DA REPORTAGEM LOCAL

Lançado na Inglaterra assim que apitaram o início da Copa do Mundo, "Futebol - The Brazilian Way of Life" também deve entrar nos gramados brasileiros. A editora Jorge Zahar, do Rio, acaba de comprar o livro de Alex Bellos, que deve ser lançado entre o final do ano e o começo de 2003.
Embora de maior utilidade para estrangeiros, pela riqueza de informações gerais sobre as características do país, "Futebol" também joga bonito para brasileiros.
Poucas vezes se reuniu em um só volume tantas histórias saborosas do esporte por aqui.
Bellos narra desde fatos pitorescos, como a existência de um estádio no Amapá em que o meio de campo passa sobre a linha do Equador -um lado do gramado no hemisfério Sul; o outro, no Norte-, até considerações quase sociológicas -da discriminação racial a "padrões" de nomenclaturas de jogadores.
Ele escreve que assim como os atacantes tendem a ser chamados por apelidos carinhosos, como Tostão, Zico e Pelé, os goleiros são Marcos, Rogérios e Gilmares (com exceções como Dida, que também fura o bloqueio da seleção a goleiros negros, que começa com Barbosa, na derrota de 1950).
O jornalista inglês, claro, recorre fartamente aos binômios Carnaval e futebol e religião e futebol, elementos nos quais encontrou as maiores surpresas.
"Achar os limites da superstição brasileira em assuntos de futebol foi inacreditável", explica ele, lembrando que não conseguiu assistir a um jogo da Copa de 98 na casa de amigos por não ter estado na partida anterior.
Sobre Carnaval, Bellos resgata histórias que não são inéditas, mas que encaixam muito bem no seu quebra-cabeça. É o caso do início do formato atual do desfile das escolas de samba, que foi criado pelo jornal carioca "Mundo Esportivo" para imitar um campeonato de futebol.
A inventividade do brasileiro no assunto, aliás, é uma das maiores recorrências no livro do jornalista. Ele mostra com detalhes como foram inventados por aqui inúmeros derivados do gênero: futebol de salão, de botão, futevôlei e até esportes pouco conhecidos como o "futelama", que é jogado na Amazônia, e o "autoball", disputa de futebol com carros popular no Rio no início dos 70. (CEM)