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Óperas breves falam de amor na era do telefone
Banda Sinfônica faz 2 estréias no Teatro São Pedro
IRINEU FRANCO PERPETUO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Na primeira parte, uma mulher angustiada espera, em vão,
pelo telefonema do amante. Na
segunda, um rapaz vai à casa da
noiva para resolver um assunto
importante, mas é atrapalhado
pelo aparelho dela, que, a tocar
constantemente, o impede de
falar.
Sob regência de Abel Rocha
-que transcreveu as partituras
para sua formação peculiar,
com numerosos instrumentos
de sopro e cordas restritas aos
contrabaixos-, a Banda Sinfônica do Estado de São Paulo
apresenta hoje, no Teatro São
Pedro, duas óperas breves, focadas no telefone.
A primeira é a trágica "A Voz
Humana" (1959), do francês
Francis Poulenc (1899-1963),
com libreto de Jean Cocteau
(1889-1963), e a segunda, a cômica "O Telefone" (1950), do
norte-americano Gian Carlo
Menotti (1911-2007).
"O tema da relação entre a
tecnologia e nossa impossibilidade de comunicação é muito
moderno", diz Rocha. "Vivemos em uma época em que as
pessoas mandam e-mail para
quem está na mesa ao lado, no
escritório, ou mensagem de
SMS para quem está sentado à
sua frente, no restaurante."
Dono de cinco aparelhos, entre celulares e fixos (alguns dos
quais deverão aparecer em cena durante o espetáculo), o diretor cênico Caetano Vilela
ambientou "A Voz Humana" na
década de 1930, mas trouxe "O
Telefone" para os tempos de
hoje, colocando em cena os
meios mais atuais de comunicação, como telefonia móvel e
e-mail, transformando Lucy, a
protagonista do espetáculo, em
uma editora de revista de moda, declaradamente inspirada
na personagem principal do filme "O Diabo Veste Prada", interpretada por Meryl Streep.
"O telefone aproxima quem
está distante, mas pode afastar
quem está próximo", filosofa a
soprano Rosana Lamosa, que
contracena na ópera de Menotti com o barítono Leonardo
Neiva, e afirma ter uma relação
de "amor e ódio" com as novas
tecnologias.
Na primeira parte, Vilela caracteriza a protagonista de "A
Voz Humana", vivida por Celine Imbert, como uma cantora
de cabaré. Por isso, antes de começar a ópera de Poulenc, Imbert canta, na orquestração de
André Mehmari, duas canções
do repertório de Edith Piaf
(1915-1963). "Eu queria que essa personagem tivesse um antes, uma história anterior a esse
telefonema que ela espera, e
que não chega nunca", explica o
diretor.
"Esse personagem é muito
feminino; todas as mulheres já
aguardaram indefinidamente
uma chamada que jamais ocorreu", diz Imbert, que já cantou
o monólogo de Poulenc por
duas vezes em São Paulo (1987
e 1999), e uma outra no Festival
Amazonas de ópera, em Manaus (2000).
A VOZ HUMANA / O TELEFONE
Onde: Teatro São Pedro (r. Barra
Funda, 171, SP, tel. 0/xx/11/3667-0499)
Quando: hoje e sáb., às 21h; dom., 17h
Quanto: de R$ 18 a R$ 40
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