São Paulo, sexta-feira, 20 de agosto de 2004

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PRÊMIO

Relação entre poesia e história marcam entrega do troféu, em São Paulo

Juca Pato é entregue a Costa e Silva

LUCIANA ARAUJO
DA REDAÇÃO

O escritor, acadêmico e diplomata Alberto da Costa e Silva, 73, recebeu na noite de anteontem, na Academia Paulista de Letras (APL), em São Paulo, o troféu Juca Pato - Prêmio Intelectual do Ano. O concurso, que é promovido pela União Brasileira de Escritores (UBE) e tem patrocínio da Folha, foi criado em 1962 por Marcos Rey (1925-1999), então vice-presidente da UBE.
"É com remorso e grande alegria que recebo o prêmio. Afinal, ele tem uma tradição de ser dado a figuras expressivas da cultura brasileira", brincou Costa e Silva.
O diplomata foi premiado graças ao livro "Um Rio Chamado Atlântico" (Nova Fronteira -2003), no qual foram reunidos 16 ensaios que tratam das relações entre Brasil e África.
"O mérito da obra é de chamar atenção para conexões íntimas entre o país e o continente, para além da escravidão", disse ele, que foi embaixador em países como Nigéria e Benin.
Participaram da mesa de homenagem, a escritora Lygia Fagundes Telles, da Academia Brasileira de Letras (ABL), o vice-governador do Estado de São Paulo, Cláudio Lembo, os presidentes, da UBE, Levi Bucalem Ferrari, e da APL, Erwin Theodor Rosenthal, Carlos Heitor Cony, escritor e colunista da Folha, além do vencedor da edição anterior, o poeta e ensaísta Gilberto Mendonça Teles, que entregou o prêmio a Costa e Silva.
Os presentes foram unânimes ao afirmar que o livro se torna uma referência para estudos sobre as relações afro-brasileiras.
Cony saudou o ângulo abordado pelo acadêmico: "Quando o brasileiro está em Portugal ele pensa "estou perto da Europa". Costa e Silva não olhou para cima. Olhou para baixo, como fez Vasco da Gama e Camões".
Mendonça Teles, que trouxe seu discurso escrito sob o título "A Vitória da Poesia", ressaltou o perfil da obra do homenageado. Trata-se do fruto de uma "tensão permanente entre a utopia do escritor e a realidade do diplomata".
O próprio Costa e Silva explica a dualidade apontada por Teles. Segundo ele, seu título "Um Rio Chamado Atlântico" já revela como o poeta amplia a percepção do historiador na tarefa de restaurar o passado. Ao utilizar essa imagem, o autor trava "um diálogo multisecular entre as duas margens do atlântico". Pela metáfora do rio, o oceano deixa de ser visto como um fator de distanciamento, já que seria possível enxergar "a outra margem".


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