São Paulo, quarta-feira, 20 de junho de 2001

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Mostra traz à tona vocações subterrâneas do diretor

DO ENVIADO A VALÊNCIA

"Enciclopédia Associativa do Corpo Humano" não é a primeira exposição do cineasta Peter Greenaway. Não fosse o colega sueco Ingmar Bergman, ele poderia ter ficado só nas artes.
Diz Greenaway que decidiu entrar para o universo das películas em uma tarde de 1958, assim que terminou de assistir a "O Sétimo Selo", de Bergman. A carreira precoce de pintor tomou então todos os caminhos que lhe aproximariam do cinema. Primeiro a cenografia, depois as câmeras, os roteiros, a narração e a direção.
Desde "A Morte do Sentimento", que fez ainda menor de idade, até hoje foram mais de 50 filmes.
A carreira de artista plástico seguiu subterrânea ao trabalho nas telas de cinema e de TV. O mesmo se passou com seu ofício de "contador" amador.
A obsessão pelos números fica clara na "Enciclopédia", que Greenaway apresenta em Valência (a Bienal está em cartaz até outubro, com quase 300 artistas).
Assim como havia feito na ópera "100 Objetos para Representar o Mundo", que foi acompanhada por mostra homônima (ambas apresentadas em São Paulo e no Rio em 98), Greenaway voltou a escolher o tema da centena.
Sua instalação, que ocupa todo o desativado Convento del Carmen, em Valência, envolve uma centena de recipientes de acrílico que exibem centenas de exemplares de objetos variados, como dentaduras ou botões de camisa.
"Gosto da idéia do barroco, de massas de coisas juntas. São objetos simples, mas, quando se junta uma centenas deles, fica algo especial", diz Greenaway. "Todos têm alguma relação com o corpo. Em alguns, essa conexão é mais misteriosa. Quero que as pessoas tragam seus cérebros para cá."
O cineasta, que tem atualmente exposição em cartaz no Groningen Museum, na Holanda (país em que vive), não foi só um dos cem artistas de "Corpo e Arte" (um dos oito módulos da Bienal).
Com o prestigiado crítico de arte italiano Achille Bonito Oliva, foi o cérebro da mostra. "Dividimos o espaço de modo que, se alguém observasse a exposição desde o céu, poderia imaginar a representação de um feto. Escolhemos cinco partes do corpo: cabeça, espinha, coração, barriga e membros." As obras mais "cabeça" ficaram no primeiro segmento. E assim por diante. (CEM)


Texto Anterior: "O cinema está morrendo", diz Greenaway
Próximo Texto: Frase
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.