São Paulo, domingo, 20 de setembro de 2009

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ANÁLISE

ETs ocupam nosso imaginário desde os anos 50

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

Se desde os tempos de Méliès os aliens frequentam as telas de cinema, é a partir dos anos 50 que passaram a ocupar nosso imaginário. Os de Méliès, os selenitas de "Viagem à Lua" (1902), podem ser vistos como nativos invadidos por alguma incursão colonial europeia.
Os aliens dos anos 50 representam, ao contrário, uma ameaça. Quando pensamos em "Vampiros de Almas" (1956), de Don Siegel, os comunistas tornam-se referência obrigatória daquele momento de Guerra Fria. E esses aliens são insidiosos já que ali é a ideia de lavagem cerebral que se desenvolve: corpos humanos são trocados por outros, idênticos porém sem alma, sem reação.
Já "O Dia em que a Terra Parou" (1951), de Robert Wise, propõe a vinda entre nós de seres espaciais dispostos a trazer a paz. É a resposta liberal à paranoia da Guerra Fria, mas não tem o mesmo peso.
Na década seguinte, a de 60, o cinema viu no homem alguém capaz de fabricar seu próprio outro, isto é, o seu alien. Ele se chamou Alpha 60, no "Alphaville" (1965), de Godard, ou HAL 9000, no "2001 - Uma Odisseia no Espaço" (1968) de Kubrick.
Desde então, os alienígenas tornaram-se seres de convívio quase corrente no cinema. Podiam ser ameaçadores como os de "Alien" (1979), simpáticos e frágeis como o "E.T." (1982) de Spielberg ou ainda uma variante dos criminosos românticos, caso de "Starman - O Homem das Estrelas" (1984), de John Carpenter. O mesmo Carpenter, aliás, dirigiu o notável "Eles Vivem!" (1988), com descobertas surpreendentes a respeito de aliens.
Quase chegando ao século 21, outro filme notável, "Tropas Estelares" (1997), de Paul Verhoeven, apresentava-nos o mundo globalizado, onde ETs se pareciam muito conosco, os do Terceiro ou Quarto Mundo.
"Distrito 9" faz de seus aliens favelados. A experiência do apartheid é fundamental: o alien é esse outro sempre desprezado e, não obstante, ameaçador, bode expiatório dos humanos. Esses aliens, vistos como culpados por sua condição, lembram os negros do apartheid, os judeus dos guetos nazistas, ou, ainda, os pobres brasileiros, que as polícias tratam com a crueldade que, no filme, reserva-se aos não-humanos.


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