São Paulo, quinta-feira, 20 de julho de 2000


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TEATRO
Montagem da peça de Nelson Rodrigues homenageia Ziembinski e segue depois para o Rio de Janeiro e Brasília
"Vestido de Noiva" polonês estréia em SP

Lenise Pinheiro/Folha Imagem
Buguslawa Pawelec (Madame Clessi) e Ireneusz Czop (Pedro), atores poloneses durante ensaio do espetáculo "Vestido de Noiva", que entra em cartaz hoje em SP


DA REPORTAGEM LOCAL

Não foram poucos os problemas da primeira montagem polonesa de "Vestido de Noiva". A Vasp, em crise, cancelou o apoio na última hora. Até os figurinos que o grupo Tapa utilizou na peça de Nelson Rodrigues, seis anos atrás, foram enviados às pressas para a cidade de Lódz, por medida econômica. O projeto é orçado em R$ 400 mil.
Apesar dos percalços, "Vestido de Noiva", ou "Suknia Slubna", em polonês, finalmente chega hoje ao público brasileiro. A montagem com atores poloneses e direção de Eduardo Tolentino de Araújo faz quatro apresentações no teatro Sesc Anchieta, em SP.
Cumpre depois curtas temporadas no Rio de Janeiro (teatro Carlos Gomes, 27/7 a 30/7) e Brasília (teatro Nacional - sala Martins Pena, 1º/8). A produtora Urszula Groska também tenta levar o espetáculo a Curitiba, mas ainda não obteve apoio. Em São Paulo, a co-produção é do Serviço Social do Comércio (Sesc).
"Vestido de Noiva" presta homenagem a Nelson Rodrigues (1912-1980) e a Zbigniew Marian Ziembinski (1906-1978), que há 57 anos inauguravam a era moderna do teatro brasileiro.
A montagem de 1943, no Teatro Municipal do Rio, revolucionou os conceitos de dramaturgia e direção. O texto desenvolve uma trama em três planos: realidade, memória e alucinação. A encenação, por sua vez, ousou na estética visual com intrincado (para a época) plano de luz com cerca de 150 movimentos.
No mês passado, houve apenas duas apresentações na Polônia, uma na cidade de Lódz (11/6) e outra na capital, Varsóvia (19/6). No elenco de 14 atores, estão veteranos como Boguslawa Pawelec (Madame Clessi) e Bronislaw Wroclawski (Pai)
A personagem Alaide (Natalia Strzelecka) é o pivô da história. Ela sofre um desastre de automóvel. Na mesa de operação, sua personalidade procura se reconstituir dividindo-se em três planos.
Alaide morre. Mais tarde, sua irmã Lúcia (Karolina Szamfeber) se casa com o viúvo Pedro (Ireneusz Czop). Tudo acontece sob o ponto de vista da protagonista. No seu inconsciente, ocorre um encontro com Madame Clessi, prostituta assassinada no final do século passado, cujo diário é descoberto pela protagonista .
O diretor Tolentino, que duas semanas antes de embarcar para a Polônia, em junho, restringia seu trabalho à direção do grupo Tapa em São Paulo, é um entusiasta da idéia de fazer o caminho inverso ao que Ziembinski cumpriu em 1943.
"Foi estimulante acompanhar a generosidade com que os atores mais velhos ajudam os mais novos, como numa passagem de bastão", afirma Tolentino, 45.
Ele passou seis semanas ensaiando na Escola de Teatro e Cinema de Lódz, cidade industrial a cerca de 120 km de Varsóvia, a capital polonesa. Trata-se do mesmo espaço frequentado por cineastas como Andrzej Wajda, Roman Polanski e Krysztof Kieslowski.
"Os atores têm uma formação muito forte. É uma verdadeira fábrica de teatro. Eles fazem o realismo muito bem, algo que não valorizamos muito."
A principal referência para a nova versão foi a própria montagem de "Vestido Noiva" que Tolentino assinou em 1996.
(VALMIR SANTOS)


Peça: Vestido de Noiva
Texto: Nelson Rodrigues
Direção: Eduardo Tolentino
Com: Zofia Uzelac, Ireneusz Czop, Danuta Rynkiewicz, Natalia Strzekecka, Karolina Szamfeber e outros
Quando: estréia hoje, às 21h; qui. a sáb., às 21h; dom., às 19h. Até 23/7
Onde: teatro Sesc Anchieta (r. Dr. Vila Nova, 245, tel. 0/xx/11/856-2281)
Quanto: R$ 10


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