São Paulo, domingo, 20 de setembro de 2009

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BIA ABRAMO

"Viver a Vida" promete ser mais arejada


Com limitações, mais variadas e sufocantes, Manoel Carlos poderá fazer uma boa novela


OUTRO DIA , esta coluna foi classificada como uma coluna que não "fala bem de nada", como se houvesse aqui, a priori, uma indisposição generalizada com tudo o que está acontecendo na TV. Ora, por mais que as impressões dos leitores pareçam, à primeira vista, imprecisas -justamente naquela semana havia na coluna uma avaliação um tanto entusiasmada de uma minissérie-, elas devem ser levadas em conta.
Então, hoje, para falar de "Viver a Vida" (Globo, 21h, não indicado para menores de 12 anos), tentemos ajustar o foco de uma disposição, digamos assim, mais prazenteira. Um possível método é o da comparação com aquilo que veio antes. Saem as dancinhas, os sáris e o túnel geográfico mágico entre a Índia e o Rio de Janeiro e entra em seu lugar o supermapeado Leblon de Manoel Carlos.
Desta vez, há também as praias de azuis e verdes intensos de Búzios, com seus ecos de balneário chique e de gente bonita, que remontam à sua "descoberta" por Brigitte Bardot nos anos 70. Portanto, a novela de Manoel Carlos promete ser, digamos, mais arejada do que "Caminho das Índias".
Outro método que pode conduzir a um olhar menos mal-humorado é considerar as limitações próprias do gênero. Ora, se há algo que esbarra o tempo todo em limitações é a novela, sobretudo nesse momento de sua história, em que um certo esgotamento se abate. As do horário mais nobre da Globo, então, sofrem ainda mais desgaste, justamente por serem o padrão a partir do qual se medem as novelas.
Então, temos de pensar que, dentro das variadíssimas e cada vez mais sufocantes limitações, "Viver a Vida" poderá ser uma boa novela. Há a vasta beleza e atuação segura de Taís Araújo, que faz a estreia da primeira Helena negra do extenso plantel de protagonistas do mesmo nome. Há um certo capricho do autor na construção de alguns tipos, o que permite alguns personagens simpáticos ou divertidos -a aposta da coluna, por enquanto, vai para a Ingrid de Natália do Valle.
Há também seu passo mais lento, pouco afeito a reviravoltas e às soluções mágicas de roteiro, que se não for estragado pela pressão de fazer subir a audiência, garante uma narrativa mais calma e contemplativa.
Por ora, é tudo o que dá para depreender dos primeiros capítulos da novela. Novela, como os vinhos, mesmo os maus, tem um tempo de maturação. E, novamente como os vinhos, sobretudo os maus, estraga fácil, fácil.

biabramo.tv@uol.com.br


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