|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
MÚSICA ERUDITA
Com obras de Liszt e Albeniz, maestro, que comemora 50 anos de carreira, se apresenta em São Paulo e Rio
Barenboim vem ao Brasil para recitais
IRINEU FRANCO PERPETUO
ESPECIAL PARA A FOLHA
Um dos músicos mais completos do planeta está fazendo meio
século de carreira. Recitais em São
Paulo, Rio de Janeiro e Buenos Aires marcam 50 anos de música do
compositor e regente argentino
Daniel Barenboim.
Os ingressos para o recital na
Sala São Paulo, dia 9 de agosto, estão à venda na Sociedade de Cultura Artística (tel. 0/xx/11/256-0223), e custam de R$ 60 a R$ 150.
No programa estão peças de Liszt
("Sonetos de Petrarca" nº 47, nº
104 e nº 123, e a "Sonata-Dante") e
Albeniz ("Ibéria").
Barenboim toca no Rio, dia 12, e
em Buenos Aires, sua cidade natal, no dia 19 -data do 50º aniversário de sua primeira atuação.
Em outubro, ele volta ao Brasil
como regente, à frente da Sinfônica de Chicago, da qual é diretor
musical, cargo que também ocupa na Staatsoper, a mais importante casa de ópera de Berlim.
Nos últimos anos, vem gravando também música popular. Fez
um álbum de tangos, um dedicado a Duke Ellington e agora, com
lançamento em setembro, "Rapsódia Brasileira", disco dedicado à
música de nosso país, com Tom
Jobim ("Wave"), Zequinha de
Abreu ("Tico-Tico no Fubá"),
Milton Nascimento e Villa-Lobos.
Menino-prodígio nascido em
1942, mudou-se para Israel com
os pais, judeus russos, aos 9 anos.
Como solista e pianista, apresentou-se com as principais orquestras do planeta, gravando discos
pelos mais prestigiados selos.
Em meio a tantos êxitos, o fato
mais conturbado de sua biografia
foi o casamento, em 1967, com
Jacqueline Du Pré (1945-1987),
violoncelista britânica que teve de
abandonar a carreira em 1973, devido à esclerose múltipla.
No filme "Hilary & Jackie", de
Anand Tucker, baseado em biografia escrita por dois irmãos de
Du Pré, Hilary e Piers, Barenboim
é retratado como canalha, acusado de abandonar a esposa em
seus momentos finais.
O fato é que Barenboim trocou
Londres, onde morava com a mulher, pela França, dirigindo a Orquestra de Paris entre 1975 e 1989.
Neste período, embora não tenha
se divorciado de Du Pré, passou a
morar com Elena, mulher do violinista Gidon Kremer, com a qual
Barenboim teve dois filhos.
Leia abaixo os principais trechos da entrevista que Barenboim
concedeu à Folha, por telefone, de
Marbella (Espanha).
Folha - No Brasil, o sr. está vindo
para dar um recital, coisa rara nos
últimos anos de sua carreira. Como
o sr. divide seu tempo entre o piano
e a regência?
Daniel Barenboim - Faz muito
tempo que não dou um recital no
Brasil. Toquei pela última vez em
São Paulo e no Rio em 1960. Mas
tenho tocado bastante em outros
lugares. Artisticamente, para
mim, piano e regência estão no
mesmo plano.
Folha - O sr. dirige uma orquestra
nos EUA e uma casa de ópera na
Alemanha. Quais são as diferenças
entre o meio musical europeu e o
norte-americano?
Barenboim - Hoje há menos diferenças. É um pouco o efeito da
globalização, que torna as coisas e
as pessoas mais uniformes, e me
permite, por exemplo, comer em
São Paulo em um restaurante árabe maravilhoso. Talvez a diferença maior não seja entre os países,
mas entre dirigir uma orquestra
sinfônica e uma casa de ópera.
Folha - Tendo começado como
instrumentista, o sr. imaginou que
dirigiria um teatro de ópera?
Barenboim - Eu sempre quis ser
regente. Mas minha atividade,
inicialmente, era restrita a orquestra de cordas. Depois é que
vieram os convites das grandes
orquestras. No terreno da ópera,
acho que foi minha experiência
no Festival de Bayreuth que me
preparou para assumir a direção
de uma casa como a Staatsoper.
Folha - Tango, Duke Ellington, e,
agora, música brasileira: nos últimos três anos, o sr. gravou três discos de música popular. Isso significa que Daniel Barenboim está se
rendendo à onda "crossover"?
Barenboim - Não. Não creio que
dê para chamar nenhum dos discos de "crossover". Digamos que
acabamos fazendo uma pequena
coleção de música das Américas.
Foi em uma viagem à Argentina, quando encontrei o bandoneonista Rodolfo Mederos, que
surgiu a idéia de fazer o disco de
tangos. Ele acabou sendo, para
mim, um disco de música de câmara. Embora tenha tido mais
musicistas do que o disco de tango, o de Duke Ellington também é
um disco de música de câmara.
Folha - E o disco de música brasileira ?
Barenboim - Embora tenha um
pouco de Villa-Lobos, "Rapsódia
Brasileira" é um disco mais popular, com músicas de (Milton) Nascimento e outros. Os arranjos foram feitos por Bebu Silvetti, um
argentino radicado em Miami, e o
repertório foi escolhido por ele,
Alex Klein, o brasileiro que trabalha comigo como primeiro oboé
na Sinfônica de Chicago, e eu.
Folha - O sr. deve gravar mais algum disco nessa vertente mais popular?
Barenboim - Se chegarmos a fazer um próximo, será de música
cubana. Mas ainda não sei o que
incluiria nesse disco.
Folha - E na área de música erudita, quais os próximos planos ?
Barenboim - Uma gravação do
"Concerto para Oboé", de Richard Strauss, com Alex Klein.
Também será lançada "Mestres
Cantores de Nurembergue", de
Wagner, do Festival de Bayreuth.
Folha - O sr. volta ao Brasil em outubro, com a Sinfônica de Chicago.
Algum solista participa da apresentação ?
Barenboim - Não. Eu devo reger,
do teclado, um concerto de Mozart para piano e orquestra; e devemos fazer também a "Sinfonia
nº 7", de Mahler.
Folha - O sr. ficou triste com o resultado das eleições na Filarmônica de Berlim (Barenboim foi derrotado por Simon Rattle no pleito para diretor da orquestra em 2002)?
Barenboim - Isso vamos ver daqui a cinco anos. Teria sido muito
complicado assumir as duas orquestras, pois teria de começar
meu mandato com a Filarmônica
em 2002, e, em Chicago, meu contrato vai até 2006.
Texto Anterior: Cinema: Bate-papo com Mika Kaurismaki acontece na segunda no Unibanco Próximo Texto: Ópera de Carlos Gomes ganha os palcos londrinos Índice
|