São Paulo, quarta-feira, 20 de junho de 2001

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ARTES PLÁSTICAS

Novos trabalhos do mineiro exploram dimensões da galeria Marília Razuk, em SP

José Bento quer "domar madeira" em mostra

ANA CÂNDIDA DE AVELAR
DA REDAÇÃO

O domínio do material é a primeira preocupação do artista plástico José Bento, mineiro que abre hoje exposição na galeria Marília Razuk, em São Paulo, com série de obras construídas especialmente para o espaço.
"Eu quero domar a madeira. O que mais me interessa é o embate entre meu ofício e ela", afirma Bento, 38.
Seu trabalho atual consiste num "conjunto" ("porque funcionam juntos") de cubos de 30 cm de altura em madeira baraúna colhida de árvores já mortas que o artista vai buscar acompanhado pelo Ibama. Mas seu trabalho, apesar de orgânico, não tem pretensões ecológicas. O discurso estético de Bento se traduz por outras preocupações.
Os cubos são perfurados de maneira a provocar pequenos orifícios perfeitos que não se cruzam. "As obras foram montadas no chão, mas poderiam estar sobre uma base para que a luz as transpassasse. Eu gosto, no entanto, do negro que as penetra", explica Bento. A organicidade da madeira usada pelo artista é combinada a características geométricas -adjetivos como "sequencial" e "numérico" são utilizados por ele para descrever a série exibida.
O que diferencia uma escultura de outra -ou um objeto de outro- é a natureza diversa de cada madeira, que apresenta suas fendas e nós intocados. "Há um calor orgânico da madeira que me atrai", conta o artista, que já expôs em mostras no Paço das Artes e no Instituto Itaú Cultural em 1997, no MuBE (Museu Brasileiro de Escultura) em 2000 e, mais recentemente, na mostra "O Marchand como Curador", promovida pela Casa das Rosas, neste ano.
A interferência de Bento sobre a madeira parece uma tentativa de intervir na história pertencente ao material. "A morte e a vida funcionam no mesmo espaço, porque a parte de dentro da madeira deixa de existir. Se você procurar a palavra "madeira" em qualquer dicionário, vai encontrar uma definição ligada a algo morto. A morte vem de dentro, do meio da madeira", explica Bento sobre sua obsessão com o material.
O que o artista faz, portanto, é trazer à vida, pelo trabalho plástico, o material morto. Ele interfere na história orgânica da madeira quando opera sua técnica.

Conflito
"Os instrumentos se quebram sempre", conta Bento sobre seu processo de trabalho, rude e rigoroso, que consiste em domar o material. É o embate a que se refere com o suporte que elegeu para sustentar sua poética. "Há também uma ética ligada ao meu processo criativo. Se não consigo o exato efeito desejado, jogo tudo fora e recomeço."
Os blocos concretos, unidades maciças, traduzem um ritmo -por meio dos orifícios que se duplicam e triplicam- que constitui um contínuo da composição plena de harmonia entre seus componentes.
A concretude do material, fundida à reverência que José Bento faz a ele quando respeita suas características naturais, torna o conjunto de obras uma referência drástica ao domínio do artista sobre seu suporte.


JOSÉ BENTO - Exposição de nova série de obras do artista. Quando: a partir de hoje, às 19h30; de seg. a sex., das 10h30 às 19h; sáb., das 11h às 14h; até 21/7. Onde: Marília Razuk Galeria de Arte (av. Nove de Julho, 5.719, lj. 2, tel. 0/xx/11/ 3079-0853). Quanto: obras de R$ 6.000 a R$ 10 mil.


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