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"EMPRESTA-ME TEUS OLHOS"
Montagem do Quasar é um ensaio sobre a visão
INÊS BOGÉA
CRÍTICA DA FOLHA
"E mpresta-me teus olhos", pede o coreógrafo Henrique Rodovalho, perambulando
em dança, seja pelas ruas inóspitas de uma grande cidade, seja por
uma comunidade de idosos, simbólica e literalmente nomeada Vila Vida. O chamado fica no limite
do sentimental, mas a dança é um
lastro e tanto para o novo espetáculo apresentado anteontem no
Sesc Vila Mariana.
Na primeira parte, vídeos registram estranheza ou indiferença,
na vida urbana de Goiânia (sede
do grupo), provocadas "ao vivo"
por bailarinos, que também dançam, realmente ao vivo, no palco,
em contraponto com os filmes.
São várias cenas de uma dança
forte, com movimentos arrojados, no limite dos corpos. Por
exemplo: um duo de homens desafia a gravidade com seus giros e
apoios. Lançam-se no espaço
criando um campo de tensão, que
se suaviza no encontro dos dois:
seu emblema é um abraço infinito. Nas imagens intermitentemente projetadas do vídeo-cenário, esse abraço causa incômodo e
modifica o ambiente da rua.
A construção coreográfica é
inovadora e marcante, nos gestos
e nas sequências de passos. O
princípio do "sampler" (módulo
repetido), que organiza a trilha
eletrônica -amplificada no limite da agressão-, serve também,
nalguma medida, à dança. Falta
alguma coisa na relação espacial
dos corpos? Talvez. A violência da
música é barata? Com certeza; e
alguém dirá que é intencional.
No cenário inicial, painéis de vidro e blocos brancos empilhados,
criando reflexos e/ou transparências para os corpos e servindo como telas de projeção. Na segunda
parte, a projeção é feita de modo
"caseiro", com bailarinos esticando um pano branco e posicionando o projetor -ritual repetido
muitas vezes, dramatizando outro teatro de redundâncias.
São depoimentos de idosos,
moradores da Vila Vida; e o engajamento emocional desses homens e mulheres contrasta com a
frieza dos mortos-vivos de antes.
É pelos olhos deles que Rodovalho quer ver, agora, o mundo. E o
mundo é visto na perspectiva realista e humana da morte. O que
não elimina o risco da emotividade fácil. Traduzida em dança, leva
a uma simplificação dos gestos.
O gesto final não tem nada de
simples: corpos seminus, sentados de costas para a platéia, como
uma dezena de Ingres, encarnando vida e morte nas formas vivas e
mortas de uma obra que acaba.
Empresta-me Teus Olhos
Com: Quasar
Onde: teatro do Sesc Vila Mariana (r.
Pelotas, 141, SP, tel. 0/xx/11/5080-3000)
Quanto: de R$ 5 a R$ 15
Quando: hoje, às 21h, e amanhã, às 18h
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