São Paulo, sábado, 20 de junho de 1998

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'Quinto beatle' sai de cena e homenageia os outros quatro

Divulgação
O maestro inglês George Martin, que está lançando "In My Life", álbum de covers dos Beatles



George Martin produz seu último álbum, com covers dos Beatles, com participações de Sean Connery, Jim Carrey, Phil Collins


MARCELO OROZCO
do "Notícias Populares"

O "quinto beatle" sai de cena rendendo uma homenagem ao grupo do qual era coadjuvante. O maestro inglês George Martin encerra sua carreira de produtor musical com "In My Life", álbum de covers dos Beatles, a banda que lhe deu fama mundial por tabela.
Em entrevista à Folha, por telefone, de Londres, Martin, 72, admitiu que cogitou fazer seu álbum de despedida com suas próprias composições.
Mas ele rendeu-se às evidências, assumindo que ficou conhecido por uma razão: ter produzido e feito arranjos orquestrais para os discos dos Beatles entre 62 e 69.
Martin disse que está abandonando a produção por problemas de audição, mas pretende seguir trabalhando com música.
Falando do álbum-tributo, Martin (que recebeu da rainha Elizabeth o título de "sir" em 1995 por serviços prestados ao Reino Unido) comentou a escolha de atores, cantores e músicos para interpretar as covers.
Ele também falou da participação das Meninas Cantoras de Petrópolis em "Ticket to Ride". O coral encantou Martin em sua visita ao Brasil em 93.

Folha - O que o inspirou a fazer um álbum com covers dos Beatles?
George Martin
-Quando tive a idéia de fazer um último álbum há dois anos, queria fazer algo que sentisse prazer. Não queria trabalho duro. Então pedi a alguns amigos e alguns de meus heróis para colaborar comigo nisso. Cheguei a pensar em compor um álbum novo com minha própria música. Mas, em certa altura da vida, aprendi que isso seria tolo, porque parece que todo mundo me liga aos Beatles. Então pensei em escolher canções dos Beatles não muito regravadas. Comecei com alguns dos meus amigos, como Jeff Beck, Phil Collins. Depois, pessoas que admiro muito e eu sentia que teríamos bons momentos trabalhando juntos, mas que eu nunca tinha encontrado, como Robin Williams, Goldie Hawn, Jim Carrey...
Folha - E Sean Connery era um herói ou um amigo?
Martin -
Eu já o conhecia. Acho-o um dos melhores atores. E, neste caso, a música veio antes e o artista veio depois. Eu não queria ter "In My Life" cantada em meu álbum. Eu queria que as palavras se destacassem porque são muito importantes. E Sean Connery tem uma grande voz.
Folha - Como o sr. escolheu as Meninas Cantoras de Petrópolis (creditado no CD como The Petropolis Girl's Choir) para participar do álbum (em "Ticket to Ride")?
Martin -
Eu as queria no disco pela afeição que tenho desde quando estive no Rio há alguns anos (1993). Eu ia fazer um concerto com uma orquestra sinfônica, um grande coral e uma boa seção rítmica. Foi na Quinta da Boa Vista (RJ). Mas na noite do concerto choveu e a orquestra não pôde tocar. Persuadi o coral a cantar na chuva comigo. Fizeram uma noite da qual sempre vou lembrar. Quando fui fazer o álbum, chamei-as.
Folha - As canções e as gravações dos Beatles são um tipo de música muito forte. Qual a dificuldade de fazer uma boa versão de uma música deles?
Martin -
Acho que depende muito da canção. No caso de Goldie Hawn, tive a idéia de transformar "A Hard Day's Night" em algo com o clima de um jazz calmo. Quando sugeri que ela cantasse, ela pensou que eu estava louco. Acho que ela cantou melhor do que qualquer um poderia esperar.
Folha - O sr. está se aposentando?
Martin -
Não estou me aposentando. Estou tentando reduzir meu trabalho. O que estou fazendo é parar de gravar discos. São quase 50 anos e fiz muitos discos. Estou velho e minha audição não é tão boa quanto antes.
Folha - Há alguma música dos Beatles que o sr. deseja que eles tivessem feito de novo?
Martin -
John Lennon e eu conversamos sobre isso pouco antes de ele morrer (em 80). Ele me disse: "Eu gostaria de gravar tudo de novo". E eu não conseguia imaginar fazer tudo aquilo de novo. Eu perguntei: "Mas e uma música como "Strawberry Fields Forever'?" Ele falou: "Sim, especialmente "Strawberry Fields'". Isso era porque John sempre queria ser melhor do que ele realmente já era. Mas eu não gosto de fazer as coisas de novo.
Folha - O sr. ouve música feita atualmente?
Martin -
Sim. As canções não são tão boas. Há mais produção. Escuto a música que produzimos nos anos 60 e 70, e é muito boa. Não acho o que ouço sendo feito hoje tão bom quanto. Mas uma boa banda hoje é Radiohead.



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