São Paulo, Quarta-feira, 20 de Outubro de 1999
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DEBATE
Discussão se deu após exibição de "os Carvoeiros" em SP
Entidades adotam boicote e bolsa contra trabalho infantil

THIAGO STIVALETTI
free-lance para a Folha


O problema da mão-de-obra infantil dos carvoeiros do Mato Grosso do Sul, Amazônia, Pará e Minas Gerais está sendo combatido por governo e empresas privadas com a adoção de bolsas-trabalho para as famílias, a integração das crianças à escola e o boicote às empresas que utilizam menores de 18 anos.
Mas a questão esbarra em problemas como a itinerância das famílias -que se deslocam para regiões onde a madeira ainda não foi cortada e queimada- e a falta de recursos e de perspectivas de interrupção do ciclo de pobreza.
Essas foram as principais conclusões do debate que se seguiu à estréia mundial do documentário "Os Carvoeiros", do norte-americano Nigel Noble, anteontem, no Espaço Unibanco, em evento promovido pela Folha e 23ª Mostra de Cinema.
O filme busca a neutralidade ao mostrar o cotidiano dos carvoeiros a partir de seus próprios depoimentos. Baseado em ensaio do fotógrafo Marcos Prado, o trabalho rendeu ainda um livro sobre a produção do carvão.
"O documentário pretende fazer o espectador perceber que os carvoeiros fazem parte da nossa vida, porque o aço e o ferro-gusa são usados em carros, na rede de energia elétrica e até na cadeira em que sentamos", disse o produtor do filme, José Padilha.
Udo Bock, oficial de projetos do Unicef em São Paulo, disse que a entidade recebeu denúncias sobre crianças carvoeiras naqueles Estados em 94. "O Unicef costuma investir em capacitação, mas dessa vez optou pela bolsa-trabalho."
Sérgio Mindlin, presidente da Abrinq, disse que a fundação organizou 1.400 empresas no boicote às que usam mão-de-obra infantil. "Acredito que vamos resolver o problema por pressão externa, já que os EUA votam agora esse tipo de boicote no Senado."
Segundo Miguel Jorge, vice-presidente de assuntos corporativos da Volkswagen do Brasil, a automobilística cancelou o contrato de dois pequenos fornecedores que empregavam crianças. Wanda Engel Aduan, secretária de Assistência Social do governo FHC, afirmou que o programa federal colocou 330 mil crianças na escola e pretende colocar mais 530 mil. Para isso, está tomando um empréstimo de US$ 250 milhões do Banco Mundial.


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