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Comentário
Filme poderia se passar na favela de Heliópolis
ANDRÉ FORASTIERI
ESPECIAL PARA A FOLHA
Quer ver um drama político
eletrizante? "Distrito 9" agarra
pelo estômago. Seu tema central é o drama dos refugiados.
Mas a dor da separação, do isolamento do lar, é muito mais
próxima do nosso cotidiano do
que qualquer documentário sobre Darfur. Porque o personagem principal é um homem comum, gente como a gente -o
funcionário boa-praça encarregado de transferir 1,8 milhão de
refugiados de um gueto a outro.
E porque os refugiados são
alienígenas. Do espaço sideral.
Demorou para alguém fazer a
conexão: um filme de ficção
científica em que os ETs são
tratados como latinos nos EUA,
africanos na Europa ou favelados no Brasil. Havia um precedente, o filme e seriado "Nação
Alien". Mas esses alienígenas
eram de classe média e humanóides. Os de "Distrito 9" são
miseráveis e repugnantes. Salto natural para um diretor sul-africano, Neill Blomkamp, que
se inspirou em um evento
acontecido na Cidade do Cabo
na época do apartheid, em um
bairro chamado... Distrito 6.
Blomkamp costura a narrativa com entrevistas em estilo
documentário, ação violentíssima, diálogos tocantes e locações nas quebradas de Johannesburgo.
Inspira-se na melhor
ficção científica de sua adolescência -"A Mosca", "Robocop", "Aliens". E os efeitos especiais não fazem feio.
O sucesso surpreende porque "Distrito 9" não é fácil de
assistir. Blomkamp não alivia a
pressão um minuto. E os atores
são desconhecidos. Ou eram. A
performance do protagonista
Sharlto Copley é tão emocionante que ele foi recrutado para "Esquadrão Classe A". Mais
surpresa: foi o primeiro trabalho de Copley, velho amigo do
diretor, como ator.
Vem aí continuações de "Distrito 9". Serão bem-vindas. Sem
sermões, ele trata de como desumanizamos, por atos e omissões, aqueles a quem desejamos oprimir. É sobre a Johannesburgo verdadeira, sobre a
favela de Heliópolis e a faixa de
Gaza. Os alienígenas, de perto,
somos nós.
ANDRÉ FORASTIERI é diretor editorial da Tambor Digital
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