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CINEMA/ESTRÉIAS
"PARQUE DOS DINOSSAUROS 3"
No terceiro longa da série, Spielberg deixa a direção com Joe Johnston, mas pouco muda
Agradável, filme perde em originalidade
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
"Parque dos Dinossauros"
é, em princípio, uma série
sobre a evolução das espécies.
Ali, desde o primeiro exemplar,
rodado em 1993, confronta-se
aquilo que melhor representa a
plena força bruta em matéria de
vida animal, o dinossauro, com a
espécie racional por excelência, o
homem.
A questão proposta é: em caso
de ressurgimento do dinossauro,
qual deles se mostrará mais apto a
sobreviver?
Estamos, portanto, numa reflexão de natureza darwinista. O
progresso da ciência nos leva a
reencontrar os dinossauros. Mas,
uma vez ressuscitados, esses animais põem no mínimo em risco o
humano.
Nos anos 90, qualquer especialista em marketing diria: a finalidade de uma empresa é sobreviver. Vivíamos o auge do neoliberalismo, e a questão central da espécie, das nações, das empresas e
de cada um de nós, em particular,
era essa mesmo: sobreviver.
Sobrevivência na selva
Não é à toa que Steven Spielberg
foi logo atrás do romance de Michael Crichton e produziu um sucesso arrasador.
Spielberg tem um faro único para a sobrevivência na selva hollywoodiana. Ele parece encarnar esses dois opostos: a força bruta do
dinossauro (traduzida em seguidos blockbusters de êxito) e a máxima racionalidade -sua preocupação central é com a tecnologia e sua utilização.
Desta vez, Spielberg passou a direção de "Parque dos Dinossauros 3" às mãos de Joe Johnston.
Limitou-se a ser o produtor-executivo -é o que conta e o quanto
basta neste caso: a tocada continua a mesma.
Sam Neill (o professor Alan
Grant) volta à convivência com os
dinossauros ao ceder às promessas de fortuna com que lhe acena
um bilionário (William C. Macy).
Triunfo do capital sobre a ciência, mas só aparente. Na verdade,
o suposto ricaço que o suborna
não passa do dono de uma casa de
material de construção. Seu problema é reencontrar o filho, que
se perdeu numa ilha habitada pelos grandes monstros.
Questão um: saberá o menino
sobreviver na selva dos dinossauros? Ou seja, terá ele o grau de
evolução necessário para isso?
Questão dois: terão os demais
humanos inteligência, força e sorte para não sucumbir à provação
a que serão submetidos, presos na
ilha sem meios de fugir?
Mera questão familiar
As respostas poderiam ser
hawksianas (cineasta, por excelência, da evolução). Mas Spielberg e seus paus-mandados optam por lançar a questão -e com
ela uma interessante aventura- e
depois recuar de maneira meio
vergonhosa.
Tudo no fim das contas, à maneira bem spielberguiana (a sobrevivência em primeiro lugar),
termina por se resumir a uma
questão familiar.
Tanto entre humanos, o que
ainda é, ao menos, aceitável,
quanto entre dinossauros, o que
é, na verdade, ridículo.
Dito isso, o filme ainda tem sugestões que parecem vir de Crichton, embora este não assine o roteiro: a idéia de esgotamento da
aventura, que se transforma, com
o tempo, em turismo, por exemplo, já estava em seu belo filme,
"Westworld - Onde Ninguém
Tem Alma".
Como de costume no cinema
spielberguiano, as boas idéias servem de esteio a shows técnicos
impecáveis.
Eles resultam, no fim das contas, em um espetáculo agradável,
embora sem a originalidade do
primeiro (em que as barragens
humanas eram postas à prova e
destruídas sistematicamente pelos dinossauros).
Agradável, mas não memorável, "Parque dos Dinossauros 3"
está no lucro em relação à média
da produção atual.
Parque dos Dinossauros 3
Jurassic Park 3
Direção: Joe Johnston
Produção: EUA, 2001
Com: Téa Leoni, Sam Neill, William H.
Macy
Quando: a partir de hoje nos cines
Anália Franco, Astor, Belas Artes, Center
Iguatemi, Ibirapuera, Lar Center e
circuito
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