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VÍDEO LANÇAMENTOS
Imagens do inconsciente marcam "surrealistas'
Cenas de "La Coquille et le Clergyman", dirigido por Germaine Dulac
"Um Cão Andaluz", de 1928, realizado por Luis Buñuel e Salvador Dalí
INÁCIO ARAUJO
Crítico de Cinema
Pode-se usar o nome vanguarda,
mas também "avant garde" -como ficou conhecido o movimento
cinematográfico francês dos anos
20-, pode-se falar em surrealismo e dadaísmo ou mesmo em cinepoemas.
O certo é que os filmes da caixa
com cinco fitas -que a Continental Home Video está lançando
com um ciclo no MIS, entre 23 e 26
de julho- são preciosidades que
representam bem o profundo envolvimento dos intelectuais franceses com o cinema naquele período.
Foi um momento dominado pelo surrealismo, um movimento
que, em linhas gerais, buscava
romper com a dicotomia entre a
vida e a criação artística do academismo.
Na prática, isso significava encontrar maneiras de ampliar o repertório de situações dramáticas
ou poéticas. E, nesse sentido, o
surrealismo tentou quase tudo: a
magia, a psicanálise, a arte africana, o marxismo. Por que não o cinema?
Vale esclarecer que, embora o
grupo surrealista fosse um círculo
restrito, sua influência pôde ser
detectada bem além de suas fronteiras. Assim, não é de espantar
que o pintor Fernand Léger seja
incluído nessa caixa de vídeos ao
lado do poeta Jean Cocteau, ou de
Luís Buñuel -este sim um cineasta efetivamente ligado ao surrealismo.
Naquele momento, todos procuravam agregar o cinema ao conjunto das velhas artes. Assim como outros cineastas não ligados
ao movimento (caso de Germaine
Dulac), buscava-se o "cinema puro", não narrativo e não verbal.
Obviamente, os resultados são
muito diferentes, quando não discrepantes, a começar dos dois trabalhos inaugurais de Buñuel,
"Um Cão Andaluz" e "L'Âge
d'Or".
O "Cão" celebrizou-se pela (até
hoje) mais violenta imagem da
história do cinema: a do olho cortado em dois por uma navalha.
Uma imagem concebida ao revés
dos demais filmes, pois não se tratava de agradar aos espectadores,
mas de incomodá-los.
O problema do filme (que a Continental lança com duas sonorizações: uma de 1960, que seguia a
feita originalmente por discos pelo
cineasta, na primeira exibição desse trabalho, em 1928, e uma de
1983) talvez esteja na concepção
dupla, de Buñuel e Salvador Dalí,
conforme aponta Ado Kyrou, estudioso da obra do cineasta.
Já "L'Âge d'Or" é, segundo
Kyrou, um filme inteiramente de
Buñuel, apesar de o nome de Dalí
constar dos créditos. Também é
um filme muito mais orgânico,
centrado na luta entre o desejo e a
repressão, além de marcado pelo
evidente anticlericalismo (sua
imagem mais clássica é a das ossadas de bispos num rochedo). Um
Buñuel vivo, em suma, o que não
se pode dizer tão facilmente de
"Um Cão Andaluz"
De todos os não-cineastas incluídos na série da Continental, o
mais cineasta foi, evidentemente,
Jean Cocteau, de quem estão sendo lançados "O Sangue de um
Poeta" (1930) e "Orfeu" (1950)
-este último fora da caixa.
São dois trabalhos bem diferentes. O primeiro, com imagética
solta, de inspiração surrealista
(embora o grupo não o apreciasse), ainda partilha da idéia de cinema puro, corrente nos anos 20.
O segundo, uma versão moderna do mito grego de "Orfeu", influenciaria muito mais a nouvelle
vague, pela liberdade com que tratava o cinema (num momento em
que outro academismo, o cinema
da "qualidade francesa") se impunha. Em ambos, um tema recorrente, o da morte.
Embora significativos, os filmes
de inspiração surrealista de certa
forma compuseram um veio marginal na arte dos anos 20 e início
dos 30. As idéias de "cinema puro", de qualidades específicas da
imagem.
A idéia central era buscar um tipo de cinema que não se apoiasse
no teatro ou no romance do século
19 -ao contrário do cinema corrente, sobretudo hollywoodiano.
A dúvida que fica, ainda hoje, é se
não estaria havendo uma acaparação do cinema por artistas -isto
é, não o encontro da suposta pureza, mas uma outra forma de impureza.
É a esse tipo de dúvida que Antonin Artaud procurará responder.
Caixa: O Surrealismo e o Dadaísmo no
Cinema (O Cão Andaluz, L'Age d'Or,
Antologia Surrealista 1, Antologia
Surrealista 2, O Sangue de um Poeta), e
Orfeu
Lançamento: Continental (011/283-5255)
Quanto: R$ 120 (a caixa), R$ 49 (cada fita)
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