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Mostra traz à tona vocações subterrâneas do diretor
DO ENVIADO A VALÊNCIA
"Enciclopédia Associativa do
Corpo Humano" não é a primeira
exposição do cineasta Peter Greenaway. Não fosse o colega sueco
Ingmar Bergman, ele poderia ter
ficado só nas artes.
Diz Greenaway que decidiu entrar para o universo das películas
em uma tarde de 1958, assim que
terminou de assistir a "O Sétimo
Selo", de Bergman. A carreira precoce de pintor tomou então todos
os caminhos que lhe aproximariam do cinema. Primeiro a cenografia, depois as câmeras, os roteiros, a narração e a direção.
Desde "A Morte do Sentimento", que fez ainda menor de idade,
até hoje foram mais de 50 filmes.
A carreira de artista plástico seguiu subterrânea ao trabalho nas
telas de cinema e de TV. O mesmo
se passou com seu ofício de "contador" amador.
A obsessão pelos números fica
clara na "Enciclopédia", que
Greenaway apresenta em Valência (a Bienal está em cartaz até outubro, com quase 300 artistas).
Assim como havia feito na ópera "100 Objetos para Representar
o Mundo", que foi acompanhada
por mostra homônima (ambas
apresentadas em São Paulo e no
Rio em 98), Greenaway voltou a
escolher o tema da centena.
Sua instalação, que ocupa todo
o desativado Convento del Carmen, em Valência, envolve uma
centena de recipientes de acrílico
que exibem centenas de exemplares de objetos variados, como
dentaduras ou botões de camisa.
"Gosto da idéia do barroco, de
massas de coisas juntas. São objetos simples, mas, quando se junta
uma centenas deles, fica algo especial", diz Greenaway. "Todos
têm alguma relação com o corpo.
Em alguns, essa conexão é mais
misteriosa. Quero que as pessoas
tragam seus cérebros para cá."
O cineasta, que tem atualmente
exposição em cartaz no Groningen Museum, na Holanda (país
em que vive), não foi só um dos
cem artistas de "Corpo e Arte"
(um dos oito módulos da Bienal).
Com o prestigiado crítico de arte italiano Achille Bonito Oliva, foi
o cérebro da mostra. "Dividimos
o espaço de modo que, se alguém
observasse a exposição desde o
céu, poderia imaginar a representação de um feto. Escolhemos cinco partes do corpo: cabeça, espinha, coração, barriga e membros." As obras mais "cabeça" ficaram no primeiro segmento. E
assim por diante.
(CEM)
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