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SÃO PAULO FASHION WEEK
Forum coloca o Carnaval na passarela e Alexandre Herchcovitch brinca com cores e leveza
Evento põe moda brasileira em discussão
ERIKA PALOMINO
COLUNISTA DA FOLHA
Um comentário muito comum entre pessoas de fora
da moda e espectadores em geral
é: por que os estilistas fazem aquelas imagens na passarela, que nada têm a ver com a vida real? Ou:
você usaria aquelas roupas que
são mostradas nos desfiles? O desfile da Forum, na noite de anteontem na São Paulo Fashion Week, é
bom tópico para essa discussão.
As modelos entraram na passarela com esplendores e adereços de
Carnaval, muitos emprestados de
famosas madrinhas de baterias.
A coleção, bem comercial, como pede uma marca difusora de
tendência, tinha como tema o
Carnaval em si, e os detalhes de
calças e tops vinham do desenho
das roupas das passistas.
Então, o resultado do desfile era
uma verdadeira escola de samba,
com trilha sonora de baticum e
Olodum. Performático, teatral,
absurdo. Mas no ponto certo. E
olha que esse ponto não era fácil
de atingir.
Não foi a primeira vez que Tufi
Duek trabalhou com motivos
"brasileiros". Foi o primeiro a
acionar temáticas nacionais, em
94, quando isso ainda era considerado cafona e fora de propósito.
Colonizados, nos acostumamos
desde cedo com a idéia de que o
que vem de fora é melhor -em
especial de Paris, uma herança
cultural tão consolidada que dura
até hoje.
Claro que os elementos da cultura popular brasileira sempre estiveram aí para quem quisesse
ver. Mas o fato de uma grande
marca (de jeanswear, sempre vale
lembrar) acioná-los é que está a
história. Como escreveu a historiadora de moda Anne Hollander,
os momentos de virada da moda
estão não em o que se usa, mas
quem usa.
A partir do advento de Gisele
Bündchen, também vale a pena
recordar, vem crescendo o orgulho fashion brasileiro, num processo que alcançou um ápice em
2000, no momento batizado "euforia brasileira", quando a chegada da primeira delegação de jornalistas internacionais reforçou
os temas nacionalistas entre os
criadores. Depois da Copa do
Mundo, a moda brasileira ganha
novo fôlego.
O acerto da marca de Tufi Duek
foi na embalagem. Assim, com
sua moda comercial de sempre,
seus tops de patricinha, calças palazzo, vestidinhos de festa, brilhos
aqui e ali, ele prova que conhece
como ninguém sua consumidora
(o primeiro passo para o sucesso).
Fez, mais do que uma bela coleção, um desfile histórico que ficará na lembrança de todos, criando
-algo que a Forum não conseguia há tempos- imagens de
moda. Vai vender.
E ter algumas das mulheres
mais lindas do planeta com sumários trajes de Carnaval é sonho para qualquer carnavalesco -e a
prova era o rosto embevecido de
Joãosinho Trinta durante todo o
desfile. Tufi Duek foi inteligente.
Fez falta o masculino, teria sido
gostoso ver esse approach nos homens da grife, e seria bem legal
também ver algumas t-shirts com
estampas de Carnaval.
A moda brasileira de fato não
está na temática, mas no olhar.
Prova disso são os melhores momentos da Rosa Chá (nas estampas de índios e no design diferenciado, sem os exageros ufanistas)
e da singeleza da Água de Coco,
na sensacional leitura do estilista
André Lima, que transita com facilidade nos materiais manufaturados, sensualidade latina e acessórios.
E se moda é alienação, Alexandre Herchcovitch é seu maior
mestre. Em seu excepcional desfile, ele brinca com cores e a leveza
dos elementos infantis, provando
um domínio de imagem e do vocabulário de moda que poucos
têm. Ele completa 31 anos amanhã, como o grande embaixador
do design brasileiro. Sem precisar de verde e amarelo.
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