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ARTES PLÁSTICAS
Novos trabalhos do mineiro exploram dimensões da galeria Marília Razuk, em SP
José Bento quer "domar madeira" em mostra
ANA CÂNDIDA DE AVELAR
DA REDAÇÃO
O domínio do material é a primeira preocupação do artista
plástico José Bento, mineiro que
abre hoje exposição na galeria
Marília Razuk, em São Paulo,
com série de obras construídas especialmente para o espaço.
"Eu quero domar a madeira. O
que mais me interessa é o embate
entre meu ofício e ela", afirma
Bento, 38.
Seu trabalho atual consiste num
"conjunto" ("porque funcionam
juntos") de cubos de 30 cm de altura em madeira baraúna colhida
de árvores já mortas que o artista
vai buscar acompanhado pelo
Ibama. Mas seu trabalho, apesar
de orgânico, não tem pretensões
ecológicas. O discurso estético de
Bento se traduz por outras preocupações.
Os cubos são perfurados de maneira a provocar pequenos orifícios perfeitos que não se cruzam.
"As obras foram montadas no
chão, mas poderiam estar sobre
uma base para que a luz as transpassasse. Eu gosto, no entanto, do
negro que as penetra", explica
Bento. A organicidade da madeira usada pelo artista é combinada
a características geométricas
-adjetivos como "sequencial" e
"numérico" são utilizados por ele
para descrever a série exibida.
O que diferencia uma escultura
de outra -ou um objeto de outro- é a natureza diversa de cada
madeira, que apresenta suas fendas e nós intocados. "Há um calor
orgânico da madeira que me
atrai", conta o artista, que já expôs
em mostras no Paço das Artes e
no Instituto Itaú Cultural em
1997, no MuBE (Museu Brasileiro
de Escultura) em 2000 e, mais recentemente, na mostra "O Marchand como Curador", promovida pela Casa das Rosas, neste ano.
A interferência de Bento sobre a
madeira parece uma tentativa de
intervir na história pertencente
ao material. "A morte e a vida
funcionam no mesmo espaço,
porque a parte de dentro da madeira deixa de existir. Se você procurar a palavra "madeira" em
qualquer dicionário, vai encontrar uma definição ligada a algo
morto. A morte vem de dentro,
do meio da madeira", explica
Bento sobre sua obsessão com o
material.
O que o artista faz, portanto, é
trazer à vida, pelo trabalho plástico, o material morto. Ele interfere
na história orgânica da madeira
quando opera sua técnica.
Conflito
"Os instrumentos se quebram
sempre", conta Bento sobre seu
processo de trabalho, rude e rigoroso, que consiste em domar o
material. É o embate a que se refere com o suporte que elegeu para
sustentar sua poética. "Há também uma ética ligada ao meu processo criativo. Se não consigo o
exato efeito desejado, jogo tudo
fora e recomeço."
Os blocos concretos, unidades
maciças, traduzem um ritmo
-por meio dos orifícios que se
duplicam e triplicam- que constitui um contínuo da composição
plena de harmonia entre seus
componentes.
A concretude do material, fundida à reverência que José Bento
faz a ele quando respeita suas características naturais, torna o
conjunto de obras uma referência
drástica ao domínio do artista sobre seu suporte.
JOSÉ BENTO - Exposição de nova série
de obras do artista. Quando: a partir de
hoje, às 19h30; de seg. a sex., das 10h30
às 19h; sáb., das 11h às 14h; até 21/7.
Onde: Marília Razuk Galeria de Arte (av.
Nove de Julho, 5.719, lj. 2, tel. 0/xx/11/
3079-0853). Quanto: obras de R$ 6.000 a
R$ 10 mil.
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