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CRÍTICA
Discos são iguarias refinadas para um paladar exigente
FREE-LANCE PARA A FOLHA
A princípio, os fãs do rock
independente podem torcer
o nariz para o Tortoise, pois o
som do grupo é extremamente
peculiar, com referências não
muito claras. A banda norte-americana faz música instrumental,
mas não tão etérea como a da islandesa Sigur Rós, não tão pesada
como a da escocesa Mogwai, não
tão rock quanto a da alemã
Couch, não tão "jazzy" como a
dos conterrâneos Medeski, Martin & Wood e apenas lembra, de
muito longe, algumas faixas mais
experimentais do Sonic Youth.
Mas o Tortoise soa difícil apenas no início. Este pacote com os
três primeiros álbuns da banda
mostra que sua música pode ser
palatável, desde que o ouvinte tenha a cabeça aberta -e uma certa
dose de paciência. Curiosamente,
o primeiro disco é o mais difícil e
monótono, apesar de ser o mais
orgânico e próximo da linguagem
do rock alternativo dos anos 90.
Em "Tortoise", o grupo flerta
com o funk e se aproxima do espírito mais tradicional do cool jazz.
A guitarra tem papel eventual e só
aparece com força em "Ry Cooder", acompanhada de vibrafone.
Em "Millions Now Living Will
Never Die", o Tortoise torna-se
bem mais acessível. O som é colorido por instrumentos eletrônicos, fazendo do disco o mais recomendado para quem quer conhecer sua música. O CD traz a obra-prima da banda, "Djed", um épico de mais de 20 minutos dividido
em partes bastante distintas. Órgãos e ruídos eletrônicos juntam-se ao vibrafone de John McEntire,
em verdadeira viagem musical.
"TNT" traz a eletrônica em peso
ao som do Tortoise. Em "Swung
from the Gutters", o grupo parece
ter sampleado antigos videogames dos anos 80, enquanto a extensa "Jetty" traz batidas quebradas, chupadas do drum'n'bass.
Não são obras-primas, mas são
iguarias musicais refinadas, agora
ao alcance dos paladares mais exigentes. Bom apetite.
(MARCELO VALLETTA)
Tortoise, Millions Now Living
Will Never Die e TNT
Artista: Tortoise
Lançamento: Trama
Quanto: R$ 20, em média (cada CD)
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