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TEATRO
Fringe vai até o fim do mês na capital escocesa, reunindo mais de 600 grupos, inclusive dois do Brasil
Edimburgo destaca o novo teatro russo
NELSON DE SÁ
enviado especial a Edimburgo
O Edimburgo Fringe, maior festival de teatro no mundo, já tem
os seus primeiros premiados,
com destaque para dois espetáculos de São Petersburgo, a capital
do novo teatro russo.
A seleção é feita pelo principal
jornal da Escócia, "The Scotsman", que reúne todo ano uma
dezena de críticos para ver quase
todas as peças do Fringe -este
ano são mais de 600 grupos diferentes, em três semanas.
Outra seleção, esta informal, foi
divulgada pelo jornal londrino
"The Guardian", com destaque
para a companhia inglesa The
Right Size, com "Do You Come
Here Often?".
Os dois espetáculos russos são
próximos, na forma. Em "Fantasia", até o momento a peça mais
marcante do festival, "seis personagens em busca de vento" apresentam quadro sobre quadro sem
palavras, com temas distintos.
No primeiro, tentam fazer subir
uma pipa -sem vento. A alegoria, que serve para o espetáculo
como para a própria existência,
passa daí para cenas tiradas do
nada, do vento, como no corte de
cabelo (todo de frutas) de uma
mulher e na apresentação desastrosa de um mágico.
No fim, os seis personagens
conseguem, de fato, empinar as
pipas sem vento, numa das muitas imagens tocantes da peça. A
companhia Farces, de "Fantasia",
é o retrato de um novo teatro russo marcado pelo que seu programa chama de "clownade" -de
clown ou palhaço em inglês.
A outra peça de São São Petersburgo, "Hopeless Games" ou jogos sem esperança, não é diferente, embora com acento também
na chamada "nova dança".
São cinco personagens em longos casacos escuros, carregando
velhas malas de viagem, esquecidos numa estação de trem desativada. Imagens que reportam aos
horrores do século 20 na Europa
oriental, mas que encontram um
mundo oculto de paixões, brigas e
brincadeira. Perdida num teatro
distante do centro de Edimburgo,
com apresentações às 23h, "Hopeless Games" é uma das maiores
revelações da mostra.
Não se pode descrever assim a
dupla inglesa The Right Size. "Do
You Come Here Often?" é mais
uma na sequência de comédias
aclamadas, todas elas "clownescas", de Sean Foley e Hamish
McColl -que fizeram os clowns
brechtianos de "Sr. Puntila e seu
Criado Matti", êxito de público e
crítica em 98, em Londres.
Em Edimburgo, agora, interpretam dois homens presos num
banheiro e obrigados a conviver
por décadas. Os quadros lúdicos,
criados como em "Fantasia", a
partir do nada, formam um vaudeville minimalista que faz lembrar Samuel Beckett.
Em outra linha inteiramente,
dois espetáculos mais tradicionais, um americano, outro inglês,
também venceram o Fringe First
-como é intitulada a premiação
do "Scotsman".
"Nixon's Nixon", de Russel
Lees, é uma obra de ficção criada
em cima da conversa de horas que
o presidente Richard Nixon e seu
secretário de Estado, Henry Kissinger, tiveram na noite anterior à
renúncia do primeiro, 25 anos
atrás. Não há registro oficial do
que ambos falaram, e o autor faz
do encontro um embate entre os
dois personagens históricos -e
entre os atores.
Eles trocam agressões, rancores
e recriminações, mas também
amizade e até piadas: bebendo
muito, imitam Mao, Brejnev e outros líderes com os quais decidiram ações como o fim da guerra
do Vietnã e a aproximação com a
China. O ritmo do texto e das interpretações é violento.
A peça inglesa, intitulada "Car"
ou carro, de Chris O'Connel, segue a linha temática de textos como "Shopping and Fucking". Retrata uma juventude londrina de
drogas, desesperança e desemprego. O furto de um carro detona acontecimentos que levam à
morte dos quatro jovens.
A peça está mais para o drama e
não tem a pungência cômica de
"Shopping" nem a precisão formal de "The Beauty Queen of Leenane", deixando a sensação de
que a nova dramaturgia inglesa já
começa a perder fôlego.
O jornalista Nelson de Sá viajou a Edimburgo
a convite da Cultura Inglesa
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