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Nos acordes de Nick Hornby
Escritores brasileiros situam o país na rota da literatura pop, na carona do autor de "Alta Fidelidade"
BRUNO SAITO
FREE-LANCE PARA A FOLHA
A relação entre música pop e literatura nunca mais foi a mesma
depois da febre Nick Hornby, autor do best-seller "Alta Fidelidade". O romance, sobre um fracassado dono de uma loja de discos,
tornou-se a voz ativa daqueles
que fizeram do pop a trilha sonora de suas vidas, deu origem ao filme homônimo de Stephen Frears
e à peça de teatro "A Vida É Cheia
de Som e Fúria", encenada com
sucesso desde o ano passado.
No Brasil, dois novos livros relatam a difícil e acolhedora companhia da música no dia-a-dia.
"A Estratégia de Lilith", de Alex
Antunes, e "O Clube dos Corações Solitários", de André Takeda, ambos da Conrad, colocam o
país na rota da literatura pop, gênero até então pouco explorado
por aqui.
Se, para quem olha de fora, não
há diferenças entre o torcedor de
futebol e o fã de música pop, para
esses autores, a última novidade
da indústria fonográfica é a melhor companheira em momentos
de crises afetivas e financeiras.
O que mais se aproxima da estética Hornby (listas de músicas, relacionamentos amorosos fracassados) é o romance de estréia do
publicitário André Takeda, 28.
"Soa meio pretensioso, mas quis
fazer um retrato dos jovens da minha geração. No começo, tive medo de colocar muitas referências à
música pop, achei que iria restringir o círculo de leitores. Mas não
havia outra maneira de retratar
essas pessoas."
Ao contar a história de Spit, um
jovem de 22 anos que é abandonado pela namorada, o autor não
poupa citações de bandas como
The Cure, Echo & the Bunnymen
e Pixies. O clube, do título, é o nome da banda montada pelo personagem e seus amigos, todos
com "corações partidos."
A geração retratada por Takeda
é, no mínimo, uma década posterior àquela de Nick Hornby. Mas
as semelhanças chegam a espantar em alguns momentos. Em determinado trecho, o personagem
conclui: "Tem vezes que acho o
rock'n'roll melhor que as pessoas.
Os meus CDs não me traem, não
discutem, sempre estão à minha
disposição".
"Pode parecer cópia de "Alta Fidelidade", que li apenas depois de
escrever o meu livro. Em todo o
caso, a comparação com Hornby
é uma honra", diz o autor.
Enquanto o personagem de Takeda é um típico garoto fã de The
Smiths e The Cure (e do universo
de garotinhas exóticas), Alex Antunes representa um lado mais
trash dos obcecados por música
pop e se envereda por outras direções.
O personagem principal chama-se justamente Alex Antunes.
Autobiográfico? "A Estratégia de
Lilith" fica no limite entre a reportagem e a ficção. "É a história da
transformação de um cara que viveu nos bastidores da música
pop. Questiono muito esse pseudopoder que o jornalista cultural
exerce", conta o autor.
Crítico musical que já trabalhou
na Folha, Antunes não poupa farpas às ex-namoradas, aos ex-companheiros de trabalho e aos
músicos. O "romance" começa
no dia em que o repórter é abandonado e despedido pela amante
(que também é sua chefe).
A partir daí, Antunes tece considerações a respeito das dezenas
de CDs que recebia das gravadoras quando era crítico ("Cada vez
mais raras, depois da leva de pagode-axé-sertanejo, e o que eu
chamava de "a quarta perna da
besta", o rockinho playboy do Raimundos e mais as centenas de cópias, todas produzidas pelo Miranda"), reclama da amante que
não compartilha de seu hábito de
ouvir Nine Inch Nails pela manhã
e ouve um desabafo do cantor
pernambucano Otto.
Antunes (com 41 anos, dois a
menos que Hornby) percorre, no
entanto, trilhas mais abrangentes
que o autor de "Alta Fidelidade",
como suas incursões pela rua Augusta, seus relacionamentos com
prostitutas e experiências místicas em rituais neoxamânicos ("Lilith" é escrito em "parceria" com
Sish, uma espécie de alter ego feminino de Antunes).
A "batalha", entretanto, é muito
parecida. Tudo para tentar responder ao eterno dilema freudiano (o que, afinal, as mulheres querem?), entre uma música de Serge
Gainsbourg e uma sessão de algum filme de David Lynch.
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