São Paulo, quinta-feira, 20 de setembro de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Óperas breves falam de amor na era do telefone

Banda Sinfônica faz 2 estréias no Teatro São Pedro

IRINEU FRANCO PERPETUO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Na primeira parte, uma mulher angustiada espera, em vão, pelo telefonema do amante. Na segunda, um rapaz vai à casa da noiva para resolver um assunto importante, mas é atrapalhado pelo aparelho dela, que, a tocar constantemente, o impede de falar.
Sob regência de Abel Rocha -que transcreveu as partituras para sua formação peculiar, com numerosos instrumentos de sopro e cordas restritas aos contrabaixos-, a Banda Sinfônica do Estado de São Paulo apresenta hoje, no Teatro São Pedro, duas óperas breves, focadas no telefone.
A primeira é a trágica "A Voz Humana" (1959), do francês Francis Poulenc (1899-1963), com libreto de Jean Cocteau (1889-1963), e a segunda, a cômica "O Telefone" (1950), do norte-americano Gian Carlo Menotti (1911-2007).
"O tema da relação entre a tecnologia e nossa impossibilidade de comunicação é muito moderno", diz Rocha. "Vivemos em uma época em que as pessoas mandam e-mail para quem está na mesa ao lado, no escritório, ou mensagem de SMS para quem está sentado à sua frente, no restaurante."
Dono de cinco aparelhos, entre celulares e fixos (alguns dos quais deverão aparecer em cena durante o espetáculo), o diretor cênico Caetano Vilela ambientou "A Voz Humana" na década de 1930, mas trouxe "O Telefone" para os tempos de hoje, colocando em cena os meios mais atuais de comunicação, como telefonia móvel e e-mail, transformando Lucy, a protagonista do espetáculo, em uma editora de revista de moda, declaradamente inspirada na personagem principal do filme "O Diabo Veste Prada", interpretada por Meryl Streep.
"O telefone aproxima quem está distante, mas pode afastar quem está próximo", filosofa a soprano Rosana Lamosa, que contracena na ópera de Menotti com o barítono Leonardo Neiva, e afirma ter uma relação de "amor e ódio" com as novas tecnologias.
Na primeira parte, Vilela caracteriza a protagonista de "A Voz Humana", vivida por Celine Imbert, como uma cantora de cabaré. Por isso, antes de começar a ópera de Poulenc, Imbert canta, na orquestração de André Mehmari, duas canções do repertório de Edith Piaf (1915-1963). "Eu queria que essa personagem tivesse um antes, uma história anterior a esse telefonema que ela espera, e que não chega nunca", explica o diretor.
"Esse personagem é muito feminino; todas as mulheres já aguardaram indefinidamente uma chamada que jamais ocorreu", diz Imbert, que já cantou o monólogo de Poulenc por duas vezes em São Paulo (1987 e 1999), e uma outra no Festival Amazonas de ópera, em Manaus (2000).


A VOZ HUMANA / O TELEFONE
Onde:
Teatro São Pedro (r. Barra Funda, 171, SP, tel. 0/xx/11/3667-0499)
Quando: hoje e sáb., às 21h; dom., 17h
Quanto: de R$ 18 a R$ 40


Texto Anterior: Crítica/música: Peyroux faz show gentil, mas não é diva, muito menos do jazz
Próximo Texto: Música: Bandas suecas invadem Studio SP hoje e sexta
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.