São Paulo, sexta-feira, 20 de julho de 2001

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CINEMA/ESTRÉIAS

"PARQUE DOS DINOSSAUROS 3"

No terceiro longa da série, Spielberg deixa a direção com Joe Johnston, mas pouco muda

Agradável, filme perde em originalidade

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

"Parque dos Dinossauros" é, em princípio, uma série sobre a evolução das espécies.
Ali, desde o primeiro exemplar, rodado em 1993, confronta-se aquilo que melhor representa a plena força bruta em matéria de vida animal, o dinossauro, com a espécie racional por excelência, o homem.
A questão proposta é: em caso de ressurgimento do dinossauro, qual deles se mostrará mais apto a sobreviver?
Estamos, portanto, numa reflexão de natureza darwinista. O progresso da ciência nos leva a reencontrar os dinossauros. Mas, uma vez ressuscitados, esses animais põem no mínimo em risco o humano.
Nos anos 90, qualquer especialista em marketing diria: a finalidade de uma empresa é sobreviver. Vivíamos o auge do neoliberalismo, e a questão central da espécie, das nações, das empresas e de cada um de nós, em particular, era essa mesmo: sobreviver.

Sobrevivência na selva
Não é à toa que Steven Spielberg foi logo atrás do romance de Michael Crichton e produziu um sucesso arrasador.
Spielberg tem um faro único para a sobrevivência na selva hollywoodiana. Ele parece encarnar esses dois opostos: a força bruta do dinossauro (traduzida em seguidos blockbusters de êxito) e a máxima racionalidade -sua preocupação central é com a tecnologia e sua utilização.
Desta vez, Spielberg passou a direção de "Parque dos Dinossauros 3" às mãos de Joe Johnston. Limitou-se a ser o produtor-executivo -é o que conta e o quanto basta neste caso: a tocada continua a mesma.
Sam Neill (o professor Alan Grant) volta à convivência com os dinossauros ao ceder às promessas de fortuna com que lhe acena um bilionário (William C. Macy).
Triunfo do capital sobre a ciência, mas só aparente. Na verdade, o suposto ricaço que o suborna não passa do dono de uma casa de material de construção. Seu problema é reencontrar o filho, que se perdeu numa ilha habitada pelos grandes monstros.
Questão um: saberá o menino sobreviver na selva dos dinossauros? Ou seja, terá ele o grau de evolução necessário para isso?
Questão dois: terão os demais humanos inteligência, força e sorte para não sucumbir à provação a que serão submetidos, presos na ilha sem meios de fugir?

Mera questão familiar
As respostas poderiam ser hawksianas (cineasta, por excelência, da evolução). Mas Spielberg e seus paus-mandados optam por lançar a questão -e com ela uma interessante aventura- e depois recuar de maneira meio vergonhosa.
Tudo no fim das contas, à maneira bem spielberguiana (a sobrevivência em primeiro lugar), termina por se resumir a uma questão familiar.
Tanto entre humanos, o que ainda é, ao menos, aceitável, quanto entre dinossauros, o que é, na verdade, ridículo.
Dito isso, o filme ainda tem sugestões que parecem vir de Crichton, embora este não assine o roteiro: a idéia de esgotamento da aventura, que se transforma, com o tempo, em turismo, por exemplo, já estava em seu belo filme, "Westworld - Onde Ninguém Tem Alma".
Como de costume no cinema spielberguiano, as boas idéias servem de esteio a shows técnicos impecáveis.
Eles resultam, no fim das contas, em um espetáculo agradável, embora sem a originalidade do primeiro (em que as barragens humanas eram postas à prova e destruídas sistematicamente pelos dinossauros).
Agradável, mas não memorável, "Parque dos Dinossauros 3" está no lucro em relação à média da produção atual.


Parque dos Dinossauros 3
Jurassic Park 3
   
Direção: Joe Johnston
Produção: EUA, 2001
Com: Téa Leoni, Sam Neill, William H. Macy
Quando: a partir de hoje nos cines Anália Franco, Astor, Belas Artes, Center Iguatemi, Ibirapuera, Lar Center e circuito




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