORTAGEM LOCAL
Tendo as casas e ruas de Botafogo como personagem (não apenas cenário), o cineasta Sergio
Goldenberg construiu a comédia
"Bendito Fruto", que estréia hoje
no Rio de Janeiro e em São Paulo,
como "a crônica de um bairro".
A gente do lugar circula por ali a
partir do salão de beleza de Edgar
(Otávio Augusto). Mas o foco de
Goldenberg se fecha no mal disfarçado casamento do cabeleireiro branco com a negra Maria (Zezeh Barbosa), que oficialmente é
apenas a empregada de sua casa.
Pontuar sua crônica cinematográfica com "as questões do preconceito racial e dos direitos civis", sem no entanto cair num
tom ideologizante, foi o objetivo
que o diretor perseguiu.
Por serem questões delicadas
quando abordadas individualmente, Goldenberg optou por ficcionalizar sua história, abandonando o terreno do documentário, do qual é íntimo.
"Tenho muita consciência dos
limites éticos do documentário.
Existem histórias trágicas de documentaristas que cruzaram essa
linha", diz.
Fazer com que os personagens
vivam os conflitos das relações inter-raciais e homossexuais, mas
não os discutam de uma perspectiva analítica foi a maneira que o
diretor encontrou de expressar
"essa característica tão carioca de
as pessoas serem muito puras e
despolitizadas, mas nem por isso
deixarem de viver situações significativas ideologicamente".
No caldo da despolitização e da
desideologização Goldenberg
acrescentou um papel para a telenovela brasileira, que se incorpora à rotina de quase todos os personagens, como formadora de
seus sonhos de amor e substituta
de suas emoções românticas.
"A novela está tão enfronhada
na nossa vida que acho que algumas pessoas passam a viver seus
conflitos psicológicos e resolvê-los a partir dela", diz o cineasta.
A crítica subjacente à trama de
"Bendito Fruto", no entanto, não
impede o filme de desaguar num
final feliz, como o das novelas.
"Acho o final otimista, mas não
hollywoodiano", diz o cineasta,
que aponta a "peculiaridade" da
família retratada até o fim do filme como sinal da distância dos
padrões de Hollywood. Goldenberg defende seu otimismo como
bandeira de quem "acredita na relação inter-racial e na identidade
que ela dá ao Brasil".
(SA)
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