São Paulo, quinta-feira, 20 de julho de 2000


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MÚSICA ERUDITA
Com obras de Liszt e Albeniz, maestro, que comemora 50 anos de carreira, se apresenta em São Paulo e Rio
Barenboim vem ao Brasil para recitais

IRINEU FRANCO PERPETUO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Um dos músicos mais completos do planeta está fazendo meio século de carreira. Recitais em São Paulo, Rio de Janeiro e Buenos Aires marcam 50 anos de música do compositor e regente argentino Daniel Barenboim.
Os ingressos para o recital na Sala São Paulo, dia 9 de agosto, estão à venda na Sociedade de Cultura Artística (tel. 0/xx/11/256-0223), e custam de R$ 60 a R$ 150. No programa estão peças de Liszt ("Sonetos de Petrarca" nº 47, nº 104 e nº 123, e a "Sonata-Dante") e Albeniz ("Ibéria").
Barenboim toca no Rio, dia 12, e em Buenos Aires, sua cidade natal, no dia 19 -data do 50º aniversário de sua primeira atuação.
Em outubro, ele volta ao Brasil como regente, à frente da Sinfônica de Chicago, da qual é diretor musical, cargo que também ocupa na Staatsoper, a mais importante casa de ópera de Berlim.
Nos últimos anos, vem gravando também música popular. Fez um álbum de tangos, um dedicado a Duke Ellington e agora, com lançamento em setembro, "Rapsódia Brasileira", disco dedicado à música de nosso país, com Tom Jobim ("Wave"), Zequinha de Abreu ("Tico-Tico no Fubá"), Milton Nascimento e Villa-Lobos.
Menino-prodígio nascido em 1942, mudou-se para Israel com os pais, judeus russos, aos 9 anos. Como solista e pianista, apresentou-se com as principais orquestras do planeta, gravando discos pelos mais prestigiados selos.
Em meio a tantos êxitos, o fato mais conturbado de sua biografia foi o casamento, em 1967, com Jacqueline Du Pré (1945-1987), violoncelista britânica que teve de abandonar a carreira em 1973, devido à esclerose múltipla.
No filme "Hilary & Jackie", de Anand Tucker, baseado em biografia escrita por dois irmãos de Du Pré, Hilary e Piers, Barenboim é retratado como canalha, acusado de abandonar a esposa em seus momentos finais.
O fato é que Barenboim trocou Londres, onde morava com a mulher, pela França, dirigindo a Orquestra de Paris entre 1975 e 1989. Neste período, embora não tenha se divorciado de Du Pré, passou a morar com Elena, mulher do violinista Gidon Kremer, com a qual Barenboim teve dois filhos.
Leia abaixo os principais trechos da entrevista que Barenboim concedeu à Folha, por telefone, de Marbella (Espanha).

Folha - No Brasil, o sr. está vindo para dar um recital, coisa rara nos últimos anos de sua carreira. Como o sr. divide seu tempo entre o piano e a regência?
Daniel Barenboim -
Faz muito tempo que não dou um recital no Brasil. Toquei pela última vez em São Paulo e no Rio em 1960. Mas tenho tocado bastante em outros lugares. Artisticamente, para mim, piano e regência estão no mesmo plano.

Folha - O sr. dirige uma orquestra nos EUA e uma casa de ópera na Alemanha. Quais são as diferenças entre o meio musical europeu e o norte-americano?
Barenboim -
Hoje há menos diferenças. É um pouco o efeito da globalização, que torna as coisas e as pessoas mais uniformes, e me permite, por exemplo, comer em São Paulo em um restaurante árabe maravilhoso. Talvez a diferença maior não seja entre os países, mas entre dirigir uma orquestra sinfônica e uma casa de ópera.

Folha - Tendo começado como instrumentista, o sr. imaginou que dirigiria um teatro de ópera?
Barenboim -
Eu sempre quis ser regente. Mas minha atividade, inicialmente, era restrita a orquestra de cordas. Depois é que vieram os convites das grandes orquestras. No terreno da ópera, acho que foi minha experiência no Festival de Bayreuth que me preparou para assumir a direção de uma casa como a Staatsoper.

Folha - Tango, Duke Ellington, e, agora, música brasileira: nos últimos três anos, o sr. gravou três discos de música popular. Isso significa que Daniel Barenboim está se rendendo à onda "crossover"?
Barenboim -
Não. Não creio que dê para chamar nenhum dos discos de "crossover". Digamos que acabamos fazendo uma pequena coleção de música das Américas.
Foi em uma viagem à Argentina, quando encontrei o bandoneonista Rodolfo Mederos, que surgiu a idéia de fazer o disco de tangos. Ele acabou sendo, para mim, um disco de música de câmara. Embora tenha tido mais musicistas do que o disco de tango, o de Duke Ellington também é um disco de música de câmara.

Folha - E o disco de música brasileira ?
Barenboim -
Embora tenha um pouco de Villa-Lobos, "Rapsódia Brasileira" é um disco mais popular, com músicas de (Milton) Nascimento e outros. Os arranjos foram feitos por Bebu Silvetti, um argentino radicado em Miami, e o repertório foi escolhido por ele, Alex Klein, o brasileiro que trabalha comigo como primeiro oboé na Sinfônica de Chicago, e eu.

Folha - O sr. deve gravar mais algum disco nessa vertente mais popular?
Barenboim -
Se chegarmos a fazer um próximo, será de música cubana. Mas ainda não sei o que incluiria nesse disco.

Folha - E na área de música erudita, quais os próximos planos ?
Barenboim -
Uma gravação do "Concerto para Oboé", de Richard Strauss, com Alex Klein. Também será lançada "Mestres Cantores de Nurembergue", de Wagner, do Festival de Bayreuth.

Folha - O sr. volta ao Brasil em outubro, com a Sinfônica de Chicago. Algum solista participa da apresentação ?
Barenboim -
Não. Eu devo reger, do teclado, um concerto de Mozart para piano e orquestra; e devemos fazer também a "Sinfonia nº 7", de Mahler.

Folha - O sr. ficou triste com o resultado das eleições na Filarmônica de Berlim (Barenboim foi derrotado por Simon Rattle no pleito para diretor da orquestra em 2002)?
Barenboim -
Isso vamos ver daqui a cinco anos. Teria sido muito complicado assumir as duas orquestras, pois teria de começar meu mandato com a Filarmônica em 2002, e, em Chicago, meu contrato vai até 2006.


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